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21 de Abril de 2006 às 13:59

A Europa à escoteiro de Baden Powell

Contudo, após as eleições de 2004, com a subida ao poder de Mahmoud Ahmadinejad, quase todas estas acções foram suspensas, unilateralmente, pelo regime iraniano e, desde aí, as declarações dos vários Conselhos da União Europeia têm-se sucedido, ....

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É confrangedor verificar que na escalada da crise iraniana que continua a todo o vapor no processo de enriquecimento de urânio, apenas contam alguns. Antes de mais, os Estados Unidos como cabeça de cartaz, na sua posição de falcão, que oscila entre salvador do mundo, da paz e da democracia, ou salvador do lobby armamentista, enquanto excelente dinamizador da economia interna. Depois, alguns países isolados como a China e a Rússia, embora escorados em organizações internacionais como a ONU e o seu Conselho de Segurança e, ainda, a parte institucional protagonizada pela Agência Internacional de Energia Atómica.

Caso para perguntar onde está a voz da União Europeia, agora com rosto nestas questões, no caso o de Javier Solana. Pode-se neste e em tantos outros conflitos abertos e perigosos, dizer-se que a Europa apenas se limita a alguns exercícios de diplomacia, decerto louváveis e, sobretudo, a despejar dinheiro em cima dos problemas.

Com efeito, na sequência da eleição do Presidente Khatami em Maio de 1997, foi estabelecido um diálogo sobre questões como o processo de paz no Médio Oriente, a não proliferação de armas de destruição maciça, direitos humanos e, ainda, o combate ao terrorismo. Noutra vertente, foram exploradas áreas de cooperação no âmbito da energia, comércio e investimentos, que desembocaram num acordo comercial, em meados de 2002, entre a União Europeia e o Irão.

Contudo, após as eleições de 2004, com a subida ao poder de Mahmoud Ahmadinejad, quase todas estas acções foram suspensas, unilateralmente, pelo regime iraniano e, desde aí, as declarações dos vários Conselhos da União Europeia têm-se sucedido, a revelar uma impotência quase patética, ou, numa versão mais positiva, na senda de uma boa acção diária, qual escoteiro de Baden Powell.

Senão vejamos as recentes conclusões obtidas no último Conselho de Assuntos Gerais que começam por se arrimar a outras do Board da Agência Internacional de Energia Atómica, que lamentam a falta de cooperação e que a secundam no sentido de envolver na resolução da crise o Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Não se trata de uma posição autónoma de uma Europa pujante a falar a uma só voz, mas antes de uma posição tímida e irritantemente frágil que apenas deplora as actividades de enriquecimento de urânio e constata o óbvio, ou seja, que se trata de um passo na direcção errada que não contribui para o retorno da confiança internacional que requer completa transparência e cooperação por parte do Irão.

A fragilidade de entendimento entre os Vinte e Cinco é de tal modo grande, que se continua a pugnar por uma solução diplomática, do tipo caritativo, de dar a outra face, ao apoiar-se o desenvolvimento de provas de não proliferação seguras e sustentáveis, para fins pacíficos, do programa civil nuclear iraniano , colando-se, mais uma vez, a posições como a da Rússia, cujos esforços apoia no sentido de uma joint venture de enriquecimento no território deste Estado.

Ora tudo isto é descabido face à escalada verbal e outra, de endurecimento de posições iranianas que nos deixa perplexos, na perspectiva de um qualquer holocausto, quiçá nuclear. Mas o que dá mesmo medo é que a Europa apenas tem para oferecer algum dinheiro, diplomacia e muito boas intenções que não se adequam, minimamente, à situação que parece derrapar para vias bélicas onde, uma vez mais, estaremos impotentes enquanto bloco geopolítico e orgulhosamente sós, e logo vulneráveis enquanto Estados.

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