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17 de Dezembro de 2007 às 13:59

À espera do Estado

Porque é que em Portugal, ao contrário do que é a tendência crescente nos EUA e em muitos países europeus, tão poucos empresários e quadros superiores se envolvem em directamente em actividades culturais ou de solidariedade social? Porque é que tão poucos

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Apesar do número de pessoas em instituições de solidariedade social ter aumentado nos últimos anos, Portugal continua a ser um dos países da União Europeia com menor nível de contribuições privadas e de trabalho voluntário. É também um dos países com maior nível de dependência dos apoios do Estado por parte da sociedade civil. É importante mudar esta situação.

A época de Natal assegura a maior fatia de contribuições privadas às instituições de solidariedade social, culturais ou de apoio ao desenvolvimento. As campanhas de Natal são essenciais para a sobrevivência de muitas destas instituições. No entanto, em média, estas campanhas e as doações ao longo do ano apenas cobrem 12% dos gastos das instituições do sector não lucrativo português. A maior fatia continua a ser assegurada pelos apoios estatais, que representam quase 50 % do total, chegando o restante via vendas e taxas.

Em muitas áreas, as instituições sem fins lucrativos desenvolvem um importante papel de assistência social, de apoio ao desenvolvimento ou a actividades culturais. E fazem-no com menores custos e maior qualidade que os serviços prestados pelo Estado neste âmbito. Estas actividades, complementares à acção do Estado, conseguem com poucos meios corrigir algumas das falhas e preencher alguns dos vazios deixados pela intervenção pública. Em Portugal os vazios são muitos e os meios que pomos ao serviço da sociedade civil muito escassos.

A situação portuguesa contrasta claramente com a dos países anglo-saxónicos, em que o nível de contribuições é muito mais elevado, o trabalho voluntário praticado por largas camadas da sociedade e a dependência estatal do sector não lucrativo bastante menor.

No Reino Unido, nos EUA e também na Alemanha ou na Suécia fazer trabalho voluntário ou participar em organizações de apoio ao desenvolvimento faz parte do trajecto académico de uma vasta fatia de estudantes universitários, e preenche os fins do dia, os fins-de-semana ou mesmo uma parte das férias de muitos trabalhadores. São países, onde as empresas estimulam este tipo de esforços e contribuições. E reconhecem a importância da experiência que o trabalho voluntário proporciona como um activo dos candidatos ao emprego, valorizando simultaneamente a confiança e o empenho dos colaboradores que fazem esforços para além do que lhes é exigido, ou da recompensa financeira imediata. São ainda países onde as empresas, os empresários e os trabalhadores mais bem remunerados se sentem responsáveis por dar algo de volta à sociedade, patrocinando actividades culturais, de investigação científica e de apoio social. Causas em que, de forma crescente, se envolvem directamente.

É uma cultura que valoriza a iniciativa da sociedade civil na resolução dos problemas. E que assume a responsabilidade de ter um papel na mudança do que pode ser melhorado, sem estar sempre à espera que seja o Estado trazer uma solução milagrosa. Uma cultura que tem cada vez mais adeptos em Portugal, nas ruas junto aos sem abrigo, nos quartéis de bombeiros, nos teatros, nas prisões, nos hospitais, nos orfanatos, e em tantas outras partes. Mas não tem ainda pessoas ou meios que cheguem.

Está nas nossas mão mudar esta situação. Contribuindo com dinheiro, não só no Natal, mas como um compromisso para o ano inteiro, e participando. Inclua na agenda do próximo ano oferecer uma parte do seu tempo, criatividade e capacidade de gestão para ajudar uma destas instituições. Estimule os seus filhos a fazê-lo e os seus colaboradores a passar por essa acção de formação. Vai ver que é um bom investimento.

Um amigo, que conheci numa actividade de trabalho voluntário da casa do Gaiato, pediu ao chefe com quem trabalhava uma licença sem vencimento para ir para São Tomé como voluntário dos Leigos para o Desenvolvimento. O chefe disse: “nem pensar”. Ele demitiu-se. O presidente da empresa quando soube do caso chamou-o e disse-lhe: “vá e quando voltar terá aqui o seu lugar. Esta empresa terá sempre as portas abertas a pessoas que não têm medo de correr riscos, de assumir iniciativa e de trabalhar com dedicação e altruísmo. O que precisávamos era de mais trabalhadores assim”.

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