Opinião
A eficiência do empreendedorismo social
Em Portugal, a expressão empreendedorismo era quase totalmente ignorada, até há poucos anos. Muitas pessoas tinham mesmo dúvidas quanto à sua redacção mais adequada.
Para nós, o empreendedorismo é um fenómeno do novo milénio, que se desenvolve num período difícil, de fraco crescimento económico e pessimismo dos mercados de capitais de todo o Mundo.
O crescimento económico devia assentar no dinamismo dos grupos económicos e das empresas – afinal o que se designa por intrapreneurship – dado que o desenvolvimento de negócios de raiz não conduziria facilmente à criação de grandes organizações. Mercados de capitais pouco desenvolvidos, com baixas expectativas de Ofertas Públicas Iniciais (admissão à cotação na Bolsa de Valores) dificultavam a criação de projectos ambiciosos e inovadores, com potencial de expansão.
A situação alterou-se radicalmente, existindo hoje uma convicção generalizada de que o empreendedorismo é a solução para todos os males - estagnação económica, falta de inovação, competitividade externa da economia portuguesa ou precariedade de emprego. Passou também a acreditar-se que o financiamento do empreendedorismo permitiria elevados retornos de capital, favorecendo o aparecimento de business angels e a criação de Sociedades de Capital de Risco pela generalidade dos grupos bancários activos em Portugal.
No entanto, é na esfera da criação de emprego que o empreendedorismo clássico, «com fins lucrativos», pode ser considerado mais insatisfatório. Os reduzidos recursos financeiros iniciais e a necessidade de minimização do risco levam os projectos iniciais a uma política de grande contenção de recrutamento de novos colaboradores. O auto-emprego e a multiplicação de pequenas unidades económicas pode carecer de um apoio específico, no âmbito do designado «empreendedorismo social». Por outro lado, as empresas com fins lucrativos, estabelecidas ou emergentes, podem não cobrir todas as áreas da necessidade social, nomeadamente as ligadas ao ambiente, saúde pública, educação (alfabetização, universidades da terceira idade, etc.), saúde, particularmente das camadas mais desfavorecidas, direitos judiciais das comunidades mais desfavorecidas, criação de oportunidades de grupos mais frágeis.
O problema da eficiência é, naturalmente, tão importante no empreendedorismo sociais como naquele que tem objectivos de rendibilidade. O princípio da afectação de recursos escassos a necessidades ilimitadas aplica-se igualmente a este sector de actividade. A capacidade de ter modelos de gestão eficiente, com tecnologia avançada e recursos humanos qualificados é igualmente importante neste sector, cuja capacidade de atracção de talentos tem vindo a crescer. Um exemplo interessante é dado pela «Teach for América» uma organização fundada em 1989 por Wendy Kopp que recruta recém-licenciados para dedicar os seus dois primeiros anos de actividade profissional ao ensino de crianças de famílias de baixo rendimento. Até ao ano passado, esta organização seleccionou apenas 14.000 de um total de 97.000 candidatos a colaborar na sua actividade.
Para muitos observadores, o problema crucial do empreendedorismo social é a permanente falta de recursos financeiros. Como sobreviver, para não falar da necessidade de competir por colaboradores qualificados com o sector privado quando os recursos são naturalmente escassos ou inexistentes? Também este problema, apesar de real, pode ser largamente ultrapassado. Não só as grandes fortunas - como foi recentemente documentado pelas iniciativas filantrópicas de Bill Gates e Warren Buffett, os dois maiores milionários do Mundo – como os cidadãos em geral sentem hoje maior impulso para contribuir para o apoio de causas sociais. É como se um fenómeno de competição pala generosidade percorresse as sociedades de forma cada vez mais intensa.
Naturalmente, os novos financiadores comportam-se como os accionistas de empresas cotadas em bolsa – procurando o máximo retorno (social) por cada euro investido. Por isso as melhores experiências de captação de fundos são as mais transparentes no que respeita à afectação de recursos e á medição dos resultados. Um exemplo interessante, é o da Oxfam, uma organização inglesa de enorme sucesso que divulgou um catálogo de Natal em que um donativo de 24 libras permitia comprar uma cabra para uma família africana e 720 forneciam água potável para 1000 pessoas. Este tipo de mensagem obtém um elevado reconhecimento por parte dos financiadores ou doadores de trabalho voluntário. Do mesmo modo os contribuintes milionários procuram medir o número de vidas salvas com uma campanha de prevenção da malária ou de inocentes resgatados da cadeira eléctrica após fornecimento de apoio jurídico adequado (fundação de George Soros).
O empreendedorismo social é ainda escasso em Portugal, apesar de ser fácil identificar numerosas causas que poderia servir. Desde logo, a erradicação do analfabetismo, um dos mais graves obstáculos ao desenvolvimento social e um peso que nos afunda nos rankings internacionais. Os empreendedores sociais terão muito a aprender com as experiências internacionais para obter resultados eficientes.