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29 de Maio de 2009 às 11:51

A campanha limpa

A Symantec informou-nos a todos recentemente que 90% dos e-mails que recebemos são spam. É um aviso que é de agradecer, claro, só não percebo como é que é apresentado com este ar de grande novidade. Qualquer um que...

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A Symantec informou-nos a todos recentemente que 90% dos e-mails que recebemos são spam. É um aviso que é de agradecer, claro, só não percebo como é que é apresentado com este ar de grande novidade. Qualquer um que utilize regularmente o correio electrónico acorda de manhã com 50 ofertas de viagra a baixo custo e vinte pedidos de certificação de contas bancárias desde o Brasil ao Bangladesh, e tem apelos de descendentes de Mobutu, de Kabila ou de ricas famílias nigerianas, que têm algumas centenas de milhões de dólares "presos" nos respectivos países e que estão dispostos a partilhar com qualquer alma nobre que queira participar nessa igualmente nobre tarefa de os recuperar evidentemente mediante um pequeno contributo pecuniário inicial que eles, coitados, despojados que foram, não têm dinheiro para adiantar. Parece nobre, mas é spam e do pior, pois o que eu nunca tive no meu correio foi alguém a dizer que tinha participado numa operação destas e tinha visto os milhões de dólares.

Pois é, meus queridos leitores, isto pode parecer-nos errado, um abuso até, e podemos pensar que quem o faz merecia ser empalado. Pode irritar-nos logo de manhã, mal nos levantamos, ter que começar por limpar a caixa do correio, uma espécie de femme de ménage do século XXI. E podemos perguntar-nos, mais um sinal de modernidade para alguns, como é que o Governo pode deixar isto acontecer. A verdade é que, coitados, devem apanhar com tanto spam como nós, ou até mais, não fosse estarem onde estão. E não há bloqueador de spam que nos valha, porque um que seja suficientemente eficaz bloqueia dois terços dos mails importantes que estamos à espera de receber. Portanto, é aguentar. É o preço que pagamos por ter Internet e outras comodidades.

Agora, o que me irrita verdadeiramente é outro tipo de spam, esse sim perfeitamente evitável e que nem sequer tem a utilidade que o viagra pode ter para alguns, caso em que não seria spam. O novo spam, o spam moderno, que nada acrescenta e só tem custos para nós, são as campanhas eleitorais. São mil vezes mais mortíferas porque nem desligando o computador nos livramos delas. Porque nos apanham em casa, na rua, no café ou no restaurante. São o momento em que um genuíno democrata pensa seriamente se a Dr.ª Manuela não teria razão e não se deveria suspender a Democracia, não seis meses mas quinze dias, os tais.

Isto, meus queridos leitores, quando tal coisa - tal spam - encerra em si uma contradição lógica. São os mesmos tipos que legislam e prometem legislar para controlar a poluição sonora e nos defender do ruído que o gritam de megafone na mão rua fora. Então não percebem que quando o Jerónimo teve mais simpatia de todos nós portugueses foi quando ficou sem voz em pleno debate, no meio da campanha, e não disse as mesmas aldrabices e alarvidades dos outros? Se o silêncio é de ouro, o silêncio numa campanha eleitoral é ouro, platina e ródio, tudo ao mesmo tempo. Silêncio numa campanha é como colírio para os olhos.

E como podem os que se assumem como defensores da propriedade e dos interesses dos cidadãos andar a emporcalhar-nos as paredes das nossas casas com total despudor e desrespeito? Que vão pintar as casas deles e nos deixem em paz e sossego!

Mais, como podem estes senhores esperar convencer-nos a nós, que não somos tontos, que se interessam pela situação económica do País e que é importante devolver à Pátria o ritmo de crescimento económico doutros tempos e relançar a convergência real, para depois perderem os dias de trabalho que se perdem nestas coisas das campanhas e gastar a gasolina e os remédios contra as dores de garganta que se gastam e que, tudo contado em termos de produção, seria mais importante para contrariar a queda do produto que todas as medidas anti-crise somadas.

Portanto, deixo aqui a minha proposta revolucionária para resolver este problema ao País, e ter uma campanha eleitoral tranquila, eficiente, aforradora e limpa: só um partido pode fazer campanha eleitoral, o que ganhar as eleições, e só depois de as ganhar; e só dez minutos, que mais não é preciso.


Frederico Bastião é Professor de Teoria Económica das Crises na Escola de Altos Estudos das Penhas Douradas. Quando perguntámos a Frederico o que pensa de a Symantec ter dito que 90% dos correios electrónicos são spam, Frederico respondeu: "Acho que é spam."

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