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Opinião
29 de Junho de 2006 às 13:59

€ 23.900.000.000!!!

Parece inverosímil, mas é a realidade. O multimilionário Warren Buffett acabou de anunciar a doação de 85% da sua fortuna a instituições de apoio social.

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A principal fatia desta doação, no valor de 23,9 mil milhões de euros, destina-se à Fundação Bill e Melinda Gates e permitirá potenciar o trabalho em prol dos povos mais necessitados, especialmente na área da Saúde. Uma contribuição que faz da Fundação do casal Gates a maior do mundo, com um orçamento de fazer inveja à maioria dos Estados, Portugal incluído.

Uma doação impressionante que nos faz reflectir, obrigatoriamente, sobre a riqueza e sobre a responsabilidade que os mais poderosos têm perante o mundo em que vivemos. Uma reflexão sobre o papel e sobre o uso da riqueza (entendida não apenas no sentido de bens materiais mas também de capacidades pessoais) num mundo tão conturbado por profundas desigualdades.

Uma responsabilidade que assenta em duas vertentes distintas:

- A procura constante de, através do trabalho e do esforço, potenciar as características individuais e a criação de riqueza;

– A percepção que os bens e as qualidades que possuímos não são um fim, mas apenas um meio; a percepção de que somos apenas administradores dos nossos bens em prol de toda a humanidade.

Duas vertentes que a doutrina social da Igreja não se cansa de sublinhar, afirmando que «os bens legitimamente possuídos mantêm sempre um destino universal, sendo imoral toda a forma de acumulação indébita, porque se encontra em aberto contraste com o destino universal consignado a todos os bens» (CSI 328), ou que «as riquezas realizam a sua função de serviço ao homem quando destinadas a produzir benefícios para os outros e a sociedade» (CSI 329), ou ainda que «o homem, ao usar dos bens, não pode considerar as coisas exteriores que legitimamente possuiu apenas como propriedade sua, mas também como comuns, no sentido de poderem ser úteis aos outros e não a si exclusivamente» (GS 69).

Um amplo conjunto de reflexões, aparentemente contra o pensamento corrente, mas a que cada um de nós deveria dar maior atenção na sua vida pessoal e, particularmente, no mundo das empresas, analisando múltiplos gastos desnecessários, supérfluos e ostensivos que deveriam ser banidos ou transformados em favor dos que mais necessitam, porque, como referiu um importante pensador do séc. IV, «o supérfluo dos ricos é o necessário dos pobres».

De facto, a questão central da riqueza não está no montante e nos valores que se detêm, como muitíssimos invejosos afirmam, mas a principal questão da riqueza está no uso que dela se faz, na forma como se assume a propriedade, na tentação de nos sentirmos livres para utilizar essa riqueza unicamente para proveito próprio.

Cada um de nós é apenas um administrador da riqueza que possuiu. E se nas empresas temos de administrar o património que nos foi confiado da forma mais rentável para a empresa, também na nossa vida privada somos apenas administradores da riqueza que possuímos e com ela devemos potenciar a construção de um mundo melhor.

É por isso que este exemplo de Warren Buffett tem tanto valor. Ele soube criar a riqueza através do seu trabalho e dos seus negócios e soube torná-la útil através de uma fundação com provas dadas no apoio aos mais necessitados.

Faço votos para que em Portugal os detentores de riqueza também possam acreditar na importância de porem a sua riqueza ao serviço de um mundo melhor, deixando de apostar apenas em Fundações que acima de tudo perduram o seu próprio ego com evidentes ganhos fiscais.

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