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12 de Fevereiro de 2013 às 23:30

7, 25 e 50%

Hoje, os Estados Unidos gastam mais em defesa do que todos os outros países do mundo juntos, mas desde o fim da Guerra Fria o orçamento militar chinês cresce como um bambu e várias economias emergentes armam-se até aos dentes, ajudadas pela exportação de armas de americanos, alemães, ingleses, franceses, russos.

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7% da população do globo é europeia; produz 25% do PIB mundial e faz 50% da despesa social de todo o mundo. São números que impressionam. Frau Merkel apresentou-os juntos para acrescentar que a Europa não pode ter o sistema social mais generoso do mundo e manter-se globalmente competitiva. Antes porém de entrar em tais especulações prospectivas talvez nos pudéssemos permitir um momento de orgulho, a contrapelo dos bem pensantes. Com mais de três gerações no resto da Europa – e duas em Portugal – a ensinarem-nos que o colonialismo foi crime histórico e a verberarem a imperfeição moral dos europeus, vale a pena pensar no que aqueles números representam em respeito pelas mulheres (famílias pequenas), engenho científico, tecnológico e comercial (PIB) e amor do próximo (despesa social). 


O número problemático é 50. O que Frau Merkel quer dizer é que as maneiras que institucionalizamos de amar o próximo como a nós mesmos não são sustentáveis (para usar termo na moda). Quanto mais novas bocas vorazes ratarem o bolo comum (bocas chinesas, indianas, sul-americanas, africanas) cada vez menos bolo irá ficando para os europeus. A globalização de hoje incomoda-nos porque já não mandamos no mundo como estávamos habituados a mandar há 500 anos. (Houve globalizações que nos agradaram; Vasco da Gama foi emblema de uma).

Como perguntaria Vladimir Ilitch: Que se deve fazer? Mas antes, outros números. Em 2010, os europeus gastaram 194 mil milhões de euros em defesa; os americanos 520 mil milhões de dólares. Em percentagem de PIB, 1,6% os europeus; 4,8% os americanos; de orçamentos de estado, 3,2% e 11,2%. Os números da maioria dos Estados-membros da União são mais baixos ainda; a Inglaterra e a França estão muito acima da média e puxam por ela. Se juntarmos estes números ao ramalhete de Frau Merkel o quadro torna-se mais inquietante. Hoje, os Estados Unidos gastam mais em defesa do que todos os outros países do mundo juntos, mas desde o fim da Guerra Fria o orçamento militar chinês cresce como um bambu e vários economias emergentes armam-se até aos dentes, ajudadas pela exportação de armas de americanos, alemães, ingleses, franceses, russos. A paz é invenção recente, muito apreciada dentro da Europa, mas pouco fora dela. Americanos e europeus sensatos reforçam os seus laços económicos e mantêm a OTAN operacional.

E os 50%? Será possível salvar o amor do próximo? No século XX, a receita errada de Vladimir Ilitch matou milhões. A alternativa que se foi inventando no Ocidente tem dado para as encomendas, mas estarão as contas da globalização a pôr em causa um século de sindicalismo e democracia social? Talvez não. Primeiro, porque a concorrência terá de fazer cada vez mais despesa social ela própria - apareceu agora em força o primeiro sindicato livre na China. Segundo, porque as atribulações da crise de que estamos a sair esporearam a vigilância do capitalismo por quem o pratica e por governos. Ninguém quer matar a galinha dos ovos de ouro.

Embaixador

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