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[428.] Anúncios de empregos

A esmagadora maioria dos anúncios de oferta de empregos não apresenta imagens. A linguagem é sóbria e objectiva.

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O suplemento "Emprego" da edição do "Expresso" de 17 de Setembro exemplifica esta austeridade comunicativa. Em 24 páginas, acumulam-se cerca de 130 anúncios; os 120 de empresas empregadoras seguem todos um modelo semelhante: identificando-a ou não, situam-na elogiosamente no seu sector, para atrair candidatos. Por exemplo, a Luís Simões apresenta-se como "líder, em Portugal". Uma filial de multinacional alemã anuncia-se como "líder mundial". Apresentada a empresa, indica-se o lugar que se pretende preencher, descreve-se a função, enumeram-se requisitos e condições exigidas. Aspecto salientado em alguns anúncios é a promessa ou a exigência de boas relações humanas e profissionais no trabalho: "Integração em equipa jovem e pluridisciplinar" é o que se oferece num deles; noutro promete-se "a integração numa equipa de qualidade"; a um "responsável financeiro" exige-se que seja "team player, com bom relacionamento interpessoal".

Face à importância das relações humanas na maioria das profissões, não admira que as poucas imagens incluídas neste tipo de anúncios mostrem equipas e não uma pessoa só. Descontando os logótipos e alguns adornos coloridos e/ou geométricos, a publicidade no suplemento "Emprego" em análise inclui apenas 11 anúncios com fotografias para chamar a atenção, isto é, menos de um décimo do total dos anúncios. Desses dez, a maioria não é de oferta de emprego, mas de cursos ou outros.

Dois dos reclames mostram detalhes do corpo masculino: o da Universidade Lusófona aos seus cursos mostra uma parte de um braço e do tronco de um homem com gravata; o do Instituto Piaget e da Funiber promove cursos de formação mostrando o braço de um homem de camisa branca e óculos ao lado. O Wall Street anuncia o seu Open Day com letras sobre um muro de tijolos. As fotos são meros adornos.

Há mais anúncios de cursos com imagens. A TUV Rheinland ilustra-se com uma foto de três adultos, dois homens e, à frente deles, de braços cruzados, uma mulher, dominando a cena. As Academias Rumos promovem os seus cursos mostrando a cabeça de uma pessoa equipada com o capacete de piloto de jacto, perguntando se "será o céu o limite" para quem frequentar os seus cursos de informática.

Além deste, só há mais um anúncio no suplemento usando no título uma linguagem simbólica ou envolvente: curiosamente, é também com uma pergunta que a Accenture convida empresas a inscreverem-se no seu "ranking das melhores empresas para trabalhar". O próprio "Expresso Emprego" auto-anuncia-se, convidando as empresas a divulgarem nele os seus cursos de formação com uma foto em que cinco adultos olham para um monitor, bastante contentes: uma estudante apoia o queixo no ombro doutra e um homem sorri para o ecrã enquanto abraça a mulher à sua frente. Bons cursos!

Das restantes quatro imagens - as únicas em cerca de 120 ofertas de empregos -, três mostram pessoas em equipas, sempre sorridentes. A Prosegur vai mais longe: na busca de comerciais, mostra três homens e uma mulher unidos com os braços sobre os ombros uns dos outros. Só um anúncio mostra um trabalhador trabalhando e sem se rir: a RAY Human Capital procura para um cliente um especialista em computadores, simbolizado no anúncio por um homem de cócoras olhando, como o Pensador de Rodin, para equipamentos informáticos.

Mais de cem anúncios sem imagem, em 120? Isso diz-nos, por comparação com a restante publicidade, que as imagens exercem uma função de aliciamento e afastamento do real para o simbólico, função desnecessária na esmagadora maioria destes reclames: aqui pretende-se explicar tintim por tintim o que se quer e o que se exige dos candidatos a empregos, para trabalharem. Para isso, a publicidade precisa de palavras e números, não de imagens.


ect@netcabo.pt

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