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Inovação na Saúde. Será que temos dificuldade em replicar os projetos criados por outros?

Portugal é um país com grande capacidade a nível da inovação na área da saúde. Esta capacidade é visível, por exemplo, nos prémios everis Awards, lançados há quase 20 anos pela Fundação everis

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Portugal é um país com grande capacidade a nível da inovação na área da saúde. Esta capacidade é visível, por exemplo, nos prémios everis Awards, lançados há quase 20 anos pela Fundação everis, para os quais a área da biotecnologia e saúde é, a nível nacional, a área com maior número de candidaturas e a que tem maior número de distinções. O Prémio Saúde Sustentável também é um exemplo da inovação em saúde, reconhecendo e premiando ao longo dos últimos 9 anos projetos realizados por variadas unidades de saúde.

 

Tendo capacidade para gerar tanta e tão boa inovação, é preciso perceber porque é que a mesma não é introduzida nos processos de negócio a nível nacional e comercializada internacionalmente com a mesma facilidade. O Professor António Costa Silva referiu na conferência do Prémio Saúde Sustentável deste ano alguns dos problemas de Portugal na obtenção de melhores resultados com a inovação, nomeadamente a inconsistência das políticas públicas, a ausência de marketing dos produtos e a não-introdução dos produtos no mercado a uma escala global.

 

Acrescento a estes três pontos muito importantes a incapacidade de os projetos escalarem a nível nacional. Com frequência temos conhecimento de projetos que estão a ser realizados em unidades de saúde, mas são muito poucos os casos em que lemos a notícia de que uma inovação introduzida numa unidade hospitalar por via desses pilotos vai ser alargada a outras unidades de saúde. Será que temos dificuldade em replicar os projetos criados por outros?

 

Em 2014, o Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) recebeu o prémio mundial Innovation Awards, da Microsoft, pela criação de uma solução que permite recolher dados dos sistemas hospitalares e com essa informação avaliar em tempo real o risco de deterioração clínica dos seus doentes. Apesar do reconhecimento nacional e internacional deste projeto, quantos hospitais em Portugal o adotaram para melhorar os seus processos? Qual o motivo para a sua não adoção por outros hospitais? Será que se essa solução tivesse sido utilizada por mais cinco ou seis hospitais poderia ter ganho a escala necessária para a posicionar no mercado global?

 

Para que possamos, como país, gerar mais valor com a inovação na área da saúde, é essencial que se partilhe de forma transparente os resultados de cada projeto, que se criem mecanismos de partilha dessa inovação e dos seus resultados entre diferentes unidades e que haja recetividade para utilizar as melhores soluções face aos desafios e problemas enfrentados.

 

Este ano, o CHUSJ foi o vencedor do Prémio Saúde Sustentável no critério Transição Digital, com o projeto Monitorização COVID-19, que permite prever a procura que o serviço de urgência do hospital vai ter nos 10 dias seguintes, dando mais tempo ao hospital para se preparar. Tendo em conta a pressão a que estão sujeitos os hospitais neste momento e a importância do fator tempo na adaptação às exigências, espero que outros hospitais possam tirar partido da mesma tecnologia, estando assim mais bem preparados para responder à procura. Será que isto vai acontecer? O Prémio Saúde Sustentável fez o seu papel ao promover este projeto, cabe agora aos responsáveis das outras unidades de saúde verificar o que tem de ser feito para poderem usar a mesma tecnologia e melhorarem a sua capacidade de resposta.

 

Os projetos CHUSJ são apenas dois excelentes exemplos do que se produz em Portugal em termos de inovação, existem vários outros projetos a nível dos processos e da tecnologia em múltiplas unidades à espera de serem replicados.

 

Ricardo Constantino

Partner & Head of Public Sector and Health business units da everis Portugal


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