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Sustentabilidade na saúde ou saúde sustentável

A saúde sustentável não só é possível, como está ao alcance do sistema nacional de saúde.

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Recentemente, as capas dos jornais e o início dos serviços noticiosos focaram mais uma vez a sustentabilidade do sistema nacional de saúde, centrando a questão no seguinte tópico: "como suportar o aumento dos custos previstos para os próximos anos, dado o carácter incontornável da introdução de novas tecnologias ao serviço da saúde?"

Com o propósito de conservar a universalidade do acesso à saúde e o atual modelo de prestação de cuidados de saúde, as hipóteses apresentadas são dominadas pela necessidade de aumento do financiamento, com a consequente alteração nos encargos diretos ou indiretos (impostos, copagamentos, entre outros) a suportar pelo cidadão. Em alternativa, a limitação do acesso com a criação de condições e pré-requisitos para acesso a essas tecnologias poderá aparecer também como opção para conter o aumento dos encargos.

Mas será este o caminho que pretendemos? Não haverá outras alternativas a "pagarmos mais" ou "restringir o acesso"? As candidaturas apresentadas no âmbito do Prémio de Saúde Sustentável, não só pela quantidade mas, sobretudo, pela sua qualidade, são um pequeno exemplo de um outro caminho possível, tendo como princípio a utilização em pleno e mais eficiente dos recursos ao dispor da saúde.

Para o conseguir será necessário adotar uma abordagem em rede do sistema nacional de saúde, em especial dos recursos operados, tangíveis, ainda que não circunscrito à lógica das redes de referenciação. A interação entre área/segmentos da saúde fisicamente distantes, sob coordenação e no sentido de garantir o ajuste às reais necessidades irá permitir que, por exemplo, um exame complementar de diagnóstico efetuado no Algarve possa ser visto e relatado por um especialista disponível em qualquer ponto do país, ou que um cidadão possa aceder na unidade da sua área de residência a níveis de diferenciação que agora apenas estão disponíveis em hospitais centrais.

Será necessário, nesta abordagem em rede, que o cidadão faça parte da solução. Na medida em que é notório e crescente a posse e utilização por parte dos cidadãos de meios de comunicação e acesso a informação cada vez mais evoluídos, essas capacidades têm de ser utilizadas no sistema de saúde, no sentido de uma maior interação cidadão / sistema de saúde. Resulta daqui todo um potencial de redução de custos, desde logo pelas menores necessidades de contactos presenciais.

Será necessário, nesta linha de estratégia em particular para casos dos doentes crónicos, que pela sua natureza e carácter de longa duração comportam grande parte da despesa total em saúde, garantir a sua telemonitorização, com o alcance de uma atuação preventiva, reduzindo assim os episódios de agudização destes cidadãos e, em consequência, o número de dias de internamento, o recurso às urgências, para além da melhoria do nível de vida dos próprios cidadãos.

Retirando os necessários ensinamentos de iniciativas como o Prémio de Saúde Sustentável, a saúde sustentável não só é possível, como está ao alcance do sistema nacional de saúde. Implica, no entanto, que quer os processos e a tecnologia que a suporta sejam desenhados para a criação de um ecossistema sustentável, quer que o modelo de financiamento das unidades de saúde evolua no sentido de acomodar a produção partilhada com outros recursos existentes no sistema, por oposição a considerar em exclusivo a produção com os seus recursos próprios.


Este artigo está em conformidade com o novo acordo ortográfico

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