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12 de Outubro de 2016 às 00:01

As sombras chinesas

Entre negócios no Império do Meio, o "meio vizinho" primeiro-ministro de Portugal expôs-se à contradição. Em 48 horas, sem desconto de fuso horário, António Costa fechou uma porta para, de seguida, a abrir. Tem importância para quem acredita na bondade da política.

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E o que fez o chefe do Governo? Primeiro disse, como se usa dizer para fugir ao incómodo, que a circunstância de estar fora do território nacional o impedia de falar de coisas da caserna. O que, por cá, se dizia sobre a proposta orçamental não passava da circulação de "ideias muito especulativas". Falava-se da possibilidade de aumento da carga fiscal no próximo ano.

E assim ficou a coisa, amansada em negócios de milhões. Há bancos, tecnologia, turismo com voos directos, um pouco de tudo para vender, como na loja do chinês. Com Costa peremptório: "Não é em Pequim que vamos tratar do Orçamento." Até que não resistiu a falar deste, ainda a meio da visita à China, mesmo que não tivesse respostas para dar ou não as quisesse partilhar tão a oriente.

Eis que, no remanso da semana, alguém se lembrou, na geringonça, de pôr a correr que, afinal, a sobretaxa era para português ver. Ou seja: a promessa de Costa nas eleições, reverter de uma vez e repor por inteiro, não entrava nas contas do próximo Orçamento. Entrará, provavelmente, aos bochechos.

Aqui chegados, eis-nos próximos de Mariana Mortágua, condição absolutamente impensável há 12 horas. Quando a guia operacional do Bloco diz que não há outra saída para a seriedade a não ser o fim da sobretaxa em Janeiro de 2017, qualquer cidadão, contribuinte ou não, deve indignar-se ao lado de Mortágua. Que diz: "A posição que temos é a que está na lei." E o que diz a lei? Que a sobretaxa acaba "a partir de 1 de Janeiro de 2017".

Sigamos Mariana, mas não sejamos ingénuos. A proclamação pública de um compromisso de honra pode desaguar na sonsice funcional do deputado Paulo Trigo Pereira. Que diz, sem vergonha: "Era grave se não acabasse. Mas o faseamento já se fez para os salários da função pública. Não fizemos tudo de uma vez, mas cumprimos o compromisso."

Eis a seriedade num registo peculiar. Primeiro, promete-se ("palavra dada é palavra honrada") para arrebanhar o voto; depois, cumpre-se em função dos constrangimentos financeiros e políticos que a realidade impõe. E assim é desenhada a folha orçamental da reposição dos direitos destruídos pelo processo de ajustamento.
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