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[186] Optimus, BES, Atlântico, Esporão, Espanha

O início do ano publicitário está fraco. Não há boas e grandes campanhas, apenas anúncios isolados se destacam. Aliás: quase não há publicidade. O mercado hibernou.

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Para não adiar ainda mais a primavera anunciante, refiro então anúncios avulsos que guardei na memória por terem alguma ou algumas qualidades.

Gostei dos anúncios Optimus anunciando o serviço de e-mail por PDA: este aqui mostra uma paisagem urbana trilhada em todos os sentidos por linhas rectas cor de laranja, a cor da marca – são as mensagens electrónicas circulando pelo ar, pois "há cinco milhões de e-mails enviados por minuto". As linhas apostas sobre a fotografia formam uma imagem muito sugestiva e esteticamente interessante da nossa vibrante comunicação electrónica.

Gostei de dois anúncios de imprensa do BES. Um deles responde à campanha de imagem global da CGD. Mostra a Avenida Paulista, S. Paulo, cheia de trânsito, com a faixa do lado direita vazia. No asfalto, em vez de BUS, BES. A frase de acesso está de acordo com a imagem: "Se quer internacionalizar o seu negócio, há um banco que lhe abre o caminho." O outro anúncio mostra um corredor de tipo hospitalar. Um homem de fato com uma foto gigante nas mãos, tapando a parte de cima do corpo. Não há nada de novo, mas continua a funcionar. A frase diz: "Luta contra a Leucemia. Sabe qual é o banco que está por trás?" Supomos que o homem de fato é um bancário, ou um banqueiro, do BES. Ei-lo por trás da foto da leucemia; e o que ele mostra está no slogan "o outro lado do BES": o lado caritativo a que hoje se chama solidariedade. O anúncio apela a um concerto para angariação de fundos a 25 de Janeiro no Pavilhão Atlântico e é para lá que vamos no anúncio seguinte.

Gostei do anúncio do Atlântico. A foto nocturna, mostrando apenas uma parte do edifício, a que se juntaram umas estrelinhas na borda da cobertura está atractivo. Sugere uma nave espacial se sonho, alguma coisa especial. O pretexto do reclame é o Feliz Ano Novo, 2007, que promete ser "um espectáculo". Mas não se anuncia nenhum espectáculo. Apenas se pretende reforçar a notoriedade da sala. É pouco, pois uma sala é um projecto vazio até ter conteúdo... isto é, espectáculos concretos. A sala, por mais espectacular que seja, não chega. Mas o anúncio está bonito.

Gostei dos anúncios natalícios com fotos a preto e branco dos vinhos Vinha da Defesa da Herdade do Esporão. Sugeriam a sociabilidade de modo interessante. Num deles viam-se carros estacionados no jardim de uma vivenda, ao cair da noite. O outro era ainda melhor, porque é difícil resistir a anúncios sugestivos com pés e sapatos: mostrava um jantar por baixo da mesa, num chão de soalho: pernas e pés de dois homens e duas mulheres, símbolo da sociabilidade máxima. Este falava das "boas conversas", o outro dos "reencontros". Só é pena terem complementado com fotos pequenas mostrando os convivas confraternizando, como se os observadores fossem estúpidos e não entendessem a linguagem visual simbólica.

E – mais pés – gostei dum anúncio com pés descalços da série "Sorria! Está em Espanha" com um sorriso desenhado atravessando a página que diz quatro vezes Sol e uma vez Dali: turismo de praia e cultural. Na foto, um casal já a caminho da idade da reforma vestido de inverno numa praia. Descalços e de braço a dado, fogem e desafiam as ondas do mar, uma brincadeira que – não há hipótese – todos fazemos ou já fizemos. A simplicidade da situação mostrada adquire força ao impor-se à nossa memória feliz.

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