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[117.] Nobre, Chivas, Oliveira da Serra

O anúncio de imprensa dos «novos Naturíssimos» Nobre mostra uma suave queda de água descendo lentamente por pedras arredondadas e cobertas de musgo húmido e muito verde. Saltando de pedra em pedra, bebendo água, descansando ou banhando-se, dez adoráveis l

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No canto inferior direito, o logótipo das marca Nobre completa a montagem fotográfica com equilíbrio.

O fundo da parte superior do reclame é igualmente verde, a cor da natureza, dos vegetais que associamos à ausência de gorduras e calorias, a cor da saúde. Os dez porquinhos, dando alegria ao verde da natureza, são a metáfora visual desta «charcutaria naturalmente sã» com «baixo teor de sal e de gordura» que recebeu o inventivo superlativo de «Naturíssimos».

A imagem e a insistência nos vocábulos em torno de natural é um «tour de force» para impor produtos e derivados de carne (de porco, peru e galinha) num mundo obcecado com a apresentação do corpo magro e face a uma crescente indústria da dieta. Este é um reclame de propaganda «soft», de uma nova guerra fria, a guerra do frigorífico: se os «outros» dizem que fazem bem à saúde, nós, a charcutaria, também.

O whisky Chivas mostra o que é «a Vida Chivas» (o V maiúsculo está no texto) em anúncios de imprensa todos muito iates no mar, como os do Mateus Rosé. «Esta é a Vida Chivas» surge como tradução em asterisco da frase «This is the Chivas life» em letras cor de laranja transparente, sugerindo o dourado da bebida. Dentro das seis letras de Chivas, isto é, embebidos em Chivas, vêem-se casais muito alegres em iates ou na praia. As fotografias de página inteira mostram o mesmo cenário estival despreocupado.

Num dos anúncios, dois iates a curta distância estão ligados por uma rede sobre o mar. Em cada embarcação e na rede está um casal jovem. Os seis riem. A vida é boa. No outro anúncio, quatro indivíduos riem-se olhando para o horizonte de bordo do iate. Neste segundo anúncio a mensagem é mais completa: «Navegando sem destino. VIVA A VIDA.» O que quer dizer esta ordem tão esotérica? A foto mostra as quatro pessoas focando um ponto, pelo que parece haver destino no rumo seguido. A mensagem é subliminar: beba álcool à vontade; não ligue às contrariedades profissionais; não ligue aos conselhos sobre a bebida; na «outra vida» não se pode beber Chivas, «viva» esta vida.

Estes anúncios pretendem criar no observador um universo quimérico de aventura «com moderação» e de muita despreocupação (que é também um universo proporcionado pela ingestão de bebidas alcoólicas), ao mesmo tempo que visam um público de jovens profissionais atraídos pelo tipo de férias exibido nas fotografias.

Também a marca Oliveira da Serra sublinha a cor dourada do azeite. Num anúncio eficaz, apresenta a sua «nova colecção», fazendo do milenar azeite uma moda de cada estação do ano. O azeite, o mais imutável dos produtos, celebrado desde há milhares de anos pela arte e pela literatura do Mediterrâneo, já se vangloria de misturas com sabor a manga, por exemplo. Depois das primeiras experiências com ervas, chega a vez do limão e da malagueta, das azeitonas pretas e pimenta verde, etc. Faz parte da sociedade contemporânea que nada é estável, tudo muda e tudo se mistura com tudo. Sucede o mesmo com outros produtos puros como o azeite, caso da água «com sabor».

Esta «Nova Colecção» Oliveira da Serra chama-se precisamente «Sabores» e essa palavra sobrepõe-se à indicação do sabor misturado no azeite. E quer essa palavra quer a indicação do sabor são muito maiores na embalagem do que o cerne da questão, o azeite: a indicação «Azeite Virgem Extra» aparece em letras pequeninas.

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