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07 de Janeiro de 2020 às 19:40

2020, um ano novo

Algo também inédito que ocorrerá em 2020 é que, pela primeira vez, a idade média da população mundial será superior a 30 anos. Significa que, não apenas em Portugal, mas mundialmente, estamos a envelhecer.

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A visão do que poderá vir a ser um novo ano é um tema incontornável em cada início de ano. De uma forma mais ou menos elaborada, mais ou menos profunda, a verdade é que todos analisamos tendências, padrões, números e estimativas, seja por mera curiosidade seja porque genuinamente procuramos entender as variáveis que nos permitem estar mais preparados para o que há de vir e tomar as melhores decisões. Porém, dada a complexidade sistémica do mundo atual em que tudo, literalmente tudo, está interligado, a tarefa não se revela fácil. Na realidade, nos últimos anos, a economia e a política, os recursos, a tecnologia e a sociedade mudaram muito, mas, sobretudo, a mudança é cada vez mais abrangente e mais entrelaçada, muito impulsionada pelas tecnologias que fizeram tal interconectividade possível.

 

A omnipresença do digital tem sido um fator decisivo nas transformações a que assistimos e continuará a sê-lo, pelo menos em 2020. Alavancado no digital, ascenderam figuras tão icónicas quanto díspares como o Presidente Trump e Greta Thunberg, mudaram-se os modelos de negócio e a forma do dinheiro, expandiu-se a gig economy, a própria valorização das empresas mudou. Como comentava o Prof. Luis Suárez do IESE Business School, a propósito do fracasso do IPO da WeWork: "Quanto vale uma empresa que se diz tecnológica, que perde mais dinheiro à medida que cresce e que não pode dizer se algum dia será rentável? Alguns investidores pensam que pode valer muito, outros têm dúvidas sobre isso."

 

Em termos económicos, em geral, 2020 parece ser mais um ano de continuidade com o crescimento a abrandar de forma generalizada embora, ainda assim, um ano que se espera de crescimento, mas com inúmeros riscos a pairar e uma política monetária que se prevê muito acomodatícia a persistir durante muito tempo. O início do ano marca bem esta tendência geral - e a recente intervenção militar no Irão dos EUA veio aumentar as tensões gerais pondo uma forte pressão sobre a subida do preço do barril de petróleo. Ora, como é sabido, uma escalada do preço do petróleo retira fôlego ao crescimento da economia mundial e, muito especialmente, também da portuguesa. Analisando o Orçamento do Estado é evidente que uma subida do preço do petróleo em 20% retira cerca de 0,2 pontos percentuais ao OE. O preço do petróleo previsto no OE para 2020 é de 57,7 USD - sendo que a 6 de janeiro o preço está já a cerca de USD 70. Assim, o cenário macroeconómico do OE com um crescimento do PIB de 1,9%, à partida, parece um pouco otimista. Mas o ano é longo e muito pode acontecer.

 

Curiosamente, a nível mundial, é de notar que, quaisquer que sejam as projeções utilizadas, as 10 economias que mais crescerão em 2020, localizam-se em África e na Ásia. Tal significa que estamos, atualmente, perante um modelo de crescimento a duas velocidades com alterações a ocorrer a ritmos diferentes em mercados diferentes, com as chamadas economias emergentes a saltarem várias posições nos rankings mundiais aproximando-se das economias tradicionalmente mais desenvolvidas.

 

Algo também inédito que ocorrerá em 2020 é que, pela primeira vez, a idade média da população mundial será superior a 30 anos. Significa que, não apenas em Portugal, mas mundialmente, estamos a envelhecer. Devido à diminuição dos nascimentos, ao aumento da esperança média de vida, mas essencialmente porque a grande geração de millennials, nascidos na década de 80, está a envelhecer também. 

 

Surpreendentemente, ou nem tanto, é que no seio de toda esta ambiguidade em que navegamos surge de forma clara e inequívoca, uma tendência que certamente se sedimentará em 2020 e nos próximos anos: a procura de um sentido, de um propósito de vida. Seja de motu próprio seja por pressão da sociedade civil, governos, empresas e indivíduos reavaliam a sua razão de ser, o seu propósito vital. Em concreto, as empresas tendem, e tenderão em 2020, cada vez mais, a atuar de forma sustentável e a afirmar no seu atuar que a razão da sua existência não se reduz ao lucro, mas é bem mais lata, englobando a responsabilidade com todos os "stakeholders" com que interage e a convivência em sociedade como um todo.

 

Vale ainda a pena recordar que em 2020, decorrerá mais uma edição dos Jogos Olímpicos de verão, desta vez em Tóquio. E também os Jogos Olímpicos parecem estar a mudar. Em 2020, já se sabia, há cinco novas modalidades: surf, basebol/softbol, karaté, skate e escalada. E em 2024, em Paris, a novidade será o breakdance. Não deixa de ser sintomático e interessante esta aproximação às camadas mais jovens e à realidade urbana, incluindo desportos com uma raiz cultural "anti-establishment".

 

Para terminar, os votos de que este seja para todos um ano olímpico, em que cada um possa caminhar mais rápido, voar mais alto e terminar mais forte. Sê-lo-á certamente se para tal nos empenharmos nos 358 (8 já foram) dias deste ano. Feliz 2020! Feliz ano novo!

 

AESE

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