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José Esteves - Dean da Porto Business School 05 de Dezembro de 2023 às 18:42

A inércia global no câmbio climático

A consciencialização pública é fundamental para pressionar os governos a adotarem políticas mais rigorosas. Atualmente, reconhece-se a importância de líderes que demonstrem preocupação com a sustentabilidade, o impacto ambiental e as mudanças climáticas. Neste sentido, as escolas de negócios têm um papel primordial no desenvolvimento de competências nestas áreas.

A COP28, realizada nos Emirados Árabes Unidos, mais uma vez, parece destinada a ser um “déjà-vu”, repetindo intenções sem resultados significativos. A conferência, com mais de 97 mil participantes, incluindo 3.000 presentes virtualmente, enfrenta controvérsias devido aos comentários do presidente e alegações de exploração para promover transações comerciais de gás e petróleo com os governos representados.

Apesar de contar com a maior participação na história do evento, os resultados da COP28 são desanimadores, e apenas um “milagre” poderá verdadeiramente impulsionar o progresso na luta contra as mudanças climáticas. Seria pertinente calcular a pegada de carbono deste evento, especialmente considerando um dos seus objetivos fundamentais: promover a descarbonização.

Um ponto crucial destaca-se globalmente: o relatório recente da Oxfam International, “Igualdade Climática: um Planeta para os 99%”, revela que o 1% mais rico, composto por 77 milhões de pessoas, foi responsável por 16% das emissões globais de CO2 em 2019. Valor este que equivale ao CO2 emitido pelos dois terços mais pobres da humanidade, totalizando 5 biliões de pessoas. Surpreendentemente, os 10% mais ricos respondem por 50% das emissões globais de CO2. Os dados indicam que os super-ricos investem em indústrias poluentes, exacerbando o aquecimento global. Essa disparidade destaca a urgência de responsabilizar os setores mais privilegiados, não apenas abordando políticas climáticas, mas também a desigualdade climática.

No meio de tantas notícias desafiadoras, destaca-se uma iniciativa positiva: 118 governos comprometeram-se a triplicar a capacidade global de energia renovável até 2030, durante a COP28 da ONU. Embora seja um passo significativo para conter as emissões de gases de efeito de estufa, a eficácia dessas iniciativas permanece incerta.

Devemos recordar que a crise climática é também uma crise de saúde, prevendo-se 250.000 mortes adicionais por ano devido às mudanças climáticas, segundo a OMS. Para captar a atenção para este tema, este ano, o “Dia da Saúde” foi organizado pela primeira vez. A questão persiste: serão estes esforços suficientes? A resposta parece depender da implementação de medidas assertivas, respaldadas por legislação eficaz, para enfrentar decisivamente os desafios climáticos globais. A inércia global cria uma lacuna para soluções eficazes.

O primeiro-ministro, António Costa, embora demissionário, enfatizou a necessidade de ação climática global rápida e ambiciosa para evitar a rutura planetária. No seu discurso focou o financiamento da ação climática, reforçando os compromissos de Portugal, antecipando para 2045 a meta de neutralidade carbónica e estabelecendo a meta de 85% de eletricidade de fontes renováveis até 2030. O primeiro-ministro sublinhou, ainda, a importância dos oceanos no combate às alterações climáticas, muitas vezes, negligenciada em cimeiras anteriores.

É crucial enfatizar a necessidade de uma maior literacia em sustentabilidade e mudanças climáticas. A consciencialização pública é fundamental para pressionar os governos a adotarem políticas mais rigorosas. Atualmente, reconhece-se a importância de líderes que demonstrem preocupação com a sustentabilidade, o impacto ambiental e as mudanças climáticas. Neste sentido, as escolas de negócios têm um papel primordial no desenvolvimento de competências nestas áreas.

A Porto Business School, para além de oferecer educação executiva nestas áreas, como a nova pós-graduação em gestão da sustentabilidade, incorpora em todos os seus programas educativos, incluindo diversos cursos e seminários, a abordagem destas temáticas de forma integrada no seu currículo. O foco é capacitar líderes com competências específicas para enfrentar os desafios relacionados com a sustentabilidade e mudanças climáticas, reconhecendo a importância destas competências no cenário atual e futuro.

Em conclusão, perante a inércia evidenciada pela COP28, é imperativo intensificar os esforços na promoção de políticas climáticas mais eficazes, responsabilizando os setores mais privilegiados. A iniciativa de aumentar a capacidade global de energia renovável é louvável, mas a incerteza sobre a sua eficácia destaca a necessidade urgente de medidas assertivas. A crise climática, além de uma ameaça à saúde global, requer uma ação global imediata e ambiciosa. A liderança comprometida com a sustentabilidade é crucial, e as instituições educativas desempenham um papel vital na formação de líderes capazes de enfrentar estes desafios. A implementação de leis robustas, vinculativas e ambiciosas é o caminho para alcançar verdadeiramente os objetivos desejados.

 

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