Opinião
Portugal pode liderar o ensino online e híbrido — se quiser
O crescimento do ensino online e híbrido não é um capricho tecnológico nem uma moda passageira — é uma evolução inevitável. Portugal tem talento, instituições e capacidade para liderar esta transformação.
Nos últimos anos, assistimos a uma verdadeira revolução silenciosa na educação superior: o crescimento imparável dos programas de formação online, em especial ao nível dos mestrados e MBA. Esta transformação não foi apenas um efeito colateral da pandemia de covid-19 — foi antes a aceleração de uma tendência que responde à procura crescente por flexibilidade, acessibilidade e excelência académica.
Um dos segmentos que mais beneficiou desta transição digital foi, precisamente, o dos MBA (Master of Business Administration) e mestrados especializados. Os programas online deixaram de ser o "patinho feio" da formação superior e passaram a ser uma escolha estratégica para profissionais que querem conciliar carreiras exigentes com formação contínua de excelência. O mercado respondeu em força: de acordo com o Graduate Management Admission Council (GMAC), 58% dos programas de MBA online registaram um crescimento nas candidaturas em 2024. Na Europa, o número de programas online aumentou cerca de um terço nos últimos cinco anos, com algumas das mais prestigiadas escolas de negócios a reforçarem a sua aposta nesta modalidade. Instituições como a IE Business School, o Imperial College ou a Warwick Business School lideram há anos os "rankings" internacionais do Financial Times e da QS nesta categoria. E há mais um dado interessante: ao contrário dos programas norte-americanos — mais centrados em alunos domésticos —, os MBA online europeus atraem uma audiência marcadamente internacional.
Portugal não ficou de fora desta mudança. A Porto Business School (PBS) foi uma das instituições que soube ler os sinais dos tempos e lançar um MBA online que rapidamente se destacou pela sua excelência pedagógica e pela capacidade de promover "networking" à distância — sem precisar de voos, hotéis ou "coffee breaks". O reconhecimento internacional não tardou: na mais recente edição do "ranking" do Financial Times, dedicada aos melhores MBA online do mundo, a Porto Business School entrou diretamente na oitava posição, colocando Portugal no radar global da formação executiva online.
Este feito não é obra do acaso. É resultado de uma aposta clara em rigor académico, na qualificação do corpo docente e, sobretudo, na inovação pedagógica. A PBS soube ir além das tradicionais aulas online, criando uma experiência interativa e personalizada, que recorre a tecnologias de ponta, plataformas colaborativas e iniciativas de "networking" virtual capazes de replicar, com qualidade, a dinâmica presencial. Além disso, conseguiu atrair alunos internacionais e profissionais seniores interessados numa formação prática relevante e alinhada com as exigências reais do mercado de trabalho. A diversidade cultural e profissional destes alunos transformou-se num ativo pedagógico, enriquecendo o debate e criando uma comunidade global de aprendizagem.
Este reconhecimento não é apenas uma vitória para a Porto Business School. É uma demonstração inequívoca de que Portugal tem condições para se posicionar como protagonista no ensino online e híbrido de nível mundial — se decidir, de facto, agarrar esta oportunidade.
É precisamente aqui que reside o desafio. A outras escolas e universidades portuguesas deixo um convite cordial (e um pouco insistente): invistam na oferta de programas online e híbridos. Esta aposta permitirá ultrapassar fronteiras regionais e nacionais, atrair talento global e reforçar a sustentabilidade financeira das instituições. Para isso, é necessário também que docentes e conselhos pedagógicos abandonem o piloto automático e invistam na inovação pedagógica — porque ensinar online não é só ligar a câmara e continuar como se nada tivesse mudado. Exige novas metodologias, ferramentas digitais e recursos multimédia capazes de garantir uma experiência de aprendizagem rica, eficaz e, porque não, mais interessante.
É igualmente fundamental encarar os modelos híbridos — que combinam alunos presenciais e online na mesma turma — não como uma ameaça, mas como uma oportunidade estratégica. Este formato, amplamente adotado e regulamentado noutros países, oferece o melhor dos dois mundos: flexibilidade para quem não pode estar fisicamente na sala e a riqueza da interação presencial para quem opta por essa experiência.
Em Portugal, no entanto, esta prática continua envolta numa espécie de limbo jurídico. O Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES), em vigor desde 2007, reflete uma visão do ensino superior de há quase duas décadas — um tempo em que o ensino online era marginal e não estrutural. Este enquadramento legal, claramente desatualizado, necessita de uma revisão profunda, não apenas para reconhecer e regular modelos híbridos, mas também para refletir as novas realidades do ensino superior, incluindo a diversidade de programas, formatos e metodologias.
Esta ausência de atualização tem sido utilizada como pretexto por algumas instituições para limitar ou desencorajar a adoção de modelos híbridos, perpetuando um modelo educativo que já não responde às exigências do mundo atual. Mais curioso (e preocupante) é que algumas universidades, por decisão interna, optam por restringir esta modalidade, apesar de não existirem impedimentos legais para a sua implementação. Esta resistência representa uma oportunidade desperdiçada e um atraso face às melhores práticas internacionais. É urgente que o quadro jurídico do ensino superior português evolua e crie uma regulamentação clara, moderna e ambiciosa que reconheça formalmente estas novas formas de ensino e dê às instituições a segurança necessária para inovar.
Convém também desfazer um mito recorrente: os modelos híbridos não levantam qualquer problema ético ou de equidade, desde que os docentes adaptem as suas metodologias de ensino. Todos os alunos — presenciais ou online — podem ter acesso aos mesmos conteúdos, interações e oportunidades de aprendizagem. Com algum trabalho de casa por parte dos docentes e das instituições, o modelo híbrido funciona — e bem. Aliás, é um excelente exercício para o que os alunos vão encontrar no mercado de trabalho: ambientes digitais, colaborativos e interculturais.
Em suma, o crescimento do ensino online e híbrido não é um capricho tecnológico nem uma moda passageira — é uma evolução inevitável. Portugal tem talento, instituições e capacidade para liderar esta transformação. A ascensão da Porto Business School no "ranking" do Financial Times mostra que é possível. Agora, só falta que o sistema jurídico e as lideranças académicas portuguesas façam aquilo que os próprios alunos aprendem nos MBA: identificar oportunidades, inovar e agir.