Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião

Madeira: o Laboratório Atlântico do Oceano Digital

Com este tipo de iniciativa, rapidamente a Madeira tornar-se-á um laboratório de inovação internacional para a indústria digital e de robótica oceânica, até para a tecnologia de duplo uso usada pela Marinha.

A Região Autónoma da Madeira tem condições excecionais para se afirmar como um laboratório de inovação das tecnologias digitais para o oceano.

 

Se é verdade que as ilhas são penalizadas pelos custos de insularidade, também é um facto que, pelas suas características geográficas, podem funcionar como postos avançados para a investigação e inovação em algumas das cadeias de valor da economia do mar.

 

Com efeito, era essa a função geoestratégica das ilhas na era dos Descobrimentos e nos tempos da navegação com base na energia eólica. Os territórios insulares funcionavam como entrepostos para abastecimento de alimento, combustível e também para comércio.

 

O caso do arquipélago da Madeira é ainda mais vincado neste aspeto. Foi nesta região insular que Portugal afinou o modelo de exploração económica da indústria do açúcar, para a expansão ultramarina que se verificou no Atlântico Sul, sobretudo no Brasil. A Madeira foi o laboratório de inovação de um modelo industrial bem-sucedido.

 

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mas a oportunidade de inovação de negócio mantém-se. Uma das cadeias de valor da economia do mar que pode ser desenvolvida na Madeira é a das tecnologias digitais para o oceano.

 

O mar é um ambiente hostil para a recolha de informação, pois o ambiente líquido e com diferentes níveis de pressão coloca grandes desafios na tecnologia de instrumentação. Não só o som, a imagem e os aromas propagam-se de forma diferente no oceano do que na atmosfera ou no vácuo, como também os materiais têm de ter uma resiliência especial.

 

Além disso, mesmo a tecnologia de drones marítimos (superfície e submarinos) tem uma autonomia limitada. É sempre muito difícil (e caro) obter dados do oceano profundo e em determinadas zonas de mar alto. E a estes fatores temos de adicionar a fraca infraestrutura de comunicação de dados nos territórios insulares.

 

Contudo, acontece que a Madeira tem uma conjugação de fatores que a tornam num apetecível laboratório de inovação para as tecnologias digitais do oceano: um cabo submarino de dados que atravessa a Madeira ligando a América do Sul à Europa com atracagem final no Porto de Sines; Selvagens; a maior área marinha protegida do Atlântico Norte; e a ARDITI-Observatório Oceânico da Madeira.

 

Primeiro, ter acesso direto a um cabo submarino de dados significa ter acesso à melhor qualidade de transmissão de informação em volume e velocidade. Significa que a Madeira pode explorar a criação de uma indústria de "data centres" de grande capacidade, especializados em dados do oceano, com capacidade para criação de um "digital twin" da ZEE da Madeira.

 

Segundo, para criar esse "digital twin", a recolha de dados poderá ser realizada por uma frota robótica lançada a partir das várias ilhas que compõem o arquipélago, a qual poderá ser gerida pela ARDITI-Observatório Oceânico da Madeira, entidade que, sob a liderança de Rui Caldeira, tem desenvolvido um trabalho discreto, mas muito consistente, em parceria com os principais centros de robótica oceânica nacionais e internacionais. Com este tipo de iniciativa, rapidamente a Madeira tornar-se-á um laboratório de inovação internacional para a indústria digital e de robótica oceânica, até para a tecnologia de duplo uso usada pela Marinha.

 

Terceiro, o Governo Regional da Madeira avançou com uma iniciativa assaz estratégica para a sustentabilidade e soberania nacionais: em parceria com a Fundação Oceano Azul, transformou a reserva natural das Ilhas Selvagens numa Área Marinha Protegida, a maior do Atlântico Norte. É aqui que o digital e o "verde" se podem cruzar para criar negócios sustentáveis. Lançar um projeto para criar o primeiro "digital twin" da maior área marinha protegida do Atlântico Norte, as Ilhas Selvagens, é uma via interessante a explorar: porque não criar um produto de turismo digital sustentável (uma experiência virtual imersiva no mar pristino das Selvagens), monetizando-o com base em criptoativos convertíveis em serviços turísticos na Região?

 

Passou o tempo de contemplar as oportunidades, este é o momento de as concretizar!

Ver comentários
Mais artigos de Opinião
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio