Opinião
Uma muito boa notícia
As pessoas conformam-se, cada vez mais, com a falta de princípios, a falta de ética, a falta de correção. Depois da saúde, não há bem maior do que a honra de uma pessoa.
Não sei se as pessoas se recordam de umas notícias sobre o Carlos Pinto, antigo presidente da Câmara da Covilhã, e eleito vice-presidente do Partido Aliança no Congresso de Évora, nos dias 10 e 11 de fevereiro de 2019, ou seja, há pouco mais de um ano. Uma semana e tal depois, apareceu num canal de televisão, pelo menos, uma daquelas notícias bombásticas em que um determinado indivíduo é mencionado, mais ou menos, como se tivesse assaltado o comboio de Glasgow. Fala-se logo de que é suspeito ou investigado por uma série de crimes, coisas horríveis que, em princípio, arruinariam logo a reputação de qualquer pessoa. Diz-se logo que houve uma investigação, das autoridades competentes, e que por sua causa estará acusada ou indiciada de não sei quantos crimes. É evidente que a notícia é logo reproduzida em diversos espaços noticiosos e uma pessoa fica na prática condenada, perante a opinião pública.
Por coincidência, essa notícia surgiu a seguir ao congresso, um congresso que todos tinham reconhecido ter sido um sucesso para um partido que tinha uns poucos meses. Quando falo em coincidência, não estou a fazer nenhuma insinuação, estou a constatar um facto. A investigação podia ter acabado, ou a notícia podia ter saído duas semanas antes ou um mês depois, mas não, foi ali mesmo naquela altura em que prejudicou muito o efeito do congresso. Nunca mais nos largaram: se o Carlos Pinto se havia de demitir, se íamos passar por cima de uma situação supostamente tão grave. Com muitas dúvidas, lá recorremos à figura a suspensão de funções de vice-presidente, mas nunca o substituindo, sempre à espera do regresso.
Passou mais de um ano, e a decisão saiu esta terça-feira: Carlos Pinto foi absolvido, e o processo foi arquivado. Não quero deixar de dizer que ele tem todo o direito a que aqueles que deram espaço a notícias sobre acusações que punham em causa a honestidade de Carlos Pinto devem agora, por uma questão de honra e de decência, dar o mesmo espaço às notícias de que ele é inocente e até àquilo que o juiz disse na leitura da sentença.
As pessoas conformam-se, cada vez mais, com a falta de princípios, a falta de ética, a falta de correção. Depois da saúde, não há bem maior do que a honra de uma pessoa. Não falo por causa de nenhum partido, falo tão-só por causa do respeito pela dignidade do ser humano. A sentença podia ter sido outra, nunca ninguém pode ter a certeza absoluta, mas mesmo que o tivesse sido, eu não mudaria a minha opinião sobre Carlos Pinto, porque o conheço há décadas. Mas ainda bem que a sentença foi assim, para que aqueles que não o conhecem não fiquem a julgar sobre ele o que não devem.
É uma tristeza que, neste mundo, a honra das pessoas seja tratada assim. Mas quero acreditar que quem preza a decência nas relações humanas tudo fará para reparar aquilo que aconteceu. O povo costuma dizer que só se vive uma vez embora, quem tenha fé, acredite em algo mais. Mas nesta vida terrena, se nos mancham a honra sem fundamento é um crime sem perdão. Costumo dizer que só mancha a honra dos outros quem não tem grande ideia acerca de si próprio. Uma coisa é o trabalho das autoridades competentes, que agem no cumprimento do seu dever a investigar, perante factos ou denúncias. Outra é a manipulação no modo e no tempo de comunicar matérias tão sensíveis. Espero que Carlos Pinto volte depressa porque o país precisa de homens inteligentes, corajosos e desassombrados, como é o seu caso. Fico muito feliz por ele, pela sua família, pelos seus netos gémeos que em breve, se Deus quiser, vão nascer. Num mundo, numa situação tão complicada, esta foi uma muito boa notícia.