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05 de Setembro de 2019 às 20:50

Uma lição de oito semanas

Na história da Branca de Neve, se bem me lembro, a Rainha Má, ou Madrasta, perguntava ao espelho se havia no mundo alguém mais bonito do que a própria. Neste caso, a pergunta é obviamente bem diferente, e não é uma história de ficção, é a realidade, e não preciso de perguntar a nenhum espelho, nem a nenhum polígrafo. Tenho a certeza de que não há ninguém que conheça o país melhor do que eu.

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Julgo que serei o único português que andou a correr o país nestas últimas oito semanas. Não sei se há alguma profissão que também tenha implicado essas viagens, mas a verdade é que andei desde o Algarve ao Alentejo profundo até Viana do Castelo, Vila Real e Bragança. Na história da Branca de Neve, se bem me lembro, a Rainha Má, ou Madrasta, perguntava ao espelho se havia no mundo alguém mais bonito do que a própria. Neste caso, a pergunta é obviamente bem diferente, e não é uma história de ficção, é a realidade, e não preciso de perguntar a nenhum espelho, nem a nenhum polígrafo. Tenho a certeza de que não há ninguém que conheça o país melhor do que eu.

 

E em cada volta, e no meu caso já são muitas, aprende-se sempre muito. O ensinamento principal que tiro desta grande jornada é que, apesar de tudo, o setor privado, a sociedade civil e as suas instituições andam para diante, modernizam-se, inovam, viram-se para o mundo, enquanto o Estado bloqueia, tem os serviços a responderem cada vez mais tarde, com demoras maiores. Dentro desta ideia geral, há um dado específico que muito me tem impressionado e que é o do papel dos institutos politécnicos nas comunidades em que se inserem. Aqueles que tenho conhecido e aqueles de que me têm falado desempenham um papel cada vez mais relevante na formação, como é próprio, mas também na investigação e na ligação à realidade empresarial e económica do território em que estão integrados.

 

Além dos politécnicos devo mencionar a Universidade de Trás os Montes e, especificamente, o seu Parque Tecnológico. Mas permitam-me que me detenha, mais um pouco, no caso dos politécnicos.

 

Tem sido notícia e tema recorrente, ao longo dos anos, a luta dos politécnicos pelo reconhecimento e competências que entendem dever caber-lhes, bem como alguma tensão entre o seu estatuto e o das universidades. Exemplo dessa tensão é a que resulta da possibilidade de os politécnicos poderem ter doutoramentos. Acontece que, na generalidade dos casos, essas instituições já orientam doutoramentos, precisando os doutorados depois de uma instituição universitária onde façam as suas provas. Esta dialética, algo confrontacional, entre politécnicos e universidades, mesmo sem laivos "bélicos", deve ser clarificada. Há disputas ou divergências por designações de cargos ou matérias equivalentes, que poderão ser mais facilmente resolvidas. Outras, em matéria de competências, nomeadamente na área pedagógica, são mais sensíveis e exigem um esforço grande das várias partes envolvidas no processo.

 

O que importa é ver o país assumir o papel relevante que os politécnicos desempenham. É indiscutível o relevo das universidades na vida dos países e, obviamente, também em Portugal. Em nada esse papel e esses estatutos serão diminuídos com a clarificação desta matéria e a estabilização do quadro em que estas instituições atuam. De tempos a tempos sai legislação, como ainda recentemente aconteceu, mas ainda há muita floresta por desbravar. É fundamental que assim aconteça, nomeadamente para a coesão territorial com a correção das assimetrias entre as diferentes parcelas do território português.

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