Opinião
Política à "la minute", alternativas e simpatia
O programa que o PS apresenta demonstra uma fé maior na evolução da economia portuguesa do que aquela que é evidenciada pelo próprio Governo. O PSD podia, pelo menos, ter aproveitado isso mais e, tanto quanto se me foi dado a escutar, isso não aconteceu…
1. Com toda a franqueza, por razões de trabalho, ainda não tive o tempo necessário para analisar, com a devida atenção, o documento apresentado pelo Partido Socialista (PS) e por um grupo de economistas que designou, quanto ao enquadramento macroeconómico que prevê para os próximos anos e que servirá de base para as propostas que quer apresentar. Diga-se, no entanto, em abono da verdade, que seja bom ou mau enquadramento, o PS cumpriu o seu dever, de dizer aquilo que pensa sobre o presente e o futuro da vida dos portugueses. Não se diga mal, quando não existe, e mal logo que é anunciado.
Esta idade da comunicação tem estas exigências, às vezes um pouco contraproducentes: todas as forças políticas e entidades socialmente responsáveis sentem o dever de reagir logo, até porque são logo demandadas pela comunicação social para o fazer. Os tempos e as tecnologias de hoje não se compadecem com as exigências da maturação e da reflexão cuidada. Seria dificilmente compreensível, mas seria bonito, um partido responder que não podia dizer já qual a sua posição e qual o seu juízo sobre as propostas do seu concorrente, porque tinha de as analisar com tempo e com cuidado. O que os tempos de hoje exigem é a política estilo "microondas", liga e faz logo o efeito. Sublinhe-se que o PS, como é sabido, apresentou o seu programa logo após a divulgação pelo Governo do Programa de Estabilidade a enviar para Bruxelas, o qual, tal como foi salientado, configura, na prática, o programa dos dois partidos da coligação, ou da coligação dela própria, a apresentar às próximas eleições.
Curiosamente, o programa que o PS apresenta demonstra uma fé maior na evolução da economia portuguesa do que aquela que é evidenciada pelo próprio Governo. O PSD podia, pelo menos, ter aproveitado isso mais e, tanto quanto se me foi dado a escutar, isso não aconteceu… Ora, o PS não acreditará, certamente, que a economia muda e cresce mais, também instantaneamente, só por, eventualmente, haver mudança de governo. Como isso é lógica e praticamente impossível, é fácil alegar que o PS acredita nas virtualidades do caminho que está a ser trilhado em Portugal e acredita mesmo nas previsões mais otimistas para o crescimento da economia.
Há uma medida que o PS traz que estava na cara que ia aparecer no seu programa. Refiro-me à redução da taxa do IVA da restauração de 23 para 13 por cento. É das tais que era óbvia e ao não ter já previsto essa redução, os partidos da coligação só têm duas hipóteses: ou mantêm essa taxa para o setor no nível atual, transformando quase essa opção numa questão de princípio (mas cuidado, o que será insólito), ou então, alteram para o mesmo nível do PS e é uma medida a reboque. Há uma terceira alternativa: que é passar a taxa do IVA para 6 por cento, mas será difícil alguém admitir que a coligação tenha uma tão considerável mudança de posição.
2. Com franqueza, mesmo que já tivesse conseguido ler todo o documento com a devida atenção, não escreveria nunca hoje a análise mais dedicada ao seu conteúdo. Exatamente porque entendo que estas matérias requerem muita ponderação e não devemos tomar as propostas e as opções dos outros, à partida, como negativas, por força de preconceitos resultantes da competição política. Sabemos que a política, pelo menos a velha política, não é normalmente assim. As reações são instantâneas e é obrigatório dizer mal. É natural que se discorde de uma boa parte, porque os partidos são diferentes e será inevitável que tenham ideias diferentes. Mas, a situação de Portugal e de outros países europeus é tão exigente que a política devia e deve ser feita de outro modo, com outra atitude, com outro estado de espírito. Estou aliás muito convencido de que é isso que os eleitores esperam e aguardam de quem se candidata.
Virem os diferentes partidos para a praça pública dizer mal uns dos outros e de tudo o que os outros dizem faz parte de um tempo que já passou. Seria bom que dissessem "esta ideia é válida, aquela não é, esta é, as outras duas não são". Agora, o PS dizer que tudo o que PSD defende é errado, e vice-versa, é um absurdo. Pelo menos, como tem sido salientado, começou a época das legislativas e esperamos que, desse modo, o tema das presidenciais tenha alguma folga. Fazem falta, também, os contributos dos outros partidos para as escolhas poderem ser solidamente fundamentadas. Só comícios e discursos já não chega. É preciso provas dadas, autoridade moral, consistência, coerência para que os portugueses acreditem. Pelo menos nas legislativas, os portugueses não vão ter de escolher com base em chá e simpatia, mas sim, em caminhos diferentes e alternativos para a governação do País.
Advogado
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