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10 de Dezembro de 2015 às 00:01

Humilde júbilo

Inaugurou-se neste dia 8, dia da Padroeira de Portugal, o Ano do Jubileu. Foi convocado a título extraordinário pelo Papa Francisco. A título extraordinário porque na Igreja Católica os anos do Jubileu são por regra de 25 em 25 anos, ao contrário do Jubileu hebraico, que era de 50 em 50 anos.

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Por exemplo, no ano de 1800 não foi convocado o Jubileu por causa das consequências na Europa da Revolução Francesa e dos anos agitados que lhe seguiram. Mas em 1825 houve celebrações do Jubileu, embora de modo curto. Durante todo o resto do século XIX não mais foram convocadas celebrações de Jubileu. Em 1900 voltou a acontecer com o Papa Leão XIII que fez a famosa Encíclica 'Rerum Novarum' e que pretendia assinalar também a entrada num novo século. Em 1925, com o Papa Pio XI, houve ano de Jubileu, sob o lema de reconciliação e de paz, muito inspirado nos tempos de restabelecimento de uma relação consolidada entre a Igreja Católica, e nomeadamente o Vaticano, e o Estado italiano - ele próprio também tendo conhecido durante muitos anos, inúmeras vicissitudes, nomeadamente na sua configuração. Em 1950, com o Papa Pio XII foi convocado o Jubileu sob o lema do perdão, corporizando aquilo que a Igreja sentia necessário depois dos tempos do fim da II GM e do início de um novo ciclo na vida da Europa e do mundo. Em 1975, com o Papa Paulo VI, foi convocado também o Jubileu, celebrando e consolidando a renovação e a alegria trazidas pelo Concílio Vaticano II. Em 2000, com o Papa João Paulo II, celebrou-se o segundo aniversário milenar da Encarnação e a entrada no terceiro milénio. Foram celebrações que tiveram lugar durante cerca de quatro anos antes de 2000, culminando nesse ano tão simbólico. Em princípio, agora seria só em 2025, mas o Papa Francisco entendeu que devia convocar um Jubileu extraordinário neste ano de 2015 a 2016, sob o lema da Misericórdia.

 

Esta é uma história breve dos jubileus mais recentes, mas é bom que a generalidade dos cidadãos, crentes e não crentes, tenham a noção daquilo que se fala, principalmente quando é algo muito falado e, especialmente, quando é ao nível da Igreja e de uma religião por tantos professada.

 

Aqui há uns anos, a propósito de uma campanha de recolha de alimentos para aqueles que são mais desfavorecidos e passam fome, discutiu-se muito sobre qual a palavra devida para falar do fazer bem a alguém carenciado. Discutiu-se, nomeadamente, se é mais adequado falar em caridade ou em solidariedade. Houve alguns que entenderam que falar em caridade seria preconceituoso, seria próprio de uma visão classista, elitista, quase socialmente arrogante. O que importa é que ambas sejam praticadas com Misericórdia, ou seja, fazer o Bem com o coração, chegar perto de quem necessita que lhe demos a mão. Se o Papa, e um papa como Francisco I, decidiu fazer este chamamento universal para um ano de Jubileu, sob este lema do fazer Bem, é porque a Igreja na sua proverbial sabedoria sobre as dinâmicas mais profundas dos tempos sabe quanto faz falta essa prática nos tempos de hoje.

 

Quem trabalha em misericórdias e também, naturalmente, quem as dirige tem de fazer tudo para avaliar se o trabalho que é desenvolvido está à altura da razão pela qual as misericórdias nasceram. As misericórdias nasceram porque os Estados e os privados não chegam. Mas o Ano do Jubileu que o Papa convocou não é das misericórdias ou para as misericórdias é, sim, pela Misericórdia, como atitude, como prática, como necessidade, como passo e caminho no sentido do próximo.

 

Os anos de Jubileu têm de facto uma história e a perspetiva da História é sempre muito importante para compreender as realidades em tempos tão agitados como aqueles que vivemos. É bom que cada ser humano possa compreender o que está em causa com as imagens que vai vendo e com as palavras que vai ouvindo.

 

Advogado

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico 

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