Opinião
Costa e Silva: uma história
Lembro-me de ter lido, na altura, que Costa Silva criticava o deslumbramento nacional com os fundos europeus que contrastava com o desprezo a que votava a exploração dos seus recursos naturais. Isso era “música para os meus ouvidos”.
Estes são alguns textos sobre posições de António Costa Silva que, entre outras publicações, tive ocasião de ler, há cerca de ano e meio. Julgo que recebi uma intervenção feita no Congresso da CIP e que me chamou a atenção.
Confesso que fiquei muito impressionado com o que li, nomeadamente sobre as riquezas nacionais por explorar, em particular, no fundo do mar. Revi-me em muitas das suas afirmações, corajosas e fundamentadas. Lembro-me de que estávamos no início do Partido Aliança, ainda antes do seu congresso em Évora. Estávamos na fase de elaboração do programa e logo pensei que devia falar com essa pessoa que, confesso, não conhecia.
Devo esclarecer que o interesse pelas suas posições não nasceu só por funções políticas ou motivos a elas ligados. Para os muitos que não saberão, fui docente na cadeira de Direito do Mar, como assistente estagiário do Prof. Doutor Armando Marques Guedes, no primeiro ano em que foi lecionada na Faculdade de Direito de Lisboa. Só por curiosidade, tive como alunos, nessa cadeira, António Costa e Lacerda Machado. A diferença de idades é pequena mas eu tinha 26, 27 anos e a cadeira pertencia ao último ano do curso.
Voltando a Costa Silva, como referi, quis falar com ele. Pedi a uma pessoa que trabalha comigo para ligar para a secretária do próprio, presidente da Partex, como muito se tem referido nestes dias. Essa pessoa, se bem me lembro, veio-me dizer que a secretária, perguntava qual era o assunto. Eu disse que era para falar com o Senhor Professor, não podia estar a dizer o assunto. Por razões várias a conversa nunca aconteceu. Obviamente, eu não queria comprar nem vender petróleo. Queria conversar sobre Portugal e sobre as posições tão firmes e ousadas daquela personalidade que eu desconhecia.
Confesso que tive pena. Mas, paciência, segui em frente. Essa impossibilidade não me impediu de reproduzir, verbalmente e por escrito, várias das suas ideias. Só como exemplo, nunca mais deixei de falar nos sulfuretos polimetálicos no mar dos Açores e da enorme riqueza mineral que representam.
Não conto esta história para dizer que tive esta ideia antes de António Costa nem para dizer que estou de acordo com a sua opção. Estou convencido, aliás, de que não teria feito esse tipo de desafio a personalidades de fora do Governo. Mas não se pode jurar, cada tempo tem as suas circunstâncias.
O que importa é ir buscar as melhores ideias e as melhores pessoas. Lembro-me de ter lido, na altura, que Costa Silva criticava o deslumbramento nacional com os fundos europeus que contrastava com o desprezo a que votava a exploração dos seus recursos naturais. Isso era "música para os meus ouvidos". Mas nunca ouvi ao vivo. E, depois, muito aconteceu. O pouco que tenho ouvido estes dias é o que menos me interessa: se vai ser ministro, se vai trabalhar pro bono, se aceitam falar diretamente com o escolhido ou só com membros do Governo... É a alcoviteirice nacional, a intriga, a conversa baixa. Vão às ideias dele e discutam-nas todas. E estudem, para saberem se ele tem razão no que defende. Só vale a pena se for para isso, para Portugal subir, melhorar, progredir, enriquecer. Isto não está para se perder tempo. Importa aproveitar todas as oportunidades e lá vamos nós para outra recuperação ou à procura de outra saída limpa ou mais ou menos airosa.
Que haja nível, que se eleve o nível, que se trate com elevação opções de consequências tão relevantes para todos nós. Leiam, por exemplo, os que não conhecem, o que está nos links que inseri no início. Será um bom começo.
Advogado