Opinião
Contra tudo e contra todos
E não se argumente com falta de interesse dos jovens... Em primeiro lugar, o interesse suscita-se, desperta-se, forma-se; em segundo lugar, se há figura que vejo muitos jovens interessados em conhecer é exatamente a de Francisco Sá Carneiro.
Fez esta segunda-feira 40 anos que ocorreu a primeira vitória da Aliança Democrática: dia 2 de dezembro de 1979.
É sintomático do estado em que está a direita, e também o centro, que praticamente ninguém tenha evocado essa data. A comunicação social não o fez e compreende-se, de certo modo, porque os recursos são poucos e, na maioria dos casos, muito jovens. Mas, caramba: nem o PSD nem o CDS disseram uma palavra que fosse sobre o assunto.
O Muro de Berlim caiu há 30 anos e, obviamente, todos assinalam, e bem, por toda a Europa e em muitos sítios do mundo. O 2 de dezembro de 1979 foi um acontecimento nacional e não internacional. Mas foi muito relevante em Portugal. Há décadas que a oposição não ganhava umas eleições em Portugal. Durante os 48 anos do regime de Salazar, por razões que se conhecem e, depois do 25 de Abril, foi essa a primeira vez. Como assinalámos na semana passada, nessa altura, ainda não se vivia em plena democracia. Mas para lá se caminhava e essa vitória contribuiu significativamente para esse objetivo ser alcançado.
A História em Portugal não pode ser só a que interessa a um determinado setor político. E não se argumente com falta de interesse dos jovens... Em primeiro lugar, o interesse suscita-se, desperta-se, forma-se; em segundo lugar, se há figura que vejo muitos jovens interessados em conhecer é exatamente a de Francisco Sá Carneiro.
Ter-se-iam justificado - e justificam-se - cursos, seminários, programas e publicações sobre esse acontecimento histórico. A chamada direita, em Portugal, bem precisa de exemplos que a estimulem. Aqui há meses surgiu em Portugal um movimento que diz querer unir a direita, e que escolheu como designação 5.7, por ser a data da assinatura do acordo de constituição da AD. No âmbito desse movimento, foi publicado um livro "Linhas Direitas", que gentilmente me foi enviado pelos autores, Miguel Morgado e Rui Ramos. Curiosamente, nem esse movimento fez a devida evocação da data, nem os candidatos às lideranças do PSD e do CDS se lembraram. É estranho e não é bom. Nada começa em absoluto no preciso momento em que iniciamos algo. Há sempre antecedentes, motivos, pressupostos, razões. A História constrói-se com memória. Esquecê-la é caminhar por estradas sem luz. E quem quer unir não deve discriminar. Francisco Sá Carneiro foi o mais discriminado de todos. Não o convidavam para os círculos de intelectuais ou até dos financeiros poderosos. Snu Abecassis e, em certa medida, Natália Correia, quebraram esse gelo e enfrentaram esses preconceitos. Décadas depois, as figuras de cera da direita portuguesa continuam a cometer os mesmos erros. Por isso também, a chamada esquerda vai durando.
Consoante os destinatários: se não sabem, estudem, leiam, cultivem-se. Ou acordem. Celebrem. Ensinem. Ou não sejam sectários. Ou trabalhem e cumpram o vosso dever. A democracia agradece.
Advogado