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02 de Outubro de 2014 às 00:01

As asas de Moedas, de Costa e da TAP

António Costa distanciou-se em várias matérias da política ambiental do Governo, mas tudo fez, enquanto presidente da Câmara, para um acordo com as Águas de Portugal sobre as infraestruturas de saneamento de Lisboa.

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1. Carlos Moedas parece ter passado com brilhantismo a sua "prova" no Parlamento Europeu. Quer correligionários, quer adversários políticos foram lestos a reconhecer a capacidade e facilidade com que expressou as suas posições nos mais variados idiomas. Tendo-se apresentado sob o lema de que é preciso inovar a inovação, transmitiu aos eurodeputados presentes os resultados da sua formação, quer na cultura anglo-saxónica, quer na cultura continental. Carlos Moedas trabalhou com a troika, mas não se inibiu de dizer que nem sempre concordou com ela. Esteve obrigado, naturalmente, à solidariedade governamental, mas, agora "solto", vai poder demonstrar de modo mais cabal as qualidades que o têm distinguido nas várias funções exercidas. Como tive ocasião de dizer logo que Carlos Moedas foi indigitado, estou convencido de que Portugal se vai orgulhar do seu novo comissário. Também António Vitorino percebeu logo desde o início que a escolha podia dar bons resultados.

 

2. A escolha de António Costa como candidato a primeiro-ministro representa obviamente um novo ciclo. Algumas diferenças em relação ao Governo vão ser marcadas de modo mais intenso, mas pode acontecer que, apesar de estarmos a um ano de eleições legislativas, também surja uma capacidade reforçada de estabelecer consenso. Normalmente, quanto mais fortes são as lideranças, mais possibilidades têm de fazer acordos à partida difíceis. António Costa criticava muito Vítor Gaspar, mas foi capaz de fazer com ele o acordo dos terrenos do aeroporto. Muitos atacavam Miguel Relvas quando António Costa foi capaz de se entender com o ex-ministro de forma profícua em diversos dossiês. António Costa distanciou-se em várias matérias da política ambiental do Governo, mas tudo fez, enquanto presidente da Câmara, para um acordo com as Águas de Portugal sobre as infraestruturas de saneamento de Lisboa. Será capaz de se entender com o Governo sobre algum alívio na carga do IRS como António José Seguro fez em relação ao IRC? Será capaz de começar a desbravar caminho com o Governo sobre a reforma do sistema de Segurança Social, conforme Pedro Passos Coelho tem sugerido? Como referi, estamos a um ano de eleições, mas os líderes que querem ser fortes têm de saber surpreender. Seguro, cada vez que tentava um acordo com o Governo, "caía-lhe tudo em cima"… Com António Costa vai ser diferente: quando fizer um acordo os seus correligionários vão dizer que é um estadista.

 

3. As notícias que têm surgido sobre a TAP constituem um motivo de preocupação. Como é sabido, todas as semanas, e às vezes "dia sim dia não", surgem novos dados sobre o regresso de aviões depois de iniciada a viagem, mesmo quando já vão a meio caminho ou, num caso, quando já estão perto do destino, depois de seis horas de voo. Vão surgindo explicações de que é normal, mas todos sabemos que não é tão normal assim um tão grande volume deste tipo de acontecimentos. Depois são muitas queixas de muitos voos que atrasam a toda a hora, reforçando um sentimento generalizado de alguma desconfiança e descontentamento em relação a uma empresa que tem sido tão bem gerida pela equipa de Fernando Pinto. Não estou a dizer que passaram a maus gestores ou que a culpa é de "a" ou de "b". Mas sabe-se que muitos técnicos de manutenção e pilotos foram contratados por companhias estrangeiras. Tudo o que vai chegando, por diferentes vias, ao conhecimento dos portugueses, suscita natural preocupação. Não vale a pena olhar para o lado e ignorar a profunda necessidade que a empresa tem de ser capitalizada. Está obviamente na hora de enfrentar essa realidade, sejam quais forem as opções que o Governo entender tomar.

 

Advogado

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.

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