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30 de Maio de 2019 às 21:03

As salas de cinema

Não nos devemos deixar impressionar pelas modas nem por aquilo que alguns sábios sempre disponíveis proclamam aos quatro ventos. Modas são modas, convicções são convicções e às vezes aquilo que parece ter vindo para ficar mais não é do que uma realidade circunstancial.

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1. Recordo-me de uma época na década de 80 do século passado em que tendo surgido os filmes em cassetes de vídeo nasceram muitas casas comerciais onde as pessoas iam alugar filmes. As famílias começaram a comprar os seus aparelhos de vídeo ligados às televisões e passou a ser grande fonte de entretenimento, nomeadamente aos fins de semana. Havia clubes de vídeo um pouco por todo o lado, uma pessoa chegava, depois de já estar inscrita, levava as cassetes que tinha alugado antes e trocava por filmes novos. Dizia-se então que os cinemas iam acabar e, na verdade, o número de espetadores nas salas de cinema diminuiu bastante e desapareceram mesmo várias salas de grande tradição. Em Lisboa, que me lembre, talvez das mais simbólicas que desapareceram, por diferentes razões, tenham sido o Monumental na praça Saldanha e o Império que tinha incluso o cinema Estúdio. Lembro-me de bons filmes que vi nessas salas, só para dar exemplos: No Império "Kramer versus Kramer" com Dustin Hoffman e Meryl Streep, no Estúdio a Fonte da Virgem de Ingmar Bergman e no Monumental "A Filha de Ryan", com Sarah Miles.

 

2. Como é sabido, as previsões não se vieram a confirmar. As salas de cinema remodelaram-se, readaptaram-se, modernizaram-se e as pessoas, anos mais tarde, com ou sem pipocas, voltaram a preferir ver filmes nas salas de cinema. Hoje em dia há os computadores, os I-pads, as séries, as "Netflix" mas os cinemas, no geral, continuam cheios. Em 1990 iniciei as minhas funções como Secretário de Estado da Cultura, trabalho que desenvolvi durante 5 anos a nível do Conselho de Ministros da Cultura em Bruxelas e naturalmente em Portugal e tive ocasião de acompanhar essa recuperação do áudio visual e nomeadamente das salas de cinema. Questão semelhante acontece atualmente com os jornais e com o dilema entre a imprensa em papel e a imprensa digital. A evolução dessa realidade e respetivo resultado final ainda estão por apurar, embora se conheça a crise.

 

3. Mas interessa agora reter aqui essa história das salas de cinema. Não nos devemos deixar impressionar pelas modas nem por aquilo que alguns sábios sempre disponíveis proclamam aos quatro ventos. Modas são modas, convicções são convicções e às vezes aquilo que parece ter vindo para ficar mais não é do que uma realidade circunstancial. Houve quem, na altura, tivesse dito que não havia nada de melhor para ver um filme do que uma boa sala de cinema, um bom ecrã e uma boa acústica. Ainda agora se falou muito nisso a propósito do filme sobre os "Queen" e do filme de Lady Gaga. À época, quem dizia isso era olhado como velho do Restelo. Só que a verdade veio ao de cima porque houve quem não desistisse dela. Com efeito, nesse domínio, não há nada como uma boa sala de cinema para se ver um bom filme. Como seria se todos tivessem desistido?

 

No mundo de hoje, andam por aí várias questões semelhantes. Eu gosto muito de animais, especialmente de cavalos e de cães. Mas não tenho dúvidas que uma pessoa, em qualquer estado em que se encontre, é sempre mais importante. Como não tenho qualquer dúvida de que a cultura da vida é incomparável com as condutas que levam á degradação da condição humana. Por vezes, pode haver dificuldade em se entender o que se passa à nossa volta. Mas é exatamente nessas alturas que é importante não ceder, manter o rumo, conservar a nossa estrutura de princípios e valores. Os exemplos valem o que valem e as comparações devem ter o devido desconto. Mas o que importa é lutar sempre por aquilo que consideramos mais importante para as pessoas e para o mundo, mesmo que nos digam que anda muita gente a puxar noutros sentidos.  

 

Advogado

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