Opinião
A "governance" da Caixa
Os sinais são cada vez mais importantes, quando a Caixa precisa de 2, 3 ou 4 mil milhões de euros (também há muitas opiniões diferentes nesta matéria) vamos fazer um conselho de administração enorme?
1. A Caixa Geral de Depósitos é, de facto, um problema quase tão gigantesco como o edifício da sua sede. Estou razoavelmente convencido de que as indefinições e os erros no modelo de governação da CGD são duas das razões para os resultados que se conhecem. Independentemente, do mérito de muitas pessoas que têm integrado os diferentes conselhos de administração.
O facto é que a Caixa apresenta um buraco, nos últimos dez anos, que levou e leva à necessidade de mais de 7 mil milhões de euros de reforço de capital. No tempo curto que estive como primeiro-ministro tive também essa situação para resolver, juntamente com o ministro das Finanças, Bagão Félix. Havia um poder mais executivo de Mira Amaral e outro mais de "chairman" de António de Sousa. Os conflitos eram consideráveis e, para resolver a situação, decidiu o Governo substituir os dois dirigentes, pessoas com mais do que provas dadas, simplificar a estrutura e o processo de decisão, e nomear um único conselho de administração com um único presidente, tendo na altura sido escolhido Vítor Martins.
Já em governos anteriores tinha havido complicações. Não me estou aqui a referir a lutas pessoais, muitas vezes os conflitos surgem de respeitáveis diferenças de opinião, mas às vezes também só têm por trás lutas de poder. Na altura, também na TAP, tive de resolver uma grande divergência quanto à gestão da companhia entre Cardoso e Cunha, que muito admirava e respeitava, e Fernando Pinto, que eu admirava à distância.
Eu e o então ministro dos Transportes, António Mexia, decidimo-nos por afastar Cardoso e Cunha e dar o poder a Fernando Pinto. Por sinal, entre públicos e privados, 12 anos depois continua a ser o homem escolhido para liderar a TAP.
2. Perante a situação económica e politicamente tão intensa que a CGD atravessa, é ainda mais importante acertar no modelo de "governance". Por mim, não acredito em estruturas dualistas de poder. Tenho de saber quem manda. Uma coisa é trabalhar em equipa e procurar partilhar decisões, outra completamente diferente é a indefinição de poder e competências. A esse propósito, parece que tudo se encaminha para que o poder seja concentrado em António Domingues, que não conheço, mas de quem todos ouvimos falar da sua qualidade.
Mas de facto, se se sabe tão bem quem deve governar a Caixa, para quê 19 administradores?
Os sinais são cada vez mais importantes, quando a Caixa precisa de 2, 3 ou 4 mil milhões de euros (também há muitas opiniões diferentes nesta matéria) vamos fazer um conselho de administração enorme?
Julgo que o tema merecia ponderação.
3. Na equipa anterior, a estrutura de gestão também era algo complicada. Mas com o tempo e alguns ajustamentos, o poder de decisão, pelo que me pude aperceber, foi ficando com José Matos na lógica de "chairman" e em muitas áreas com Nuno Fernandes Thomaz. Na hora em que saem merecem uma palavra, pelo enorme trabalho realizado, e no caso de Fernandes Thomaz, com salário de gestor de terceira, importa referir que fez um grande trabalho e honro que tenha feito parte do meu Governo. Posso dizer, mais um membro desse Governo de grande categoria.
E a propósito dos salários dos gestores da CGD, devo dizer que aí estou de acordo. Com o princípio de se pagar muito melhor aos que são muito melhores do que a média.
Já quase não se ouve ninguém defender a ideologia comunista, mas às vezes, nomeadamente em Portugal, há umas tentativas de ir buscar alguns dos seus pressupostos. Manda a verdade dizer que, já ninguém ousa defender quase ideologia nenhuma, perante o que se vai vendo nessa matéria todos vão disfarçando.
Advogado