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16 de Janeiro de 2019 às 21:00

A melhor solução

Foi um dos processos mais conseguidos, nos últimos anos, por uma União que tem andado, quase sempre, de falhanço em falhanço. Bruxelas e os 27 não podiam fazer mais do que fizeram.

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O que se passa com o Brexit é a demonstração de uma enorme irresponsabilidade por parte do Estado que o desencadeou.

Não falemos já do início do processo e do modo como David Cameron recorreu ao referendo convencido de que ultrapassava dificuldades políticas que então enfrentava. Diz o Povo, e bem, que "o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita". E, mais uma vez, a realidade parece dar razão.

 

Se o referendo tomou a decisão que tomou, o Governo e o parlamento deviam ter construído um envolvimento diferente daquele que se tem visto. Não se pode andar a brincar com o destino de um povo para além do presente e futuro de milhões de cidadãos estrangeiros que vivem no território do Estado que tomou uma tal decisão.

 

A irresponsabilidade e o tom de leviandade aconteceram logo a seguir à votação quando Farage anunciou a saída da liderança do seu partido. Então ganhou, celebrou, rejubilou combate mudança e, na mesma hora, anuncia que se vai embora? Incompreensível. Logo após, entra Boris Johnsin, como Ministro dos Negócios Estrangeiros, o que também não augurou nada de bom. E assim se confirmou: deslealdade misturada com insuportável narcisismo, levou a um salto do barco que começava a afundar. Depois, começou a formar-se uma gigantesca onda de rejeição do acordo celebrado com Bruxelas pela Senhora May. Uma rejeição que transmitiu sempre a ideia de que o voto seria contra, fosse qual fosse o texto.

 

Do outro lado, a União Europeia fez um grande trabalho. Houve competência e muito empenho do Comissário Michel Barnier e demais equipas técnicas e uma enorme vontade política dos diferentes Estados-membros, independentemente da cor política dos respetivos Governos. Foi um dos processos mais conseguidos, nos últimos anos, por uma União que tem andado, quase sempre, de falhanço em falhanço. Bruxelas e os 27 não podiam fazer mais do que fizeram.

 

Agora que o acordo chumbou por tão expressiva margem, só faz sentido perguntar como deixaram o processo chegar até aqui? Se era este o ambiente existente e este o desfecho previsível, teria sido preferível atalhar a meio caminho.

 

E agora? Agora, o mais lógico e sensato, depois de tudo o que aconteceu, será dar a voz ao povo. Disse num debate com António Vitorino, logo na semana seguinte à votação do primeiro referendo, que previa, e desejava, que viesse a haver um segundo. Não vejo melhor solução. Insistir ou forçar um outro acordo é um risco enorme, para os próprios cidadãos do Reino Unido. Um hardbrexit também é de consequências imprevisíveis. É necessária nova legitimidade para os passos seguintes. Esta correria para o abismo não deve continuar. Impõe-se bom senso e é precisa coragem, muita coragem.

 

Advogado

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