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05 de Setembro de 2021 às 21:31

Próximo OE vai seguramente ter abstenção do PCP e o voto contra do Bloco

As notas de Marques Mendes no seu comentário semanal na SIC. O comentador fala sobre a vacinação contra a covid-19, dos primeiros debates para as autárquicas, da sucessão no PS e PSD, do OE 2022, entre outros temas.

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A VACINAÇÃO EM DIA HISTÓRICO

  1. Hoje é um dia histórico: toda a população portuguesa que queria ser vacinada e que tinha idade para ser vacinada está vacinada com a primeira dose. O primeiro objectivo definido está alcançado – 85% da população já tem, pelo menos uma dose. É toda a população que pode ser vacinada (menos 12% de crianças abaixo dos 12 anos); e toda a população que queria ser vacinada (só cerca de 3% recusaram a vacina). Em oito meses e uma semana. Notável.

O segundo objectivo – 85% com a vacinação completa – será alcançado dentro de duas ou três semanas. Até final de Setembro acaba o processo de vacinação.  Isto é histórico. Motivo de orgulho para o País.

  1. A realidade que temos pela frente é impressionante:
  2. À escala global – Somos o 2º país do mundo e o 1º da UE com mais doses administradas em percentagem da população;
  3. Por faixas etárias – A generalidade das faixas etárias tem níveis de vacinação muito acima de 90%.
  4. Vacinação nos jovens – Apesar das dúvidas que existiam em relação aos mais jovens, as expectativas foram superadas.
  5. Finalmente, este resultado ainda pode subir ligeiramente (para 86% ou 87%) com a vacinação de imigrantes irregulares.
  6. Aqui chegados, há quatro saudações a fazer:
  • Ao Almirante Gouveia e Melo. Foi o líder do sucesso desta tarefa ciclópica. Simbolicamente falando, merece uma estátua!
  • Aos profissionais do SNS, designadamente os enfermeiros. Não foram notórios, mas foram notáveis na competência e dedicação.
  • Aos autarcas – A sua colaboração foi exemplar, designadamente na criação de grandes centros de vacinação.
  • Aos portugueses. Este sucesso só acontece porque os portugueses confiam nas vacinas. Demonstram maturidade e responsabilidade. Ao contrário do que sucede em grandes países da UE e nos EUA.
  1. Muitos perguntam: agora volta tudo ao normal? Ainda não. Temos de nos habituar a viver com este vírus. Muita coisa mudou mas ainda não muda tudo.
  • Primeiro, a pandemia é, por definição, universal. Enquanto o mundo não estiver todo vacinado, a pandemia não acaba.
  • Segundo, enquanto o mundo não estiver vacinado , há o risco de surgirem novas variantes. Já há mais uma à espreita, na Colômbia.
  • Terceiro: há 3 coisas positivas: a vacinação não elimina o número de mortos mas diminuiu-o brutalmente; não extingue a infecção grave, mas reduz fortemente o seu impacto; pode haver vacinados infectados, porque a vacina não protege a 100%, mas o número é irrisório.

 

DEBATES AUTÁRQUICOS

Debate sobre Lisboa – Não houve vencedores nem vencidos. Mas há três destaques:
  1. Primeiro: um empate entre Moedas e Medina. Ambos cumpriram os seus guiões e as suas estratégias. Importante vai ser o debate que os dois, sozinhos, vão ter dentro de dias. Porque um dos dois será Presidente. Aí, Moedas precisa de vencer o debate e captar o voto útil à direita.
  2. Segundo: francamente mal esteve o candidato do Chega. No conteúdo e na forma. Nem parecia uma pessoa da área da comunicação.
  3. Terceiro: o facto político do debate foi a disponibilidade de João Ferreira para trabalhar com Medina, a seguir às eleições. A "oferta" foi tão directa que até parecia politicamente obscena. Mostra bem como o PCP precisa de estar próximo do poder para satisfazer os seus interesses e clientelas.
Debate sobre o Porto – Aqui foi diferente. Rui Moreira foi o vencedor. Não foi empolgante mas foi o vencedor. Esteve seguro, tranquilo e confiante. Está a caminho de um resultado histórico. Os demais candidatos não se afirmaram. Boa excepção foi Bebiana Cunha, do PAN, que mostrou estar preparada.
  • O candidato do PS parecia mais delegado do Governo no Porto que candidato a Presidente da Câmara. Corre o risco de ter um mau resultado, muito inferior ao de Manuel Pizarro há 4 anos.
  • O candidato do PSD é competente, mas é mais um número dois que um número um. E há uma grande curiosidade na estratégia do PSD: sente-se uma grande animosidade do PSD contra Rui Moreira. O mais curioso, porém, é recordar que há 8 anos, em 2013, quem lançou Rui Moreira para Presidente da Câmara foi Rui Rio, o actual líder do PSD. Mesmo contra uma candidatura do próprio partido. As voltas que o mundo dá!!

 

A SUCESSÃO NO PS E NO PSD

  1. Temos dois processos de sucessão em curso. No PS e no PSD. O do PS, para ser concretizado em 2023, é muito parecido com o de Cavaco Silva, em 1995.
  • Primeiro, muitos não acreditam ainda que Costa saia em 2023. Tal como sucedia com Cavaco Silva em 1995. Na altura também 95% dos portugueses não acreditavam na saída. E, todavia, a intenção de saída de Cavaco era bem visível. Agora é o mesmo. Digo-o aqui há meses: António Costa quer sair em 2023 por duas razões: cansaço político; e ambição de um cargo internacional.
  • Segundo, muitos não valorizam este tabu de António Costa. Mas é um grande facto político. Por um lado, dar a entender uma saída com tamanha antecedência não é normal. Pode ser um erro, retirar autoridade ao PM e coesão ao Governo. E, quando a saída se concretizar, se se concretizar, isso pode significar uma mudança radical na política nacional. Tudo igual a 1995.
  1. No PSD é diferente. É inevitável uma disputa da liderança. Causa: a falta de oposição eficaz. Com Rio ou sem Rio, o país precisa de uma oposição a sério. O que vivemos é uma anormalidade democrática. Dois exemplos desta semana:
  • Lei do Cibercrime, chumbada no TC. O Governo queria que o MP pudesse apreender correspondência electrónica sem a prévia autorização de um juiz. Uma iniciativa grave. Até deputados do PS se demarcaram do governo. O PSD, ao invés, apoiou-o. Foi "mais papista que o Papa". Agora levou uma "bofetada" do TC. Isto não é oposição.
  • DL de Execução Orçamental – Há 2 anos que o Governo não aprova um DL que é obrigatório. Está a provocar a AR e a fugir ao escrutínio. É o quero, posso e mando. Se isto sucedesse com um Governo de centro direita, caia o Carmo e a Trindade. O que faz o PSD? Pactua pelo silêncio. Isto não é oposição.
  1. Paulo Rangel será candidato à liderança? Repito o que disse em Julho: Rangel é o que está mais bem posicionado para avançar. E acrescento hoje: os sinais de que possa avançar são claros. Primeiro, a entrevista de ontem no Alta Definição – corajosa, natural e genuína; depois, a sondagem da Intercampus que saiu esta semana (CM e Negócios) – segundo a sondagem, Rangel é o preferido dos portugueses para candidato a líder do PSD.

 

FESTA DO AVANTE

  1. Primeiro apontamento: foi, sobretudo, uma grande festa de mobilização para as autárquicas. E faz todo o sentido. Estas autárquicas são um enorme desafio para o PCP. Há quatro anos, o partido teve um resultado que foi um descalabro. Agora, quatro anos depois, se o PCP não recupera algumas Câmaras, então passa de um  descalabro a humilhação. Uma nova perda autárquica será uma humilhação para o PCP.
  2. Segundo apontamento: Jerónimo de Sousa fez várias críticas ao PS e ao Governo. Faz parte da coreografia política. Convém não levar muito à letra. O PCP critica muito o PS e o Governo mas a seguir às autárquicas vai viabilizar o OE.
  • O próximo OE vai seguramente ter o mesmo tratamento do do ano anterior: a abstenção do PCP e o voto contra do Bloco.
  • E esta posição do PCP não depende do resultado das autárquicas. Tenha o resultado que tiver, o PCP não quer crises, não quer a queda do Governo e tem medo de eleições antecipadas. É o PCP que segura o Governo! 

 

CRISE NA ADSE

  1. De tempos a tempos, temos uma crise com a ADSE. O que preocupa muita gente. E com razão – a ADSE tem cerca de 1,2 milhões de beneficiários. Desta vez, são alguns grupos privados que não aceitam alguns dos valores da nova tabela de preços aprovada pela ADSE. Qual é o risco desta crise?
  • É o risco de haver um prejuízo sério para os beneficiários da ADSE. Os quais já descontam muito(3,5%). Uma vez que grupos privados não aceitam alguns dos novos valores, isto significa que não aceitam prestar alguns actos médicos. Assim, os beneficiários podem ter aqui um prejuízo. Fazem descontos grandes mas não sentem os benefícios plenos do esforço financeiro que fazem.
  • É bom que ADSE e privados se entendam. E que a ADSE tenha uma cultura de diálogo e concertação e não de imposição. Primeiro, porque, não havendo concertação, quem perde são os beneficiários; a seguir, perde a ADSE. É que antigamente a inscrição na ADSE era obrigatória. Agora, é facultativa. O que significa que beneficiários que fazem um desconto grande (3,5% do seu salário) e não têm serviços adequados, podem abandonar a ADSE e fazer um seguro privado. Isto afecta a sobrevivência da ADSE.
  1. Ainda falando de saúde, o Ministro Manuel Heitor gerou esta semana uma pequena tempestade: disse ao DN que, tal como no RU, a especialidade da medicina familiar devia ter uma formação menos exigente. Esta afirmação é um disparate completo: primeiro, é falso que no RU esta especialidade tenha um tratamento menos exigente (os britânicos até já desmentiram o Ministro); segundo, deu um sinal de desvalorização da Medicina Geral e Familiar, o que é injusto (estes médicos são a porta de entrada do SNS e, como se viu na pandemia, são fundamentais); finalmente, deu um sinal de facilitismo. O contrário do que se espera de um Ministro.
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