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Luís Marques Mendes 18 de Junho de 2023 às 21:21

Marques Mendes: uma "remodelação em pousio" e um PSD que "não capitaliza o desgaste do Governo"

No seu espaço de opinião habitual na SIC, o comentador Marques Mendes fala sobre os salários dos jovens licenciados, o fim da CPI à TAP e a sucessão no Partido Socialista, a remodelação do Governo e também sobre a Jornada Mundial da Juventude, entre outros temas.

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OS SALÁRIOS DE JOVENS LICENCIADOS

1.     A Fundação José Neves – que se especializou nas questões da educação – divulgou esta semana um importante relatório com duas mensagens claras: uma de preocupação e outra de esperança. A preocupação tem a ver com a queda dos salários dos portugueses licenciados e a sua emigração:

·      De 2011 até 2022, houve uma queda real de 13% do salário médio dos cidadãos licenciados. Uma queda brutal que explica, uma vez mais, a "fuga" dos portugueses para o estrangeiro. Estamos, infelizmente, a "exportar" os maiores talentos, como diz Carlos Oliveira, da FJN.

·      No mesmo período, os trabalhadores com o ensino secundário tiveram também uma queda salarial, ainda que ligeira, de 0,2. Sendo uma queda ligeira, é igualmente preocupante. É que estes trabalhadores, com um salário mais baixo à partida, tinham legítimas expectativas de subirem na vida. Afinal, o elevador social não está a funcionar.

 
2.     A segunda mensagem, é uma mensagem de esperança: a digitalização, a grande revolução desta década, ajuda à melhoria dos salários dos trabalhadores e ao aumento da produtividade das empresas.

·      Segundo o estudo, uma empresa com elevada componente digital tem um aumento de 20% da sua produtividade, em relação a uma empresa com baixo investimento digital.

·      Em consequência, os trabalhadores de uma empresa com forte pendor digital podem ter salários 6% acima dos praticados por empresas sem aposta na digitalização. A transição digital é o caminho do futuro.

 
3.     Entretanto, o Fórum Económico Mundial divulgou a sua previsão sobre as novas profissões do futuro. Eis os principais exemplos: especialistas em inteligência artificial; especialistas em sustentabilidade; analistas de "business intelligence"; analistas de segurança de informação; engenheiros robóticos; especialistas em Big Data; operadores de equipamentos agrícolas; especialistas em transformação digital.

 

A SONDAGEM SIC/EXPRESSO

1.     Os socialistas dizem que esta sondagem prova que o PSD não é alternativa. Os sociais-democratas, por sua vez, afirmam que o PS está em queda acentuada face às eleições. Ambos têm razão: por um lado, os portugueses acham que o Governo já nem tem as condições que tinha para governar. Afinal, 70% dos portugueses estão descontentes com o Governo. Só que ao mesmo tempo os eleitores ainda não veem o PSD como alternativa. Por isso, o PSD ainda não capitaliza o desgaste do Governo.

 
2.     O que falta ao PSD para ser visto como alternativa? Três coisas, no essencial: tempo, discurso e causas:

·      Primeiro, tempo. No tempo do cavaquismo, António Guterres precisou de mais de três anos para começar a aparecer à frente do PSD nas sondagens. Mesmo quando o cavaquismo entrou em forte desgaste.

·      Segundo, falta-lhe ter um discurso mais virado para as pessoas e menos para a bolha política e mediática. Explorar casos e casinhos é bom para a bolha, mas diz muito pouco ao povo.

·      Terceiro, falta-lhe ter causas. Seja a causa fiscal, dos salários, das pensões, do elevador social. Ao fim deste tempo todo, ainda ninguém consegue vislumbrar no PSD uma causa, uma proposta alternativa.

 
3.     O PSD devia aproveitar estas próximas férias de Verão para refletir e suprir estas lacunas. Por uma razão simples: se o PSD não ganha as próximas eleições europeias, fica fragilizado. Para o evitar, o PSD precisa de ter mais ambição.

 

REMODELAÇÃO – SIM OU NÃO?

1.     O PM tinha dito que, terminada a CPI da TAP, tiraria conclusões. A generalidade das pessoas interpretou essa ideia como havendo uma remodelação a caminho. Mas será que o PM vai mesmo remodelar? Acho que não. Primeiro, porque, mal ou bem, o PM está globalmente satisfeito com os seus Ministros. Depois, porque é difícil encontrar gente de prestígio que aceite ir para o Governo.


2.     Apesar de o País e até vários socialistas defenderem uma remodelação, o PM acha que não há Ministros a remodelar.

·      Ministros do núcleo político? Não vão sair. São pessoas da sua total confiança. Assim, estão excluídos cinco Ministros: Presidência, Finanças, Assuntos Parlamentares, Cultura e Ambiente.

·      Ministros na área do Estado? Também Não. MAI é o melhor Ministro. MNE é da confiança total do PM. MJ e MDN estão em funções há apenas um ano, com apreço do PM.

·      Ministros das áreas sociais? Também é improvável saírem. Pizarro está em funções há oito meses. A Ministra da Habitação há menos tempo. Elvira Fortunato é um peso pesado dos Ministros independentes. Ana Mendes Godinho e Ana Abrunhosa são da confiança total do PM. E tirar o ME é impossível. A meio de um processo negocial seria dar força aos sindicatos.

·      Restam três Ministros: o da Economia podia sair, mas não é provável: ainda há poucos meses, o PM o reforçou-o, permitindo a substituição dos seus três SE. Galamba é irremodelável: a sua saída seria dar ao PR a vitória que o PM lhe negou há um mês; resta a desgastada Ministra da Agricultura. Mas uma remodelação assim seria completamente pífia.

·      Claro que podia ser feita uma remodelação para reforçar a coordenação política. É uma necessidade. Podia até ser criado o cargo de Vice-PM. O difícil é encontrar a pessoa para essa função. Em teoria, o PM tem como hipóteses António Vitorino e Carlos César. O primeiro, com grande peso institucional. O segundo, com enorme peso partidário. Só que não será fácil convencê-los.

 
3.     Finalmente, o último problema: quem, nesta fase, aceita ser Ministro? Sobretudo num tempo de forte degradação política, em que nem certezas há se o Governo vai cumprir a legislatura? Não é fácil encontrar pessoas de prestígio para o Governo. Conclusão: para já, a remodelação está em pousio.

 

O FIM DA CPI DA TAP

1.     Terminaram as audições na CPI da TAP. Ainda bem. Já ninguém tem paciência para esta CPI. Nas duas últimas, Pedro Nuno Santos e Fernando Medina tiveram narrativas eficazes. As dúvidas que existiam mantêm-se. Mas o Ministro e o ex-Ministro saíram ilesos.

 
2.     Agora seguir-se-á um relatório que há-de dar grande polémica. O PS a tirar umas conclusões. A oposição a desejar outras. É sempre assim. Mas há, desde já, três conclusões a tirar:

a)    A primeira é que esta CPI causou um enorme desgaste para o Governo.

b)    A segunda é que a oposição não beneficiou muito com este desgaste.

c)     A terceira é que, por incrível que pareça, PNS é o único que tira vantagem desta CPI. Venceu as expectativas.

·      Em política, as expectativas contam, e, neste caso, as expectativas é que PNS iria ser liquidado. Não foi. Não convenceu os seus adversários nem provavelmente os portugueses. Mas convenceu os seus apoiantes e convenceu o PS. E isso é o que lhe interessa. O seu objetivo é a liderança do PS.

·      É certo que todo o caso Alexandra Reis teve um dano de credibilidade enorme para PNS. E não será fácil de reparar no país. Mas o ex-Ministro tem um crédito a seu favor: teve a coragem de se demitir e assumir responsabilidades. E isso em política conta.

 
3.     Terminou um pesadelo para PNS. E começou um novo pesadelo para António Costa. Pedro Nuno Santos está na "pole position" para ser o próximo líder do PS. É o sucessor mais provável de António Costa. A pior notícia para o PM.

 

JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

1.     A um mês do início da Jornada Mundial da Juventude, é impressionante ver os grandes números que a vão marcar:

·      Número de peregrinos. A previsão é de 1 milhão. Estre inscritos (peregrinos que pagam a sua estadia) e participantes não pagantes. Atualmente, há 254 mil inscritos, esperando-se que o número chegue aos 400 mil. Acima da Jornada de Cracóvia e algo abaixo da de Madrid.

·      Haverá 151 países a participar. Os que participam com maior número de pessoas são: Espanha, Itália, França, Portugal e EUA.

·      Estarão presentes 696 Bispos. O maior número virá destes 5 países: Itália, Espanha, França, Portugal e Brasil.

·      O programa final, ainda não divulgado, terá 515 eventos. Os mais relevantes serão: eventos de música (221); debates (58); exposições (24); teatro (21) dança (19); e cinema (18).

·      A Jornada contará com 29 mil voluntários, vindos de dezenas de Países, sendo que cerca de 500 serão adstritos à área da Saúde.

·      No alojamento e alimentação a complexidade também é grande: 480 mil pernoitas garantidas pela organização e mais de 2 milhões de refeições já contratualizadas pela JMJ.

·      A presença mediática será fortíssima. Neste momento há já 1.100 jornalistas inscritos. Mas o objetivo da organização é chegar aos 4 mil.

 
2.     Trata-se, como se vê, de um grande momento. É importante que corra bem. Importante para a Igreja Católica. É um evento católico. Mas igualmente importante para o país. Seja o país católico ou não católico. É também a imagem de Portugal que está em causa. Importa que saia reforçada.


 
SANEAMENTO DE PROFESSOR RUSSO?

1.     Não conheço o Reitor da Universidade de Coimbra e até já o critiquei publicamente uma vez. Mas desta vez ele merece ser defendido. Está a ser injustamente atacado por ter acabado com o contrato de um Professor russo, ligado a Putin.

 
2.     Ao contrário do que dizem, esta decisão não foi um ataque à cultura russa. A Universidade de Coimbra continua a ter um Departamento de Estudos Russos e vários Professores russos. É mesmo o único caso no País.  Isto é respeito pela cultura russa.

 
3.     O que houve foi o fim de um protocolo com uma Fundação perigosa ligada a Putin e um Professor que tinhas mesmas ligações. Cortar com Putin e seus apoiantes não é cortar ou silenciar a cultura russa. Pode criticar-se o Reitor por razões políticas. Mas não por atentar contra a cultura ou contra os direitos fundamentais.
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