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Luís Marques Mendes 16 de Janeiro de 2022 às 21:43

Marques Mendes: Qualquer que seja o próximo governo, PS ou PSD, não vai ser uma solução estável

No seu espaço de opinião habitual na SIC, o comentador Marques Mendes fala sobre as medidas sobre a pandemia, o balanço dos debate e as sondagens, entre outros temas.

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PANDEMIA/VACINAÇÃO

 

  1. Em relação ao estado da pandemia, vale a pena ter em atenção os dados mais recentes (15 de Janeiro) do relatório do Instituto Superior Técnico/Ordem dos Médicos a que tive acesso:
  • Pico – 20 a 24 de Janeiro
  • Casos – 40 a 50 mil diagnosticados
  • Internados – podem chegar aos 2500
  • UCI – podem chegar aos 240
  • Óbitos: 35 a 40/dia ( média no fim do mês)

 

  1. Mesmo que estes piores números se confirmem, estamos sempre muito distante dos que tivemos há um ano (15 de Janeiro de 2021):

Casos – 10.663

Internados – 4.560

Doentes em UCI – 622

Óbitos – 159

 

  1. Quanto à vacinação, vamos agora em bom ritmo:
  • Total de doses de reforço administradas: 3,8 milhões
  • Pessoas acima dos 60 anos: 83% com dose de reforço
  • Pessoas acima dos 80 anos: 90% com dose de reforço

 

  1. Vacinação de crianças: uma sugestão. Porque é que não se abre ao fim de semana um período extra de vacinação de crianças? Há muitas famílias que o pedem. É que nas datas anteriores, por várias razões, não puderam levar os seus filhos á vacinação e agora receiam que mais tarde seja demasiado tarde.

 

BALANÇO DOS DEBATES

 

  1. Um balanço muito positivo. Os moderadores estiveram bem; os temas foram diversificados; as audiências foram grandes, o que mostra o interesse das pessoas; os protagonistas estiveram globalmente em bom nível.

Sinceramente, acho que é mais útil para a democracia ter umas dezenas de debates como estes que andar a fazer campanhas por feiras e mercados para um "boneco" televisivo que às vezes é verdadeiramente deprimente.

 

  1. Analisando em concreto:
  2. A surpresa dos debates: Rui Tavares e Cotrim Figueiredo. Foram competentes e eficazes. Representaram uma lufada de ar fresco.
  3. A fazer pela vida: Catarina Martins e Rodrigues dos Santos. Foram ambos muito combativos. O Bloco a tentar evitar ser penalizado pelo chumbo do OE. O CDS a lutar pela sobrevivência.
  4. A perder gás: André Ventura. Teve entradas de leão e saídas de sendeiro. A mensagem é tão repetida que cansa. E o país ficou a perceber que não vai ter a influencia que imagina.
  5. O contraste do PAN: por um lado, a simpatia da sua líder, Inês Sousa Real; por outro lado, uma mensagem política pouco impressiva. O melhor momento do PAN foi protagonizado, não pelo PAN mas por António Costa ao "pedir": "votem" no PAN que pode dar jeito.
  6. O caso especial do PCP: o debate com o PS correu mal. Depois João Oliveira esteve bem no debate com Rui Rio. Entretanto a "baixa" por doença de Jerónimo de Sousa pode gerar um sentimento de simpatia útil ao PCP.
  7. A Liga dos grandes: PS e PSD tiveram um caminho diferente. Costa esteve muito igual e muito constante em todos os debates. Rio foi diferente – começou mal com Ventura, melhorou e acabou em alta.

 

O DEBATE COSTA/RIO

 

  1. Foi um debate muito equilibrado. Com uma ligeira vantagem para Rui Rio. Como uma sondagem feita a seguir ao debate veio reconhecer. Não é que António Costa tenha estado mal. Longe disso. Só que Rio esteve melhor. Sobretudo no plano da atitude – apareceu mais fresco, mais enérgico, mais determinado e com mais ambição que Costa. Sobretudo na mensagem económicapassou a mensagem de que o país está a perder terreno, de que tem de crescer mais e de que para tal é preciso baixar impostos.

 

  1. Posto isto, é preciso ter atenção: ganhar debates não é o mesmo que ganhar eleições. Em 2015, Costa venceu Passos Coelho e perdeu as eleições; em 2019, Rio venceu Costa e perdeu as eleições. O que a vitória nestes debates dá são duas coisas: primeiro, motivação; depois, maior capacidade de atrair indecisos. As hostes de Rui Rio estão agora mais motivadas; o PSD tem agora maior capacidade de atrair indecisos. Mas isto não garante necessariamente a vitória.

 

  1. Este debate teve uma originalidade: é que, terminado o debate com Rui Rio, António Costa resolveu fazer uma espécie de segundo debate, cá fora, com os jornalistas. E até pediu abertamente a maioria absoluta. O que não tinha feito no debate oficial. Não parece uma ideia feliz:
  • Primeiro: quem faz um "segundo" debate a seguir ao debate propriamente dito deixa subliminarmente uma mensagem: a mensagem de que "perdeu" o debate e que precisa de corrigir ou rectificar. Ora isto é uma fragilidade.
  • Segundo: ao pedir abertamente a maioria absoluta, António Costa chamou ao debate o PR ao invocar que Marcelo fiscalizará os eventuais excessos de uma maioria absoluta. Ana Gomes diz que foi uma atitude "patética". Eu acho que é, sobretudo, um sinal de fraqueza. Parece que o PM precisa do PR como muleta!

 

SONDAGENS

 

  1. A característica mais relevante das sondagens é o grande número de indecisos. Tem vindo a aumentar e não a diminuir. O que prova três coisas: primeiro, que ainda está tudo em aberto; segundo, que as pessoas vão decidir em cima da hora; terceiro, que estas são as eleições mais incertas dos últimos anos.

 

  1. Nestas eleições, que são uma espécie de "referendo" a António Costa, o PM pode ter um problema e uma vantagem:
  • Um problema: o cansaço de 6 anos de governação. Este é o maior adversário de António Costa. Um adversário que não está nos debates mas que vota nas eleições.
  • Uma vantagem: conseguir à esquerda mais voto útil do que Rui Rio à direita. Isto pode fazer toda a diferença.

 

  1. Posto isto, se António Costa ganhar, como dizem as sondagens, é obra. Essa eventual vitória não faz dele um génio político. Mas "é de se lhe tirar o chapéu". É que ele tem nesta eleição muitas fragilidades:
  • Primeiro: o desgaste de 6 anos de governo, dois dos quais de pandemia. Guterres e Sócrates caíram no 6º ano de governação.
  • Segundo: o desgaste do fim da geringonça. A geringonça foi a aposta do PM. O fim da geringonça é também uma derrota sua. Ele próprio já o reconheceu.
  • Terceiro: o desgaste de um governo fraquíssimo. É o PM mais 16 ou 17. Já nem sequer há Centeno.
  • Quarto: o desgaste do discurso contraditório. António Costa está agora a pedir uma maioria absoluta, solução que sempre rejeitou no passado.

Se, apesar de tudo isto vencer as eleições, António Costa é um caso especial de resistência e sobrevivência política.

 

QUE GOVERNO VAMOS TER?

 

  1. Comecemos pelo que não vamos ter. Não vamos ter provavelmente uma maioria absoluta; nem um bloco central; nem uma nova geringonça. Mais importante: o que aconteceu em 2015 – o PSD ganhar as eleições e o PS, segundo partido, formar governo – é, desta vez, um cenário impossível.
  • Se o PSD tiver mais deputados que o PS, mesmo sem fazer maioria à direita, Rio será PM. Três ou quatro semanas depois das eleições, apresenta o seu programa de governo na AR. E "passa" no Parlamento.
  • É que mesmo que PCP ou BE apresente uma Moção de Rejeição, o PS abstém-se. Por uma razão objectiva: nessa altura, quatro semanas depois das eleições, o PS não tem líder em pleno de funções. Costa está de saída e Pedro Nuno Santos (que deve ser o Senhor que se segue) ainda não está eleito. Uma eleição interna leva três meses a realizar.
  • Ora, sem um líder em pleno, não há PM alternativo. E sem PM alternativo não há governo alternativo. Assim, o PS abstém-se. Não o dirá antes das eleições. Mas é o que fará a seguir. É o discurso de Costa em 2015.

 

  1. Então, o que vamos ter? um governo minoritário, do PS ou do PSD.
  • Se for um governo minoritário de Costa, o PSD viabiliza, em princípio, os dois primeiros orçamentos. Rio já o disse.
  • Se for um governo minoritário de Rio, o PS fará provavelmente o mesmo. Pedro Nuno Santos, chegando à liderança, não vai querer derrubar o governo de imediato: quer tempo para se afirmar e para desgastar o adversário.
  • Concluindo: qualquer que seja o próximo governo, PS ou PSD, não vai ser uma solução estável. O que nos espera são novas eleições daqui a 2 anos. Lá para 2024.

 

ESTADO DA ECONOMIA

 

  1. Terminou o ano de 2021. Estamos prestes a conhecer os grandes números relativos ao ano passado. Ao que apurei, é muito provável:
  2. Que o PIB tenha crescido 4,8% em 2021;
  3. Que a inflação tenha ficado em 1,3%;
  4. Que o défice se situe abaixo dos 4%;
  5. Que a dívida pública fique abaixo dos 130% do PIB (cerca de 127%).

 

  1. Estes dados mostram que a crise política não prejudicou a recuperação. Boa notícia. Para o futuro, as oportunidades são grandes (é o caso da bazuca), mas as incertezas são enormes, designadamente:
  • As incertezas geopolíticas: o conflito Rússia/EUA, NATO, UE, em torno da Ucrânia é a incerteza mais séria.
  • As incertezas económicas: o caso mais sério é o da inflação. Nos EUA já chegou aos 7%. Na Alemanha está nos 5%. Pode levar à subida das taxas de juro. Um problema para a economia, as pessoas e a dívida pública.
  • As incertezas pandémicas: a pandemia ainda não terminou. Os riscos são menores do que antes. Mas continuam a existir.
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