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23 de Maio de 2021 às 20:54

Marques Mendes: Na próxima semana o concelho de Lisboa deverá ficar em situação de alerta

No seu habitual comentário semanal na SIC Notícias, Marques Mendes analisa as mudanças no plano de vacinação, os devedores do Novo Banco e as críticas no PSD, entre outros temas. Sobre a covid-19, diz que a novidade é Lisboa. "A situação está a agravar-se e na próxima semana o concelho de Lisboa deverá ficar em situação de alerta".

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MUDANÇAS NO PLANO DE VACINAÇÃO

 

  1. Mudanças no plano de vacinação
  2. O estado da arteO processo continua em bom ritmo. Estamos com quase 5 milhões de doses administradas; equilíbrio regional na distribuição de vacinas; faixas etárias até aos 60 anos estão globalmente vacinadas, pelo menos, com uma dose. Ou seja: os maiores grupos de risco estão vacinados. Está cumprida a primeira grande missão da vacinação.
  3. Mudanças no plano de vacinação – Protegidos os grupos de risco, o objectivo agora é: chegar ao maior número de pessoas e não perder as vacinas que existem face ás suas limitações etárias. Assim: vamos passar a ter, relativamente em simultâneo, três novas fases: a vacinação dos 50/60; dos 40/50; dos 30/40.
  4. O Almirante Gouveia e Melo reiterou o objectivo de ter até 8 de Agosto 70% da população vacinada. Bom sinal. Mas, se a vacina da Janssen fosse aplicada também a pessoas abaixo dos 50 anos (como sucede na maioria dos países), atingiríamos a imunidade de grupo em Julho. Um mês antes do previsto. Não era mau que as autoridades repensassem a situação.

 

  1. Em termos de pandemia, a novidade é Lisboa. A situação está a agravar-se e na próxima semana o concelho de Lisboa deverá ficar em situação de alerta.
  • Já ultrapassou os 120 casos por 100 mil habitantes e este número ainda vai subir nos próximos dias;
  • O maior número dos novos casos é nas freguesias do centro de Lisboa e na faixa etária dos 20/40 anos.
  • A boa notícia é que nos concelhos limítrofes a situação está controlada;
  • Não é uma situação grave em termos de saúde pública. Mas não é boa para a imagem da capital, desde logo no plano turístico.

 

OS DEVEDORES DO NOVO BANCO

 

  1. Já tínhamos tido as prestações de Moniz da Maia, Gama Leão e Luís Filipe Vieira. Esta semana ainda pior – Nuno Vasconcellos, ex-CEO da Ongoing. O cúmulo do descaramento ao dizer que nada deve. Esta gente dá de si própria uma imagem desgraçada e inqualificável: a ideia de maus empresários; maus gestores; pessoas sem regras, sem princípios, sem carácter e sem memória; gente cheia de descaramento, arrogância e sem pingo de vergonha. É bom que os portugueses se indignem como se indignam em relação aos políticos.

 

  1. Um jornalista competente, Bruno Faria Lopes, dizia no Negócios sobre Nuno Vasconcellos (mas podia aplicar-se a todos): gente sem dinheiro nem vergonha. Ele tem razão. Mas o problema é mais grave. É que eles dinheiro têm. Estão todos bem na vida. Não passam dificuldades. Alguns até vivem à grande e à francesa. Os Bancos e o Estado é que passam mal com os calotes que eles deixaram. É um problema, sim, mas de falta de vergonha. Que mina a imagem dos empresários bons, sérios e de qualidade que existem.

 

  1. Finalmente, uma palavra de felicitação aos deputados. Têm feito um trabalho exemplar. Com destaque para Mariana Mortágua, Cecília Meireles e Fernando Negrão. Duas deputadas competentes e um Presidente como deve ser.

 

AS CRÍTICAS NO PSD

 

  1. Rui Rio teve uma semana horrível – uma sondagem com o PSD em mínimos históricos; críticas de Cavaco Silva e de Alberto João Jardim; uma meia divergência com um Vice-Presidente. Todo este mal-estar sucede porque o PSD tem dois problemas de fundo: primeiro, um problema de ambiguidade estratégica. Com a percepção pública de que o PSD fez uma aproximação ao Chega, o partido está a entregar o centro ao PS. Está a perder os eleitores moderados do centro. Assim não se ganham eleições.

 

  1. O outro problema de fundo é um problema de falta de causas para mobilizar as pessoas que não estão satisfeitas com o Governo. Esta agenda de causas é essencial e não é difícil de construir. Três exemplos:
  2. Classe média. Quem é que hoje defende a classe média? Quem é que dá voz às suas aspirações? Ninguém. Aqui está uma boa causa para o PSD.
  3. Pensões de reforma. Segundo um estudo da CE, daqui a 20 anos as pensões de reforma terão metade do valor que têm hoje. Um pesadelo. Quem fala disto? Quem propõe mudanças? Ninguém. Outra boa causa para o PSD.
  4. Competitividade das empresas e crescimento dos salários. Segundo um outro estudo recente, 60% dos nossos trabalhadores ganham menos de 800€. Quem dá voz a estes trabalhadores sem esperança? Pelo que se vê, ninguém. Mais uma boa causa para o PSD. Como se vê, ideias não faltam. O que é preciso é trabalhá-las.

 

  1. Convenção do BE – Definitivamente, o BE deixou a geringonça e passou a partido de oposição. Na votação do último OE já tinha dado esse sinal. Agora formalizou a situação. Não contem com o BE para viabilizar o próximo OE. É algo que, curiosamente, agrada a todos: ao Bloco, ao Governo e ao PCP. São todos de esquerda mas não gostam uns dos outros.

 

VISITA DE MARCELO À GUINÉ

 

  1. A visita do PR à Guiné Bissau foi corajosa e surpreendente:
  2. Primeiro, corajosa. O mais fácil era não fazer esta visita. O regime da Guiné é democraticamente pouco recomendável e a visita era contestada pela oposição guineense. Só que as relações Portugal/Guiné são relações Estado a Estado. Afirmam-se independentemente dos regimes, dos Governos e dos Presidentes. Perante isto, Marcelo não pode visitar Cabo Verde, S. Tomé, Angola e Moçambique e deixar de fora a Guiné, sob pena de ofender o povo guineense e parecer que as relações entre os dois países estão cortadas.
  3. Segundo, uma visita surpreendente. Apesar de há três décadas nenhum PR visitar a Guiné, a reacção popular foi impressionante. Claro que pode haver muita encenação por parte das autoridades guineenses. Mas vê-se pelas imagens emoção e autenticidade na população. Entre os dois países há uma relação de afecto indestrutível. Poucos Estados colonizadores se podem orgulhar deste estatuto.

 

  1. A defesa da lusofonia é uma grande mais-valia para Portugal. A nossa força na Europa é tanto maior quanto maior for a nossa relação com África. Os projectos europeu e africano não são antagónicos. São complementares. Investir na relação com África lusófona é estratégico para Portugal.

 

OS RANKINGS DAS ESCOLAS

 

  1. Estes rankings devem ser analisados com cautela. É que escolas públicas e privadas não têm os mesmos meios e condições. Vejamos:
  2. Alunos de escolas privadas vêm normalmente de classes alta e média alta. Com melhores condições económicas, sociais e familiares para terem boas notas. Nas escolas públicas é o contrário. Entram também os mais vulneráveis.
  3. As escolas privadas podem escolher os seus alunos. E amiúde afastam da escola um aluno mau só para não prejudicar o ranking da escola. Nas públicas isto não é possível. Têm de aceitar todos por igual.

 

  1. Se não houver este cuidado analítico, geram-se injustiças gritantes, sobretudo em relação aos professores: a ideia de que no privado estão os professores bons e no público estão os professores maus. Isto não é verdade. Até pode ser o contrário: um professor da escola pública para passar de ano um aluno vulnerável, mesmo com uma nota baixa, pode até ter um esforço maior que um professor num colégio privado para atribuir uma nota de 15 ou de 16.

 

  1. Posto isto, há que dizer duas coisas incontestáveis:
  • Primeiro: importa sobretudo comparar realidades comparáveis. Ou seja, comparar a evolução de cada escola, pública e privada ao longo dos anos. Umas melhoraram, outras pioraram. É preciso elogiar umas e ajudar as outras.
  • Segundo: o ensino em Portugal melhorou nos últimos 20 anos. Só que o ensino privado melhorou muito mais que o ensino público. Há 20 anos havia nestes rankings grande equilíbrio entre público e privado. Hoje o desequilíbrio é brutal. Não refletir sobre isto será um suicídio.
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