Opinião
Marques Mendes: Ministra do Trabalho corre o risco de ser uma séria candidata à saída do Governo
As notas da semana de Marques Mendes no seu comentário na SIC. O comentador fala sobre as eleições no Benfica, o Lar de Reguengos, o estado da pandemia, as ameaças racistas e os vetos de Marcelo.
O BENFICA E AS ELEIÇÕES
- Um dos factos desta semana é a preparação da nova época do Benfica – novo treinador, novas aquisições, novos investimentos. Em boa verdade, o Benfica actual parece um governo em campanha eleitoral – sempre a abrir os cordões à bolsa, porque é preciso ganhar eleições.
- Os governos são habitualmente assim. Gastam muito em vésperas de eleições porque querem ganhar. O Benfica, nos últimos tempos, também. Antes, a regra era vender jogadores e fazer fortunas com as vendas. Agora, é comprar, comprar, comprar.
- Porquê? Porque o presidente do Benfica tem eleições em Outubro, precisa de as ganhar e, para as ganhar, precisa de desviar as atenções dos processos judiciais em curso e da época desportiva deprimente que o clube teve.
- Até aqui, quase tudo normal. O que já não é normal é a complacência dos portugueses perante o futebol.
- Se for um partido político a gastar à tripa forra cai-lhe tudo em cima. São uns malandros, irresponsáveis, a viver acima das possibilidades. Sendo um clube de futebol fecham-se os olhos, mesmo em tempo de crise!
- Se houver um político a exibir um grande património acaba politicamente decapitado. No mínimo, é um aldrabão! Se for um atleta ou um dirigente de futebol a exibir um iate ou um jacto privado já é tudo normal.
- Enquanto o país for assim – com dois pesos e duas medidas – dificilmente se torna um país maduro, decente e sustentável!
O LAR DE REGUENGOS
- Tudo é lamentável em Reguengos – antes, durante e depois da tragédia.
- Antes da tragédia, porque segundo o inquérito da Ordem dos Médicos, o lar estava manifestamente impreparado para servir os idosos. Só que o Estado nada fiscalizou.
- Durante a tragédia, porque o lar foi visitado pela Directora-Geral da Saúde que não detectou qualquer erro ou falha. Com directores-gerais assim o país há-de ter certamente um enorme futuro!
- Depois da tragédia, por causa da inexplicável entrevista da Ministra do sector ao Expresso, em que diz que não leu o inquérito da OM. Um desprezo simplesmente lamentável.
- Quanto à Ministra: no início eu tinha boas expectativas em relação ao seu desempenho. Ela tinha feito um bom lugar no Turismo. Mas manda a verdade que se diga que tem sido uma certa desilusão. Um caso de inadaptação ao posto de trabalho. Nesta entrevista ao Expresso demonstra insensibilidade social e uma certa sobranceria O que não é próprio de uma Ministra da Solidariedade. Se não mudar de comportamento, corre o risco de ser uma séria candidata à saída do Governo em próxima remodelação.
- Posto isto, há que dizer que em matéria de lares de terceira idade temos dois mundos distintos: temos o primeiro mundo e temos o terceiro mundo.
- Temos excelentes exemplos de lares a cargo de Misericórdias e IPSS – bons equipamentos, bons dirigentes e pessoal qualificado.
- E temos zonas do país – sobretudo nas grandes áreas metropolitanas – em que o Estado não investe nem fiscaliza, em que os idosos são os parentes pobres da sociedade, em que algumas entidades privadas sem escrúpulos exploram a terceira idade como se tratasse de "carne para canhão".
É neste submundo que o Estado devia intervir!
O ESTADO DA PANDEMIA
- Em termos de novos casos de infetados, estamos perante uma semana atípica – a situação de Portugal piorou mas a da Europa piorou ainda mais. Logo, em termos relativos face à UE estamos melhor.
- Assim:
- Média de novos casos – Esta semana (com uma média de 206 novos casos) foi pior que a anterior. Estamos perante um caso pontual ou estes dados reflectem uma nova tendência? Só o futuro o dirá.
- Novos casos UE/100 mil habitantes nos últimos 14 dias – A Europa piorou. Mas Portugal face à Europa melhorou (baixámos de 11º para 13º lugar). Estamos claramente abaixo da média europeia (temos 26 novos casos contra 33 da UE). E, grande novidade – a Espanha passou a ser o pior país da UE, suplantando o Luxemburgo.
- Novos casos por região esta semana – Quatro conclusões: LVT está melhor que no passado (59% dos novos casos); o Norte tem uma ligeira subida (29%); o Algarve, apesar do grande aglomerado de pessoas resultante do período que vivemos, está muito bem (3%); as demais regiões têm números reduzidos e não oferecem problemas.
HAVERÁ SEGUNDA VAGA?
- Uma segunda vaga parece inevitável. Todos os especialistas o sugerem e em vários países ela já está mesmo a começar. A novidade é outra e bem diferente: com a gestão da primeira vaga da pandemia, o Governo ganhou politicamente. Com uma segunda vaga, o Governo tem muito mais a perder que a ganhar. Vai estar mais exposto e será mais escrutinado.
- Vejamos três exemplos desta previsível mudança:
- Na primeira vaga da pandemia todos pouparam o Governo – partidos, sindicatos, profissionais de saúde. Era tudo novo e imprevisível. Agora, numa segunda vaga, qualquer falha nos hospitais será sempre culpa do Governo. Ninguém lhe perdoará. O ambiente de união nacional que existia, acabou..
- Na primeira vaga da pandemia, muitos doentes sem Covid foram esquecidos ou marginalizados. Ficaram sem tratamento. Agora, numa segunda vaga, repetir a situação será muito mais difícil. O escrutínio será maior e a opinião pública será mais exigente.
- Na primeira fase da pandemia, uma contradição ou uma omissão era facilmente tolerada. Veja-se o 1º de Maio. Agora, numa segunda vaga, tudo será diferente: imagine-se um surto ou um contágio na Festa do Avante. Todos vão penalizar o Governo. Porque abriu uma excepção, porque teve um tratamento de favor.
AS AMEAÇAS RACISTAS
- Um dos factos da semana foram as ameaças racistas, incluindo a três deputadas, alegadamente vindas de "grupelhos" de estrema direita. Perante esta situação, a primeira questão que se coloca é: o que não se deve fazer? Nem desvalorizar nem fazer de conta. Desvalorizar é pactuar. Fazer de conta é facilitar a propagação deste inqualificável discurso do ódio.
- O que há então a fazer? Sobretudo três coisas: firmeza nos princípios, bom-senso nas atitudes, eficácia nos tribunais.
- Primeiro: esperar que os políticos, todos eles, sejam firmes na defesa dos valores da liberdade, da democracia, da tolerância e do respeito mútuo contra todas as formas de radicalismo, extremismo e discriminação. A pedagogia dos valores é o grande antídoto contra o discurso do ódio.
- Segundo: esperar que os cidadãos sejam implacáveis nos princípios mas sensatos nas atitudes – o radicalismo não se combate com outro radicalismo, a ameaça não se combate com outra ameaça, a escalada de violência, mesmo verbal, não conduz a nada de útil ou de positivo.
- Terceiro: esperar que as instituições funcionem, em especial os tribunais. Apelar ao racismo e fazer ameaças é crime. E a justiça deve funcionar. Infelizmente não é o que tem sucedido. Veja-se o caso Marega – já passaram seis meses desde que o país se chocou com os gritos racistas em Guimarães. Seis meses volvidos nada sucedeu, nem os tribunais desportivos, nem na justiça judicial. Assim não vamos lá!
OS VETOS DE MARCELO
- O PR fez esta semana dois importantes vetos políticos. Marcelo vetou a Lei da AR que reduzia o número de debates sobre a Europa e vetou a Lei que subia de 4 para 10 mil o número de subscritores para uma petição subir a plenário.
- Marcelo deu três bons sinais:
- Primeiro, um sinal de independência. Apesar de ter o apoio do PM e do líder da oposição para a sua reeleição, o PR não deixou de dar um "puxão de orelhas" a António Costa e a Rui Rio, recusando leis que os dois tinham acordado. É assim que se quer um Presidente – livre e independente.
- Segundo, um sinal de coerência. Marcelo sempre defendeu a melhoria da qualidade da democracia, o escrutínio político e a aproximação dos eleitos ao povo. Em coerência, só podia vetar duas leis. Foi o que fez e bem.
- Terceiro, um sinal de saudável divergência. No fundo, o PR disse ao PS e ao PSD que, se dependesse dele, não autorizaria o fim dos debates quinzenais. Desautorizou os partidos do Bloco Central. Mas reforçou a sua credibilidade.
- Espera-se agora que PS e PSD deixem de lado a sua teimosia e corrijam os erros. Se o não fizeram ainda ficam mais mal colocados perante o país.