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16 de Agosto de 2020 às 21:46

Marques Mendes: Ministra do Trabalho corre o risco de ser uma séria candidata à saída do Governo

As notas da semana de Marques Mendes no seu comentário na SIC. O comentador fala sobre as eleições no Benfica, o Lar de Reguengos, o estado da pandemia, as ameaças racistas e os vetos de Marcelo.

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O BENFICA E AS ELEIÇÕES 

  1. Um dos factos desta semana é a preparação da nova época do Benfica – novo treinador, novas aquisições, novos investimentos. Em boa verdade, o Benfica actual parece um governo em campanha eleitoral – sempre a abrir os cordões à bolsa, porque é preciso ganhar eleições
  • Os governos são habitualmente assim. Gastam muito em vésperas de eleições porque querem ganhar. O Benfica, nos últimos tempos, também. Antes, a regra era vender jogadores e fazer fortunas com as vendas. Agora, é comprar, comprar, comprar.
  • Porquê? Porque o presidente do Benfica tem eleições em Outubro, precisa de as ganhar e, para as ganhar, precisa de desviar as atenções dos processos judiciais em curso e da época desportiva deprimente que o clube teve.

 

  1. Até aqui, quase tudo normal. O que já não é normal é a complacência dos portugueses perante o futebol.
  • Se for um partido político a gastar à tripa forra cai-lhe tudo em cima. São uns malandros, irresponsáveis, a viver acima das possibilidades. Sendo um clube de futebol fecham-se os olhos, mesmo em tempo de crise!
  • Se houver um político a exibir um grande património acaba politicamente decapitado. No mínimo, é um aldrabão! Se for um atleta ou um dirigente de futebol a exibir um iate ou um jacto privado já é tudo normal.
  • Enquanto o país for assim – com dois pesos e duas medidas – dificilmente se torna um país maduro, decente e sustentável!

 
O LAR DE REGUENGOS 

  1. Tudo é lamentável em Reguengos – antes, durante e depois da tragédia.
  • Antes da tragédia, porque segundo o inquérito da Ordem dos Médicos, o lar estava manifestamente impreparado para servir os idosos. Só que o Estado nada fiscalizou.
  • Durante a tragédia, porque o lar foi visitado pela Directora-Geral da Saúde que não detectou qualquer erro ou falha. Com directores-gerais assim o país há-de ter certamente um enorme futuro!
  • Depois da tragédia, por causa da inexplicável entrevista da Ministra do sector ao Expresso, em que diz que não leu o inquérito da OM. Um desprezo simplesmente lamentável.

 

  1. Quanto à Ministra: no início eu tinha boas expectativas em relação ao seu desempenho. Ela tinha feito um bom lugar no Turismo. Mas manda a verdade que se diga que tem sido uma certa desilusão. Um caso de inadaptação ao posto de trabalho. Nesta entrevista ao Expresso demonstra insensibilidade social e uma certa sobranceria O que não é próprio de uma Ministra da Solidariedade. Se não mudar de comportamento, corre o risco de ser uma séria candidata à saída do Governo em próxima remodelação.

 

  1. Posto isto, há que dizer que em matéria de lares de terceira idade temos dois mundos distintos: temos o primeiro mundo e temos o terceiro mundo.
  • Temos excelentes exemplos de lares a cargo de Misericórdias e IPSS – bons equipamentos, bons dirigentes e pessoal qualificado.
  • E temos zonas do país – sobretudo nas grandes áreas metropolitanas – em que o Estado não investe nem fiscaliza, em que os idosos são os parentes pobres da sociedade, em que algumas entidades privadas sem escrúpulos exploram a terceira idade como se tratasse de "carne para canhão".

É neste submundo que o Estado devia intervir!

 

O ESTADO DA PANDEMIA

 

  1. Em termos de novos casos de infetados, estamos perante uma semana atípica – a situação de Portugal piorou mas a da Europa piorou ainda mais. Logo, em termos relativos face à UE estamos melhor.

 

  1. Assim:
  • Média de novos casos – Esta semana (com uma média de 206 novos casos) foi pior que a anterior. Estamos perante um caso pontual ou estes dados reflectem uma nova tendência? Só o futuro o dirá.
  • Novos casos UE/100 mil habitantes nos últimos 14 dias – A Europa piorou. Mas Portugal face à Europa melhorou (baixámos de 11º para 13º lugar). Estamos claramente abaixo da média europeia (temos 26 novos casos contra 33 da UE). E, grande novidade – a Espanha passou a ser o pior país da UE, suplantando o Luxemburgo.
  • Novos casos por região esta semana – Quatro conclusões: LVT está melhor que no passado (59% dos novos casos); o Norte tem uma ligeira subida (29%); o Algarve, apesar do grande aglomerado de pessoas resultante do período que vivemos, está muito bem (3%); as demais regiões têm números reduzidos e não oferecem problemas.


HAVERÁ SEGUNDA VAGA?

  1. Uma segunda vaga parece inevitável. Todos os especialistas o sugerem e em vários países ela já está mesmo a começar. A novidade é outra e bem diferente: com a gestão da primeira vaga da pandemia, o Governo ganhou politicamente. Com uma segunda vaga, o Governo tem muito mais a perder que a ganhar. Vai estar mais exposto e será mais escrutinado.

 

  1. Vejamos três exemplos desta previsível mudança:
  • Na primeira vaga da pandemia todos pouparam o Governo – partidos, sindicatos, profissionais de saúde. Era tudo novo e imprevisível. Agora, numa segunda vaga, qualquer falha nos hospitais será sempre culpa do Governo. Ninguém lhe perdoará. O ambiente de união nacional que existia, acabou..
  • Na primeira vaga da pandemia, muitos doentes sem Covid foram esquecidos ou marginalizados. Ficaram sem tratamento. Agora, numa segunda vaga, repetir a situação será muito mais difícil. O escrutínio será maior e a opinião pública será mais exigente.
  • Na primeira fase da pandemia, uma contradição ou uma omissão era facilmente tolerada. Veja-se o 1º de Maio. Agora, numa segunda vaga, tudo será diferente: imagine-se um surto ou um contágio na Festa do Avante. Todos vão penalizar o Governo. Porque abriu uma excepção, porque teve um tratamento de favor.

AS AMEAÇAS RACISTAS

 

  1. Um dos factos da semana foram as ameaças racistas, incluindo a três deputadas, alegadamente vindas de "grupelhos" de estrema direita. Perante esta situação, a primeira questão que se coloca é: o que não se deve fazer? Nem desvalorizar nem fazer de conta. Desvalorizar é pactuar. Fazer de conta é facilitar a propagação deste inqualificável discurso do ódio.

 

  1. O que há então a fazer? Sobretudo três coisas: firmeza nos princípios, bom-senso nas atitudes, eficácia nos tribunais.
  • Primeiro: esperar que os políticos, todos eles, sejam firmes na defesa dos valores da liberdade, da democracia, da tolerância e do respeito mútuo contra todas as formas de radicalismo, extremismo e discriminação. A pedagogia dos valores é o grande antídoto contra o discurso do ódio.
  • Segundo: esperar que os cidadãos sejam implacáveis nos princípios mas sensatos nas atitudes – o radicalismo não se combate com outro radicalismo, a ameaça não se combate com outra ameaça, a escalada de violência, mesmo verbal, não conduz a nada de útil ou de positivo.
  • Terceiro: esperar que as instituições funcionem, em especial os tribunais. Apelar ao racismo e fazer ameaças é crime. E a justiça deve funcionar. Infelizmente não é o que tem sucedido. Veja-se o caso Marega – já passaram seis meses desde que o país se chocou com os gritos racistas em Guimarães. Seis meses volvidos nada sucedeu, nem os tribunais desportivos, nem na justiça judicial. Assim não vamos lá!

OS VETOS DE MARCELO

 

  1. O PR fez esta semana dois importantes vetos políticos. Marcelo vetou a Lei da AR que reduzia o número de debates sobre a Europa e vetou a Lei que subia de 4 para 10 mil o número de subscritores para uma petição subir a plenário.

 

  1. Marcelo deu três bons sinais:
  • Primeiro, um sinal de independência. Apesar de ter o apoio do PM e do líder da oposição para a sua reeleição, o PR não deixou de dar um "puxão de orelhas" a António Costa e a Rui Rio, recusando leis que os dois tinham acordado. É assim que se quer um Presidente – livre e independente.
  • Segundo, um sinal de coerência. Marcelo sempre defendeu a melhoria da qualidade da democracia, o escrutínio político e a aproximação dos eleitos ao povo. Em coerência, só podia vetar duas leis. Foi o que fez e bem.
  • Terceiro, um sinal de saudável divergência. No fundo, o PR disse ao PS e ao PSD que, se dependesse dele, não autorizaria o fim dos debates quinzenais. Desautorizou os partidos do Bloco Central. Mas reforçou a sua credibilidade.

 

  1. Espera-se agora que PS e PSD deixem de lado a sua teimosia e corrijam os erros. Se o não fizeram ainda ficam mais mal colocados perante o país.
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