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07 de Julho de 2019 às 21:15

Marques Mendes: Berardo não está a ver o “filme”

As notas da semana de Marques Mendes no seu habitual comentário na SIC. Marques Mendes fala sobre a carta que Joe Berardo enviou ao Parlamento, a constituição como arguido de Azeredo Lopes, as propostas fiscais de Rui Rio, entre outros assuntos

  • ...

A BEBÉ MATILDE

 

  1. Primeiro apontamento: o caso da bebé Matilde emocionou o país. E aí veio ao de cima o espírito solidário notável da sociedade portuguesa. Nesse plano, somos um país exemplar.

 

  1. Segundo apontamento: é impressionante também o efeito brutal das redes sociais. Elas fizeram despertar o Estado para o problema da pequena Matilde. Antes, falava-se em arranjar dinheiro para ir aos EUA. Agora, já é tudo feito cá dentro, pelo Estado. Não quer dizer que o Infarmed tenha um tratamento privilegiado nuns casos em detrimento de outros. Nada disso. Mas que as redes sociais despertaram as consciências lá isso é verdade.

 

  1. Terceiro apontamento: em que ponto é que estamos neste caso?
  2. O Hospital é que tem de fazer ao Infarmed o pedido para uma utilização especial daquele medicamento. Está neste momento a ultimar o pedido.
  3. Logo que o pedido chegue ao Infarmed, a decisão será rápida – entre 7, 8, 10 dias. E deverá ser uma decisão favorável. O Infarmed já foi avançando com o seu trabalho, na convicção de que o pedido chega e para que a decisão não tarde.
  4. A seguir, o Hospital compra o medicamento, administra-o à Matilde de forma gratuita e todos esperamos, confiantes, que o fármaco produza efeitos e satisfaça as expectativas criadas.
  5. Último apontamento: preparemo-nos para muitos outros casos destes no futuro. Cada vez há mais doenças raras e medicamentos mais inovadores. Este avanço farmacêutico é excelente. Mas tem um custo elevado. E os países têm de estar preparados para isto. A gestão das PPP à beira desta questão – dos medicamentos inovadores – é um pormenor. Porém, os políticos discutem os pormenores e esquecem os pormaiores!

 

CARTA DE BERARDO AOS DEPUTADOS

 

A carta de Berardo à AR é inacreditável:
  1. Primeiro: Berardo é que se colocou a jeito para ser criticado. Pelo desplante e descaramento que exibiu quando foi falar ao Parlamento. Esteve a gozar com o pagode. Portanto, só pode queixar-se de si próprio. O que é que esperava? Ser elogiado?
  2. Segundo: faz-se de vítima. Mas esse estratagema não "pega". É risível. O país, os bancos e os contribuintes é que são vítimas dos seus comportamentos. Afinal, foi ele que não pagou as dívidas que contraiu.
  3. Terceiro: esta carta é um sinal de desespero. Mas é também sinal de que Berardo não está a ver o "filme":
  • O país mudou. O que há anos era tolerado agora é motivo de indignação. Há uns anos, Berardo fazia uns números de circo perante as televisões, o país ria-se e ele achava-se um herói. Hoje, ele faz os mesmos números de circo. Só que agora o país indigna-se e ele passa de herói a vilão.

 

Acabou a Comissão de Inquérito à Caixa. Quando começou houve muitas críticas – que seria inútil e que só servia para prejudicar a imagem da CGD. Vários meses depois, tem um balanço brutalmente positivo.
  • Primeiro, porque o país ficou a conhecer verdades inconvenientes;
  • Depois, porque tudo isto terá um efeito dissuasor no futuro;
  • Finalmente, porque os bancos mudaram muito de atitude – antes estavam bastante passivos perante os seus devedores. Agora, estão muito activos. Afinal, a opinião pública "faz milagres".

EX-MINISTRO ARGUIDO

 

  1. O ex-Ministro Azeredo Lopes foi constituído arguido no caso Tancos. O próprio está surpreendido. Pessoalmente, não me surpreende. E porquê? Porque tudo isto é muito estranho:
  2. Primeiro: é estranho o momento da demissão de Azeredo Lopes. Se tivesse sido nos dias seguintes ao assalto era normal. Estava a assumir responsabilidades. Mas sair apenas quando a "tramoia" da PJM veio a público é muito suspeito;
  3. Segundo: é estranho o seu comportamento perante o Memorando da PJM. Primeiro, não conhecia; depois, sabia da existência mas não conhecia o conteúdo; finalmente, só tinha conhecido o seu teor na véspera da demissão. É tudo muito estranho e muito suspeito!

 

Finalmente, este assunto é um incómodo para o Governo. A verdade é que pode haver acusação ainda em Setembro, antes das eleições, e, se Azeredo Lopes for acusado, esse cenário não é brilhante para o PS. Depois, porque vai haver uma outra especulação: e, se o Ministro sabia da encenação, o PM também não sabia? Mesmo sem provas, é uma especulação incómoda. Mesmo assim há que dizer: ser-se arguido ou acusado não é ser-se condenado. E toda a gente tem direito à presunção de inocência.

 

  

O CHOQUE FISCAL DE RIO

 

  1. Rio marcou a semana com as suas propostas fiscais. Três pontos positivos:
Primeiro: teve a iniciativa política. Liderou a agenda. Pôs os outros a falar das suas ideias. Esteve ao ataque em vez de estar à defesa.
Segundo: antecipou-se ao PS. O PS irá apresentar oportunamente o seu cenário macro-económico. O PSD já o fez. É uma vantagem.
Terceiro: finalmente, há uma política alternativa clara em matéria fiscal. Como eu sempre disse, em matéria fiscal o PSD tinha que afirmar uma alternativa. Seria inexplicável que o não fizesse.

 
Para ser credível, Rui Rio tem agora que ter em atenção duas questões:


Primeiro: tem de explicar tudo muito bem para evitar a acusação de eleitoralismo
. É que esta proposta representa uma redução substancial da carga fiscal. Muito maior do que se imaginava. Ora, quando a esmola é grande o pobre desconfia! Há o risco de as pessoas não levarem a sério.

Segundo: tem de fundamentar com muito rigor para evitar acusações de ligeireza
. É que baixar o IRC, o IRS, o IVA da energia e o IMI, subir o investimento público e reduzir a dívida, fazendo tudo ao mesmo tempo, ainda por cima em tempo de arrefecimento da economia europeia e mundial, pode parecer um exagero.

 

Entretanto, segundo noticia hoje o Público, um dos principais vice-presidentes do PSD, Castro Almeida, abandonou a Direcção de Rui Rio. Não se sabem quais as verdadeiras razões desta decisão, mas eu diria o seguinte:

Primeiro, deve ter-lhe custado muito tomar esta decisão
. Há uma relação muito forte e muito antiga entre Castro Almeida e Rui Rio;

Segundo, só podem ser razões muito fortes, porque Castro Almeida é um homem tranquilo. Não é pessoa de rupturas ou afrontamentos. E também não faz isto hoje a pensar numa jogada no futuro. Ele não é um calculista.

 

ELEITORALISMO À SOLTA

  1. Todos os governos, da direita à esquerda, fazem eleitoralismo. É um clássico da política. Mesmo assim, não é bonito. Sobretudo quando esse eleitoralismo nos é servido em doses colossais. Só esta semana há 4 casos a registar. Vejamos:

 

  • Urgências das Maternidades já não fecham no Verão – É uma boa notícia. Mas mais eleitoralista não podia ser.
  • Novo Simplex para evitar atrasos no Cartão de Cidadão – Outra boa notícia. Mas porquê só agora? A resposta é: eleições.
  • Mais autonomia dos Hospitais para contratar pessoas – Outra excelente notícia porque os hospitais se queixam há muito do centralismo do M Finanças. Mas porquê só agora, em cima das eleições?
  • Aprovado Programa de Habitação com Rendas Acessíveis – Uma feliz iniciativa. A pergunta que se impõe é esta: mas por que é que não surgiu mais cedo?

 

  1. Entretanto, o PS continua a fazer ziguezagues estratégicos. Uns apelam à maioria absoluta. Esta semana foi o Ministro Capoulas Santos. Outros ressuscitam a ideia de nova geringonça. É o que vem no Expresso. Para agradar às várias facções internas do PS isto pode ser útil. Para obter sucesso eleitoral é um erro.
  • Se o PS quer mesmo tentar uma maioria absoluta, não pode ter hesitações, não pode dizer uma coisa e o seu contrário. Tem de ser consequente.
  • Se continuar nesta linha de "catavento estratégico", o PS arrisca-se a "morrer na praia", como sucedeu com António Guterres em 1999. Fica próximo da maioria mas não a obtém.

 

 

AS DECISÕES DA UNIÃO EUROPEIA

 

  1. Angela MerkelPrimeiro, perdeu no PPE de forma humilhante. Depois, no final, ganhou no Conselho Europeu, sem que possa ser acusada de ter feito algo para ganhar. Mas uma coisa é certa: já não tem nem o peso político nem a autoridade que tinha. É o que sucede a quem está de saída dos lugares.

 

  1. Emmanuel MacronFoi o grande ganhador deste Conselho Europeu. Mostrou capacidade de diálogo com todos. Foi dele a sugestão da nova Presidente da Comissão. Colocou uma francesa no BCE, o que é uma lança em África. E ganhou autoridade para exigir uma Europa de geometria variável.

 

  1. António CostaNão saiu bem deste Conselho. Apostou tudo em Timmermans e falhou. Ao contrário de outros, não tinha plano B. Mas, como o PS tem um peso grande no PE,  Costa tem agora uma oportunidade de negociar uma boa pasta para Portugal na futura Comissão. O seu objetivo é: a pasta dos Fundos e, nesse caso, a indicação de Pedro Marques para Comissário.

 

  1. Christine LagardeFoi a boa surpresa destas decisões. Toda a gente gostou. Incluindo os mercados, que reagiram bem. É bom para o BCE e para a Europa. Só pode ter um handicap: os seus problemas com a justiça, em França, ainda não acabaram. Muito longe disso.

 

  1. Ursula von der LeyenFoi o nome que Macron descobriu para salvar Merkel e pôr ordem no Conselho Europeu. Começa com baixas expectativas. Mas esta sua desvantagem hoje pode ser a sua grande vantagem no futuro. Com expectativas baixas só pode superá-las e com isso criar uma boa impressão.
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