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06 de Dezembro de 2020 às 21:36

As notas da semana de Marques Mendes

As notas da semana de Marques Mendes no seu comentário na SIC. O comentador fala sobre o plano de vacinação, o futuro da TAP e a bazuca europeia, entre outros temas.

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O PROCESSO DE VACINAÇÃO

 

  1. O plano de vacinação apresentado está bem delineado e é consensual. Os problemas que podem existir são outros:
  2. Primeiro: um problema de execução. Portugal vai estar preparado para vacinar milhões de pessoas em poucos meses? Alguns milhares por dia? Temos pontos de vacinação suficientes? E temos pessoal bastante? Dúvidas a mais para respostas a menos.
  3. Segundo: um problema de gestão das expectativas e das ansiedades. Havendo vacina, toda a gente vai querer ser vacinada rapidamente. Só que no início não há vacinas para todos. Elas chegarão de forma faseada e gradual. São poucos meses que, todavia, parecem uma eternidade.

 

  1. Entretanto, a comunicação é essencial. Informar, esclarecer, tirar dúvidas é uma prioridade de todos. E não só das autoridades. A esse respeito, recebemos de vários telespectadores um conjunto de pedidos de esclarecimento. E pedimos às autoridades de saúde as competentes respostas. É o que divulgamos agora, na perspectiva de esclarecer e informar:

 

  1. Vacinação nos Centros de Saúde: as pessoas são chamadas ou precisam de se registar?
  • Quem for utilizador dos Centros de Saúde será contactado para marcação de local, dia e hora da vacinação.
  • Quem não utiliza os Centros de Saúde e tenha doença que dê prioridade na vacinação deve contactar o "seu" Centro de Saúde.
  • Deve apresentar também declaração médica comprovativa da doença em causa.

 

  1. As pessoas já infectadas com Covid 19 também devem ser vacinadas?
  • Não há ainda resposta a esta questão.
  • Ela só será esclarecida no momento da autorização da vacina pela EMA.
  • Mas os ensaios clínicos das vacinas (fase 3) incluíram também pessoas infetadas com Covid 19.

 

  1. As pessoas podem escolher as vacinas a tomar?
  • Não. Não haverá "liberdade de escolha".
  • Quem decide a vacina a utilizar são os serviços de saúde.
  • Essa decisão levará em conta os termos da autorização dada pela EMA.

 

  1. Uma pessoa vacinada deixa de ter restrições como, por exemplo, o uso de máscara?
  • Não. As restrições mantêm-se até o país atingir a imunidade de grupo.
  • A imunidade de grupo só se atingirá, em princípio, com a vacinação de 60 a 70% da população.

 

  1. A vacina contra a Covid 19 garante quanto tempo de imunidade?
  • Ainda não há resposta a esta questão.
  • Só no fim dos ensaios clínicos (daqui a 12 ou 24 meses) poderá haver indicação precisa.
  • Também os estudos de monitorização a realizar pelo Infarmed e pelo INSA poderão permitir uma resposta.

 

  1. A partir de que idade as crianças devem ser vacinadas?
  • No Reino Unido foi autorizada a vacinação a partir dos 16 anos.
  • Para já, em Portugal, não há dados para recomendar a vacinação até aos 18 anos.
  • Aguarda-se a análise dos resultados dos ensaios clínicos e a decisão da EMA.

 

  1. Face à rapidez do processo, a segurança das vacinas está garantida?
  • Segundo todos os peritos, a rapidez não afecta a segurança.
  • Todas as fases de ensaios foram cumpridas.
  • A avaliação pelos reguladores é mais rápida mas não menos exigente.
  • Novidade é a "produção em risco" – as empresas estão a produzir por sua conta e risco, mesmo antes da autorização.
  • A EMA, ao autorizar uma vacina, garante a sua segurança.

 

 

 

O ESTADO DA PANDEMIA

 

  1. A situação melhorou. Não é uma melhoria substancial mas é melhoria. Passámos o pico da segunda vaga mas a situação não está ainda vencida. Vejamos:
  2. Número de infetados nas últimas cinco semanasO pico semanal atingiu-se na semana de 16 a 22 de Novembro. Estas duas últimas semanas revelam desaceleração do crescimento. Tendência positiva.
  3. Número de óbitos nas últimas cinco semanasAqui, a situação não é tão favorável. Há uma estabilização do número de óbitos nas últimas três semanas. Mas ainda não há tendência de diminuição.
  4. Portugal no quadro da UEHá 15 dias eramos o 6º pior país da UE. Agora melhorámos duas posições. Estamos em 8º lugar. A melhoria existe mas é ligeira.

 

  1. Todos estes dados nos levam a duas conclusões claras:
  • Primeiro, nada de embandeirar em arco. As medidas tomadas estão a dar resultados mas estes ainda são muito insuficientes.
  • Segundo, mais do que nunca o comportamento das pessoas é essencial. Nada de relaxar nem facilitar. Passámos o pico da 2ª vaga, mas, se não houver cuidado, corremos o risco de uma 3ª vaga.

 

 

O NATAL

 

  1. Quanto às medidas anunciadas pelo PM direi o seguinte:
  2. Primeiro: manter o essencial das restrições daqui até ao período de Natal parece correcto. A situação melhorou mas está longe de estar consolidada.
  3. Segundo: a "janela" de abertura do Natal – entre os dias 23 e 26 de Dezembro – é compreensível mas arriscada. É compreensível porque as pessoas precisam de aliviar. Mas é uma abertura arriscada se as pessoas facilitarem, se não houver bom senso. Está nas mãos das pessoas evitar o "risco" gerado pelo Governo.
  4. Terceiro: o Governo decidiu não estabelecer regras para as confraternizações privadas de Natal. Fez bem. A polícia não vai andar a fiscalizar o que se passa na casa das pessoas. Mas, atenção: cada família tem de definir as suas próprias regras. E devem compreender que este ano o Natal tem de ser diferente. Com menos pessoas, menos ajuntamentos, menos confraternização. Para evitarmos uma terceira vaga.
  5. Quarto: Há semanas, o Governo dizia que os maiores contágios se davam em ambiente familiar. Agora, para o Natal, decidiu em sentido contrário. Pode ser compreensível mas não deixa de ser contraditório.

 

  1. Uma falha: nada é dito sobre os idosos que estão em lares. Em muitos pontos do país há milhares de idosos que não têm visitas. Pergunto: vão continuar sem visitas da família mesmo no período de Natal? Não é justo. É uma violência.
  • Por que é que um idoso num lar não pode receber a visita de um familiar, desde que haja todos os cuidados sanitários?
  • O Governo e os dirigentes das instituições devem perceber que os idosos não são "mercadoria". São pessoas e devem ser tratados como tal – com dignidade, com respeito, com humanidade.

 

 

O FUTURO DA TAP

 

  1. Como se imaginava, temos pela frente duas realidades inevitáveis: um plano de reestruturação duro; uma contestação sindical forte.

 

  1. Os sindicatos estão a fazer o seu papel. É natural, é legítimo, é óbvio. Não se lhes pode levar a mal. Em qualquer caso há que ter em conta três realidades:
  2. Primeiro: durante anos houve uma grande tolerância dos portugueses em relação à TAP e aos prejuízos da TAP. A TAP era uma espécie de "vaca sagrada". Hoje já não é assim. Os portugueses gostam da TAP mas estão fartos de "meter" dinheiro na TAP. A tolerância em relação à TAP acabou.
  3. Segundo: há anos que a TAP vive acima das suas possibilidades. A prova é que em dez dos últimos onze anos deu prejuízos. Só deu lucros em 2017. Mesmo em 2018 e 2019, anos de crescimento e de "boom" turístico, deu prejuízos. Uma companhia assim ou é reestruturada ou não tem futuro.
  4. Terceiro: o modelo futuro da TAP, a meu ver, devia ser este: primeiro, uma TAP maioritariamente privada; segundo, uma TAP em que o Estado lhe pagava as missões de serviço público (ligações às Regiões Autónomas; aos PALOP; e às comunidades portuguesas); terceiro, uma TAP que em tudo o resto seja capaz de agir de acordo com as regras da concorrência.

 

  1. Este dossier é politicamente quente. Mas ainda se vai tornar mais quente. É que o Governo comunicou há dias ao PSD uma decisão correcta mas surpreendente – logo que a CE aprove o plano de reestruturação da TAP, ele vai ser levado ao Parlamento, para ser discutido e votado. O que vai obrigar os partidos a tomarem posição. Não é só discutir. É também votar. Como uma consequência séria – se o Plano for chumbado no Parlamento, acaba a TAP. A pergunta é: quem vai viabilizar este plano?

 

 

INSPECTORES DO SEF MATAM UCRANIANO

 

  1. Já há um mês falei deste assunto: em Março deste ano morreu nas instalações do SEF, no Aeroporto de Lisboa, um cidadão ucraniano, por agressões brutais de inspectores do SEF, que depois encobriram a sua morte violenta.

Volto ao tema por duas razões: primeiro, porque o assunto é tão grave que até uma Comissária Europeia se pronunciou sobre ele; segundo, porque a imprensa, com destaque para o DN, tem suscitado novas questões.

 

  1. O que dizer desta monstruosidade?
  2. Primeiro: que é um comportamento inqualificável. Um serviço do Estado, em vez de defender os cidadãos, mata-os. Isto é do terceiro mundo.
  3. Segundo: é inqualificável que ao fim de todos estes meses o Estado não tenha tido uma palavra com os familiares da vítima. Falta de respeito.
  4. Terceiro: o Ministro demitiu o chefe do SEF no aeroporto e mandou a IGAI investigar. Muito bem. Fez o óbvio. Mas falta fazer o essencial: demitir a Directora do SEF. A Directora do SEF já devia ter-se demitido ou posto o lugar à disposição. Como não o fez, resta ao Ministro substituí-la. Se o não fizer, passa então o Ministro a ser cúmplice e co-responsável pela situação.

 

 

A BAZUCA EUROPEIA

 

  1. Na próxima semana há um Conselho Europeu absolutamente decisivo para desbloquear duas matérias essenciais: o Orçamento Plurianual da União Europeia; e o Plano de Recuperação (a chamada Bazuca Europeia). Tudo está bloqueado pela Polónia e pela Hungria.

 

  1. Se não houver acordo, teremos quatro consequências gravíssimas:
  2. Primeira: a UE não terá orçamento para 2021. Terá que funcionar por duodécimos. Isto implica cortes substanciais no seu funcionamento – entre 25 a 30 mil milhões de euros. E sem dinheiro para novos programas.
  3. Segundo: será um fiasco para a presidência alemã. Apostou tudo nesta matéria e falhou.
  4. Terceiro: será um pesadelo para a presidência portuguesa, que começa em Janeiro. Se a Alemanha não teve força para ultrapassar o impasse, como é que a vai ter Portugal?
  5. Finalmente: será um desastre para a Europa. Em Julho a UE aprovou um investimento histórico de 750 mil milhões para recuperar da crise. Seis meses depois está tudo no papel. Com a crise que vivemos, o desastre não poderia ser maior. Esperemos por um acordo na 25ª hora!!
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