Opinião
Notas da semana de Marques Mendes
As notas da semana de Marques Mendes nos seus comentários na SIC. O comentador fala sobre a sondagem da Aximage para o mês de Agosto, nomeadamente o facto de o BE e o PSD “estarem mal”, debruçando-se ainda sobre outros temas, como as rentrées partidárias, os passes sociais, Sporting e Benfica.
BE E PSD MAL NAS SONDAGENS
- A sondagem da Aximage relativa ao mês de Agosto é o caso político da semana. É excelente para o PS (está nos 40%); é magnífica para o CDS (passa a terceiro partido); e é boa para o PCP (está estável no seu resultado tradicional).
- Mas esta sondagem é um terramoto para o BE e para o PSD.
a) Bloco de Esquerda – Baixa num mês de 9% para 7%. Perde mais de 20% das suas intenções de voto. É o efeito do caso Robles. Muito mau.
- Mau porque antes o Bloco estava a crescer.
- Mau porque perdeu força no pior momento possível – negociação do OE. Ficou enfraquecido.
- Mau porque compromete muito do seu futuro. O futuro altamente risonho que se anunciava foi chão que deu uvas!
b) PSD – Baixa num mês de 27% para 24%. É o pior resultado de sempre do PSD numa sondagem. Perde mais de 10% das suas intenções de voto num mês. E, pior ainda, vê o CDS crescer à sua custa.
- A que se deve esta queda? Desaparecimento do PSD no mês de Agosto. Surgimento do partido de Santana. Querelas internas no PSD.
- Mas, sobretudo, por causa das querelas internas. Estou farto de dizer que o PSD precisa de tréguas, de paz, de acalmia.
- E, como se tudo não chegasse, Rui Rio cometeu um erro enorme, em entrevista à TSF, ao desafiar os seus críticos internos a sair do partido. Não devia ter dito o que disse. Foi muito infeliz.
- Primeiro: o líder deve ser um agregador e não um incendiário. Deve unir e não dividir. Como Cavaco fez quando foi eleito em 1985, na Figueira da Foz.
- Segundo: vira o partido para dentro. É um sinal de nervosismo, de insegurança e de fraqueza. Não de força nem de confiança.
- Terceiro: desvia as atenções do essencial que é a oposição ao Governo. Ao longo de 8 meses de liderança, alguém se lembra de uma causa ou de uma proposta política do PSD? Não, só de críticas internas. Alguém se lembra do que Rio disse há uma semana no Pontal? Não, só das críticas internas.
- Rio, se quer tentar ganhar eleições, tem de falar para o país e não para dentro do partido. O seu adversário é o PM; não são os companheiros do partido.
- A única boa notícia é que hoje, falando na Universidade de Verão, já recuou. Ainda bem.
AS RENTRÉES PARTIDÁRIAS
- Dizia há dias o Presidente da República que as rentrées já não são o que eram. E tem toda a razão. Antes tinham sempre grandes novidades. Agora, são habitualmente mais do mesmo. Normalmente discursos tipo "lista telefónica". Fala-se de tudo, de A a Z, mas não fica nenhuma mensagem clara.
- Assim foi com o Bloco e com o PS, nas semanas passadas. E não foi muito diferente hoje.
a) PCP – A Festa do Avante continua a ser um grande sucesso. Mas os discursos são mais do mesmo. A repetição da matéria dada.
b) PSD – A Universidade de Verão continua a ser uma grande iniciativa. Quanto ao discurso do líder: uma boa ideia – já não se virou para dentro com críticas internas; enfoque nos seus temas preferidos – críticas à comunicação social e ao MP; críticas certeiras ao Governo, embora continue a faltar uma causa ou uma proposta diferente e alternativa da governação.
c) CDS – O CDS, desta vez, foi a excepção. Cristas teve vários "picantes".
- Grande dureza com o Governo, mostrando que quer liderar a oposição e que não é muleta;
- Assumir o tema da redução dos impostos como grande causa do CDS – é inteligente, porque o tema dos impostos é praticamente o único em que a oposição pode ser realmente diferente do Governo;
- E, cereja em cima do bolo, o PS perdeu a cabeça e deu uma conferência de imprensa a "bater" em Assunção Cristas. Ela certamente agradece. Só lhe reforça o estatuto.
OS PASSES SOCIAIS
- Uma excelente ideia, lançada com enorme precipitação. Por isso o Governo teve que andar aos ziguezagues.
- Primeiro, era só para Lisboa. A seguir, já era também para o Porto. E, face à contestação, passou a ser para todo o país.
- Depois, era só o OE a pagar. Agora, já são também os autarcas.
- Finalmente, Medina falou em nome da AML mas ainda nem sequer há acordo na AML sobre o passe social único.
- Em conclusão: uma precipitação, que dá a sensação que tudo foi feito em cima do joelho apenas para que Medina tivesse uma novidade para apresentar na entrevista ao Expresso. Esta falta de solidez não é boa – nem para o Governo nem para Medina.
- De resto, há quem diga que este caso foi a forma encontrada por Costa para dizer que propõe Medina para seu sucessor. Não acredito nessa hipótese:
a) Primeiro – Costa sabe que tem ao pé de si dois interessados na sucessão – Pedro Nuno Santos e Fernando Medina. Um é o seu sucessor na Câmara. Outro é seu SE. Não vai cometer a deselegância de torcer por um contra o outro.
b) Segundo – Costa sabe que Pedro Nuno Santos leva grande vantagem sobre Medina. Como se viu no Congresso do PS. Não vai querer servir de muleta. Não é bom nem para o PM nem para Medina.
c) Terceiro – Os partidos não são monarquias. Os líderes que saem não escolhem os líderes que entrem. E, quando se metem nisso, normalmente perdem. Costa nunca cometerá essa imprudência.
d) "os clubes de futebol deixaram de ter um estatuto de impunidade"
e) "Alguém acredita que Paulo Gonçalves agia sozinho?"
f) Bloco "perdeu força no pior momento possível"
g) "Pedro Nuno Santos leva grande vantagem sobre Medina"
SPORTING – NOVA VIDA
Neste processo há um passado, um presente e um futuro.
- O passado é o fim do ciclo Bruno de Carvalho. Um ciclo que teve altos e baixos, algumas coisas boas e muitas coisas más. Não deixa grandes saudades.
- O presente são os órgãos que saem de cena e que merecem uma homenagem especial.
- Jaime Marta Soares – Teve vários ziguezagues e tem a imagem muito desgastada, mas a sua coragem foi decisiva para a ruptura que houve em Junho (A. Geral).
- Torres Pereira e os seus pares na Comissão de Gestão – Foram sensatos e discretos. Como tinham de ser.
- Henrique Monteiro e a Comissão de Fiscalização – Tiveram enorme coragem e competência (basta pensar no processo disciplinar ao ex-presidente);
- Sousa Cintra – Foi um herói. Resolveu muitos problemas. Deu normalidade ao clube. Recuperou jogadores que tinham saído. Deixa o Sporting na liderança do campeonato. Merece uma estátua.
- O futuro está nas mãos do novo presidente – Frederico Varandas
- É uma lufada de ar fresco no Sporting e no futebol português. É diferente. Tem mundo, tem personalidade e tem talento.
- Precisa de unidade, de resultados e de alguma sorte.
BENFICA ACUSADO
Esta acusação no processo e-toupeira permite duas importantes conclusões: primeiro, é um sinal para o futebol português; segundo, é uma má notícia para o Benfica.
- Primeiro – É um sinal para o futebol português.
a) Durante anos, o futebol viveu como um mundo à parte. Tinha um estatuto de impunidade. Tudo podia acontecer, mesmo à margem da lei, que ninguém intervinha, ninguém actuava, ninguém "se metia" com os clubes.
b) Esse tempo está a acabar. E a primeira grande mudança é na relação da justiça com o futebol. É mais um aspecto positivo do legado da actual PGR. Também os clubes de futebol deixaram de ter um estatuto de impunidade.
c) Provavelmente, os dirigentes desportivos ainda não perceberam esta mudança que está em curso. Mas a verdade é que nada no futuro será como dantes. Os dirigentes desportivos podem não gostar. Mas o futebol e o país agradecem mais transparência e menos impunidade no combate à corrupção.
- Segundo – Este processo é mau para o Benfica, por duas razões essenciais:
a) Por um lado, pela sucessão de casos em que o nome do Benfica está envolvido – e-toupeira; processo dos emails; caso Rangel; compra de jogos. São muitos casos em tão pouco tempo. Independentemente das decisões dos tribunais, é a imagem do Benfica que sai abalada e fragilizada.
b) Por outro lado, pelo caso em si mesmo. Não falo da parte jurídica. Isso é com os tribunais. Mas, em termos de imagem, isto é gravíssimo:
- Um alto funcionário do Benfica (Paulo Gonçalves) a usar informação ilegítima e obtida de forma ilegal;
- E a suspeita de que esta informação era para benefício do Benfica. Alguém acredita que Paulo Gonçalves agia sozinho? Por conta própria? Para seu benefício pessoal? Ele que até representava o Benfica na Liga de Clubes?
- Nota final – A demissão do Presidente do IPDJ
- Na mesma altura em que o Benfica foi sancionado por causa das claques, o Presidente do IPDJ, Augusto Baganha, foi demitido pelo Governo.
- Tudo muito estranho: então demite-se um Presidente aprovado pela Cresap? A um ano do fim do mandato? Que fez um trabalho por todos considerado competente?
- O Governo deve esclarecer. Foram pressões desportivas? Foram razões políticas? O escrutínio é essencial.
FUNDOS EUROPEUS PARA OS FOGOS
- O Fundo de Solidariedade Europeu, atribuiu cerca de 50 milhões de euros para apoiar os concelhos vítimas dos fogos florestais de 2017. O Governo decidiu que uma parte dessas verbas fica no Estado em vez de ir para os territórios afectados.
- Isto é uma fraude. Um desvio à razão de ser dos apoios concedidos. Não sei se é uma decisão legal. Mas é seguramente uma decisão imoral.
- Em 2017 tivemos os fogos florestais de Pedrógão, tivemos os graves incêndios florestais de Outubro e tivemos vários outros, noutros meses e locais.
a) Todos contaram, por igual, para o pedido de apoio de Portugal à União Europeia.
b) Mas, depois, quando há que distribuir os recursos, os fogos de Pedrógão e os fogos de Outubro têm um apoio a 100%, enquanto os fogos dos outros locais têm apenas um apoio de 60%. Isto é justo?
c) O Governo invoca que os recursos são escassos. Mas agora leva uma fatia do dinheiro para a máquina do Estado. É gato escondido com rabo de fora.
- Finalmente, o caso dos feridos graves. Outra injustiça.
- Houve feridos graves nos incêndios de Junho e Outubro e todos estão, e bem, a ser apoiados.
- E há feridos graves de outros incêndios (por exemplo, Alpedrinha) e não têm qualquer apoio. Isto faz algum sentido?
- Ferido grave é sempre ferido grave. Seja em Junho ou em Outubro. Seja em Pedrógão, no Fundão ou em qualquer outro local.
- Estes assuntos têm de ser tratados com equidade, humanidade e justiça. Não podem ser vistos numa lógica de burocracia ou de folha Excel.
- O PR e o Governo têm de ajudar a corrigir estas injustiças.
ELEIÇÕES NO BRASIL
- As eleições presidenciais no Brasil são completamente atípicas:
a) Primeiro, porque os candidatos são figuras de 2ª e 3ª linha. O processo Lava Jato decapitou a classe política antiga e não fabricou uma nova.
b) Segundo, porque há o fantasma de Lula da Silva. Ele não é candidato. Mas é o mais popular e o mais desejado.
c) Terceiro, porque está a suceder algo de invulgar nesta campanha: os assessores económicos dos candidatos têm quase tanta visibilidade e protagonismo como os candidatos. Prova de que a crise económica é séria e que a credibilidade dos candidatos não é grande. Precisam de uma espécie de "fiadores".
d) Finalmente, porque, apesar de Bolsonaro, o candidato da extrema-direita, ir à frente nas sondagens – e até pode beneficiar da tentativa de assassinato – dificilmente conseguirá vencer à segunda volta.
- Ainda em política externa:
a) Eleições na Suécia, hoje – Provável grande subida da extrema-direita, anti-imigração, com o partido Democratas Suecos, que deve ficar em segundo lugar, abaixo dos sociais-democratas.
- Há aqui um padrão: na Noruega, na Suécia, na Dinamarca, na Finlândia – em países muito ricos, com grande número de imigrantes, forte Estado Social e boa economia, sobe a extrema-direita.
b) Relatório sobre a Hungria
- A próxima semana será marcada pela votação no PE de um relatório (SARGENTINI) sobre a Hungria e o seu Governo – um relatório que propõe que, perante várias violações na Hungria dos princípios do Estado de Direito, seja accionado o art.º. 7 do Tratado de Lisboa, com vista à aplicação de sanções ao Governo húngaro (suspensão do direito de voto no Conselho Europeu).