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03 de Junho de 2018 às 21:11

Notas da semana de Marques Mendes

O comentador fala sobre As notas da semana de Marques Mendes nos seus comentários na SIC. O comentador fala sobre a pensão milionária de Jardim Gonçalves, sobre o encontro de António Costa e Angela Merkel, sobre os três pesadelos na Europa e as eleições europeia, entre outros temas.

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A PENSÃO MILIONÁRIA DE JARDIM GONÇALVES

 

  1.       Segundo o Expresso, o ex-Presidente do BCP tem uma pensão mensal de 167 mil euros, pensão essa que o Banco contesta e que um tribunal confirmou. Esta questão parece de somenos mas não é.

 

  1.       O que há a dizer?

a)      Primeiro: esta questão não é de legalidade. É de moralidade. Esta pensão milionária até pode ser legal, mas é absolutamente imoral.

b)      Segundo: num Banco que teve prejuízos brutais; que teve de recorrer a ajudas do Estado; que teve cortes salariais e rescisões de contratos; haver alguém a receber uma pensão mensal de 167 mil euros é qualquer coisa de obsceno e escandaloso;

c)      Terceiro: Jardim Gonçalves recebe por dia cerca de 5 mil e quinhentos euros. Mais do que muitos pensionistas recebem por ano. Isto não é eticamente aceitável. É mesmo uma afronta à generalidade dos portugueses.

d)      Finalmente: uma pessoa com a responsabilidade social de Jardim Gonçalves devia tomar a iniciativa de acordar com o Banco uma redução da sua pensão. Se o não fizer, merece certamente uma censura ética e moral. São situações destas que geram revolta e tentações de populismo.

 

MERKEL COM COSTA

 

  1.       Com a excepção da eutanásia, esta foi uma boa semana para Costa:
  •          Fundos comunitáriosA decisão de Bruxelas de cortar 7% nos fundos foi bastante melhor do que estava inicialmente previsto. E ainda pode vir a melhorar nas próximas negociações;
  •          Concertação social – Mais um acordo social, com vários elogios dos patrões. É uma vitória do Governo e uma provocação aos seus aliados.
  •           Visita de MerkelServe sobretudo para avalizar politicamente o Governo de Costa junto dos sectores mais moderados e conservadores.

 

  1.       O que há de comum em tudo isto? A ideia de que António Costa está a governar ao centro e ocupou politicamente o centro.
  •          Antes e durante o Congresso do PS, António Costa deixa os seus correligionários entusiasmados a fazerem discursos radicais e esquerdistas.
  •          Depois do Congresso, volta à sua linha de sempre: ocupa o centro, governa ao centro e trabalha para conquistar os eleitores moderados do centro. Ele sabe que é ao centro que se ganham eleições.

 

  1.       Nesta estratégia, a visita de Merkel foi a cereja em cima do bolo.
  •          Há 6 anos, esteve 5 horas em Portugal, foi criticada e apupada, em particular pelo PS.
  •          Agora esteve 2 dias, foi aplaudida e elogiada, sobretudo pelo PS.
  •          O que mudou? Não foi Merkel. Essa continua igual ao que sempre foi. Quem mudou foi o PS. Passou da oposição para o Governo. Da crítica para o elogio. O que prova que às vezes o poder faz milagres.

 

  1.       Visita do PM a AngolaDeve ser entre o fim deste mês e o início de Julho. É que Angola só formaliza a data depois de receber o processo de Manuel Vicente. Ora, o acórdão da Relação de Lisboa só transita em julgado no dia 11 deste mês e só então baixa à primeira instância para a decisão ser executada. Só depois haverá data.

 

TRÊS PESADELOS NA EUROPA

 

  1.       EspanhaGolpe palaciano dá origem a um albergue espanhol. Muitos perguntam: como é possível cair um governo e surgir outro ao mesmo tempo?

a)      Em Portugal seria impossível. Com uma Moção de Censura aprovada, o governo cai e a seguir o PR opta entre eleições ou um novo governo;

b)      Em Espanha é diferente. Há a figura da Moção de Censura Construtiva. Se for aprovada, cai um governo e surge outro ao mesmo tempo.

c)      Tem uma vantagem: não há vazios. Tem um inconveniente: pode dar origem a um governo desconchavado que é um autêntico albergue espanhol.

d)      Conclusão: temos um governo precário e instável, liderado por um partido que está em 4º lugar nas sondagens e que tem apenas ¼ dos deputados. Um pesadelo para a Europa. Um drama para Portugal.

 

  1.       Itália Parece um filme de Fellini.

a)      Tivemos um PM no fim de semana passada; depois, um outro PM até meio da semana; e voltámos agora a ter um terceiro PM que é o mesmo da semana passada. Tudo isto é kafkiano.

b)     Outro pesadelo para a Europa: um governo anti-Europa; que vai ser um foco de instabilidade; e que vai minar as negociações para a reforma da Zona Euro.

 

  1.       Guerra comercial EUA/UE – Outro pesadelo para a Europa.
  •          Trump começou uma nova guerra – a guerra comercial. É uma medida para Trump mostrar força aos americanos e para agradar aos seus eleitores.
  •          Mas é uma medida desastrosa: é má para a globalização; é má para a concorrência; é má para os consumidores.
  •          Reaja como reagir, a UE vai ser afectada. Más notícias para a economia mundial e europeia.

 

ELEIÇÕES EUROPEIAS

 

Estamos a um ano das eleições para o Parlamento Europeu. Começa a aproximar-se o momento da escolha de candidatos. E as especulações já começaram.

 

  1.       O CDS, a CDU e o BE – Têm basicamente as suas escolhas feitas: Nuno Melo será o nº 1 do CDS; João Ferreira o nº 1 da CDU; Marisa Matias o nº 1 do BE.

 

  1.       Quanto ao PSD não há ainda decisões:
  •          O mais provável é que o nº 1 seja Paulo Rangel: tem feito um bom lugar em Bruxelas; tem um pensamento sólido e consistente em matéria europeia; e já provou saber fazer combate político e eleitoral;
  •          Mas o PSD ainda tem, em teoria, uma outra hipóteses: Pedro Passos Coelho. Provavelmente nem ele quer nem o líder o quer. Mas, se fosse candidato, causava um susto monumental no CDS. O eleitorado mais à direita, do CDS, adora e admira Passos Coelho.

 

  1.       Quanto ao PS, o problema é ainda maior:
  •          Francisco Assis não será o nº 1, apesar da sua disponibilidade;
  •          Ana Catarina Mendes também não será;
  •          A hipótese Carlos César perdeu força. O próprio prefere outras hipóteses;
  •          Começou a ganhar corpo uma outra hipótese que pode ser a grande surpresa: Mário Centeno. Adquiriu grande prestígio como Ministro. Preside ao Eurogrupo. E é muito popular.
  •          E, como quer muito ir para a Comissão Europeia, pode sair do Governo um pouco mais cedo e faz duas em uma: primeiro, é candidato ao PE; e, a seguir, pode ser indicado para Comissário.

 

A DERROTA DA EUTANÁSIA

 

  1.       Foi um debate elevado e civilizado. Um debate de convicções, mas também um debate político. Um debate onde há vencidos e vencedores.

 

  1.       Vencidos:

a)      Catarina MartinsO BE foi o grande derrotado deste debate. Fez das causas fracturantes o seu grande lema político. Algumas vezes ganhou. Desta vez precipitou-se e perdeu. Com a agravante de que ajudou a dividir a coligação que apoia o Governo. E as relações com o PCP agravaram-se ainda mais.

b)      António Costa – É o segundo grande perdedor. Foi a reboque do BE. Não soube acautelar a convergência dentro da coligação. Com a intervenção que teve no Congresso, elevou as expectativas e fez desta questão uma causa importante. Perdeu. E esta derrota não ajuda ao seu desafio da maioria absoluta.

 

  1.       Vencedores

a)      Assunção CristasO CDS foi o partido que de forma mais consistente e duradoura fez campanha pelo NÃO. E teve na líder Assunção Cristas a na deputada Isabel Galriça Neto duas protagonistas determinadas e de qualidade. Por isso, o CDS é um dos grandes vencedores deste confronto.

b)      Jerónimo de SousaO PCP foi o vencedor mais surpreendente. Primeiro, pela qualidade da intervenção de António Filipe; depois, pela solidez da posição doutrinária que o PCP assumiu; e, finalmente, porque mostrou que não actua ao sabor dos acontecimentos.

c)      Fernando Negrão foi o terceiro grande vencedor. Afirmou corajosamente a sua convicção pelo NÃO, apesar de ser diferente da de Rui Rio. Fez uma intervenção de qualidade. E conseguiu, no essencial, uma grande unidade dentro da bancada. Está a pouco e pouco a afirmar-se como um bom líder parlamentar. E é seguramente o dirigente do PSD que mais oposição faz a António Costa.

 

  1.       O futuro – O tema voltará seguramente na próxima legislatura. Uma certeza e uma preocupação:
  •          A certeza: os vencidos desta semana serão muito provavelmente os vencedores da próxima legislatura;
  •          A preocupação: como é possível que, num tema tão transversal como este, nenhum partido proponha um referendo? Se não se faz um referendo nesta matéria, não sei para que serve o referendo.

 

AS CRÍTICAS A RUI RIO

 

  1.       A semana de Rui Rio, por sua vez, foi marcada por duas questões distintas:

a)      As críticas públicas de que foi alvo por causada eutanásia;

b)      As críticas feitas em surdina, pelo apoio dado ao Governo na questão dos Fundos e nas alterações à lei laboral resultantes do Acordo de Concertação Social.

 

  1.       Essas críticas, a meu ver, não fazem qualquer sentido:
  •          Na eutanásia: numa questão de consciência não faz sentido criticar as convicções de cada um. Rio limitou-se a expressar a sua convicção. E deve ser respeitado por isso.
  •          Nos Fundos e leis laborais: também aqui as críticas não fazem sentido. Ao apoiar o Governo nestas matérias, Rui Rio está a ser coerente e a defender o interesse nacional.

 

  1.       Onde Rio merece ser criticado é noutro plano: é o plano da falta de propostas e de ideias alternativas ao Governo. Aí Rio tem sido um enorme vazio. Rio não tem causas próprias, não tem uma agenda alternativa, não tem propostas diferentes das do Governo. Acaba agora de fazer, na prática, um terceiro acordo com o Governo, ao apoiar as mudanças nas leis laborais. E mesmo assim continua sem se diferenciar do Governo. Isto é que é criticável.  
  •          Fica a sensação de que Rio é muleta do Governo. Parece o nº 2 de António Costa. Aí, sim, parece que temos um Bloco Central informal. Dessa forma dificilmente Rio se afirma alternativa.

 

MUNDIAL DE FUTEBOL

 

  1.       Até onde pode chegar a Selecção Nacional?

a)      Segundo as Casas de Apostas até aos quartos-de-final. Portugal é considerado o oitavo favorito. À nossa frente estão: Brasil, Alemanha, França, Argentina, Espanha, Inglaterra e Bélgica;

b)      Eu julgo que chegar aos quartos-de-final é bom; chegar às meias-finais é muito bom; chegar à final é excelente. E eu acredito que vamos mesmo aos quartos-de-final e, com alguma sorte, às meias-finais.

c)      Temos uma selecção que me parece melhor que a do Europeu. Dez dos 23 atletas são novas escolhas. É uma equipa com mais qualidade e mais soluções no meio-campo e ataque; embora possa ter na defesa o seu ponto mais vulnerável. É uma defesa mais envelhecida.

d)      E temos um grupo teoricamente acessível. É quase impossível não nos qualificarmos.

 

  1.       Bola de Ouro de 2018 (Melhor Jogador do Mundo) – A escolha do futuro Bola de Ouro está muito dependente do que suceder neste Mundial. Temos 5 hipóteses pela frente:
  •          Se o Brasil vencer o Mundial, Neymar será o favorito;
  •          Se a França vencer, Mbappé pode ser o escolhido;
  •          Se a Argentina ganhar, Messi ganhará o troféu;
  •          Se a Espanha vencer, Iniesta será o favorito (um gesto de gratidão);
  •          Se Portugal vencer ou fizer boa figura, aí Ronaldo pode voltar a ganhar.

 

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