Opinião
Notas da semana de Marques Mendes
As notas da semana de Marques Mendes nos seus comentários na SIC. O comentador fala sobre o caso Barreiras Duarte, as boas notícias da economia, a limpeza das matas e o estado da Europa, entre outros temas.
O CASO BARREIRAS DUARTE
A substituição de Feliciano Barreiras Duarte, hoje mesmo anunciada, é a única boa notícia nesta novela inqualificável, que se arrastou tempo de mais.
- Feliciano Barreiras Duarte não tinha alternativa que não fosse a demissão.
- Primeiro, porque teve um erro grave – aldrabou o seu CV. E só pode queixar-se de si próprio, da sua saloiice e de mais ninguém.
- Depois, porque estava diminuído politicamente para o exercício do seu cargo de SG (ele quase não aparece em público).
- Terceiro, porque estava a criar um prejuízo sério ao PSD e ao seu líder Rui Rio (é um ruído insuportável).
- Quarto, porque agarrar-se ao lugar é sempre um sinal de fraqueza e egoísmo. Tinha a obrigação de colocar o interesse do partido acima do seu egoísmo.
- Mais estranho e grave foi o comportamento do líder do PSD. Rio esteve mal em todo este processo. Desculpou o SG no início e andou aos bonés a seguir. Muito estranho.
- Primeiro: o ponto mais forte da imagem de Rio é a sua seriedade. Rui Rio não é visto como um grande estadista, ideólogo ou estratega. É visto como um homem sério e de princípios. Pois bem, ao pactuar tanto tempo com esta situação, Rui Rio está a dar cabo do melhor que a sua imagem tem.
- Segundo: Rui Rio é normalmente apresentado como um político de coragem e que corta a direito. Então, pergunta-se: onde esteve a coragem? Por que é que demorou tanto tempo a cortar a direito? Ficou-se com a sensação de que estava condiciondo.
- Dir-se-á: mas não é fácil tomar este tipo de decisões. Tem custos. É verdade. Mas quem é líder tem de ter coragem de as tomar. Modéstia à parte, julgo que tenho alguma autoridade para dizer isto: se há 13 anos eu tivesse tido as mesmas dúvidas e hesitações nos casos Valentim Loureiro e Isaltino Morais, tudo continuava na mesma.
- Claro que é mais fácil pregar ética quando se trata de falar dos adversários. Mas o que confere autoridade e credibilidade a um político é ele dar o exemplo dentro da própria casa.
BOAS NOTÍCIAS DA ECONOMIA
- Três boas notícias esta semana:
a) Primeira: o anúncio do PM de um défice de 1,1%. Excelente. Melhor do que o próprio Governo tinha previsto e anunciado.
b) Segundo: uma emissão de dívida a 10 e a 27 anos com a melhor taxa de juro de sempre. Um sucesso.
c) Terceiro: um relatório do Conselho de Finanças Públicas a perspectivar duas boas realidades:
- A ideia de um défice de 0,7% este ano.
- A ideia de em 2020 deixarmos de ter défice e passarmos a ter excedente orçamental.
- O que é que tudo isto significa?
- Que estamos no bom caminho;
- Que está em alta a nossa credibilidade nos mercados financeiros;
- Que, se não houver a tentação de excessivo eleitoralismo em 2019, estaremos a trabalhar na direcção certa – a direcção da sustentabilidade financeira do Estado;
- Que podemos estar a caminhar para uma década histórica – começámos esta década com um défice de cerca de 11% e podemos acabar a década sem défice e já com excedente orçamental. Isto é histórico.
O QUE PENSAM OS PORTUGUESES?
- O Eurobarómetro é um exercício que a Comissão Europeia desenvolve duas vezes por ano para avaliar o que pensa a opinião pública europeia de várias questões. Uma sondagem, país a país, com cerca 1000 inquirições em cada um deles.
- Foram agora divulgados os resultados do Eurobarómetro do Outono de 2017. E há, no que toca a Portugal, algumas conclusões interessantes:
a) Estado da economia:
- 33% dos portugueses consideram que é boa ou muito boa;
- Apesar de ainda ser um resultado negativo, é o melhor dos últimos 13 anos. Há uma tendência de melhoria.
b) Estado da democracia:
- 72% dos portugueses estão satisfeitos com o estado da nossa democracia;
- É o melhor resultado desde 1991;
- Estamos no topo dos 28 da União Europeia (igual à Alemanha).
c) Apoio ao projecto europeu:
- 53% dos portugueses avaliam positivamente a UE.
- Somos o 4º país da UE com índices mais altos (à nossa frente só a Irlanda, o Luxemburgo e a Bulgária).
d) Atitude face à Imigração:
- 69% dos portugueses são favoráveis à imigração;
- É o 5º melhor resultado da UE (à nossa frente só a Suécia, a Irlanda, o Luxemburgo e a Finlândia).
- Em conclusão: globalmente, os portugueses ultrapassaram os traumas do resgate e exibem hoje um sentimento de confiança em relação ao seu futuro e ao projecto europeu.
A LIMPEZA DAS MATAS
Acerca desta matéria, há aspectos positivos e negativos.
- Aspectos positivos – A campanha nacional de prevenção
a) Nunca o país deu tanta atenção como este ano à prevenção dos incêndios;
b) Nunca houve tanta limpeza das matas como este ano;
c) Nunca houve tamanha sensibilização da sociedade como este ano;
d) Nunca houve um envolvimento tão grande nesta campanha de prevenção como este ano – PR; Governo; PAR; autarquias; sociedade civil.
e) Em conclusão: pode haver falhas, erros, excessos e atropelos, mas o balanço é muito positivo. Este é seguramente um ano de viragem.
- Aspecto negativo – As declarações do PM acusando a imprensa de só "acordar para os problemas no meio das tragedias". Só faltou dizer que os jornalistas são responsáveis pelas mortes dos incêndios. António Costa não só não tem razão como sobretudo não tem autoridade para criticar.
- Que campanha para a limpeza das matas é que o Governo fez no ano passado? Nenhuma! Só agora. Casa roubada, trancas à porta!
- Quem é que foi de férias depois do caso de Tancos e da tragédia de Pedrógão? António Costa.
- Quem é que depois da tragédia de Pedrógão manteve em funções uma Ministra fragilizada e incapaz de liderar este combate? O Primeiro-Ministro.
- Quem é que em 2017 fez mudanças tardias e erradas na Protecção Civil que a tornaram inoperacional? O Governo.
- Ou seja: com tantas falhas e omissões, impunha-se que o PM tivesse menos arrogância e mais humildade.
SONDAGEM SIC/EXPRESSO
Quatro conclusões essenciais desta sondagem:
- Primeira conclusão: um choque para o CDS.
- O CDS acabou o Congresso a ambicionar ficar à frente do PSD e até a ser o primeiro partido.
- Só que, para já, os portugueses não ajudam a essa ambição. Temos que aguardar pelas próximas sondagens.
- Segunda conclusão: um susto para PCP e BE.
- Estes dois partidos abominam a ideia de uma maioria absoluta do PS. Para eles, uma maioria absoluta do PS é o diabo. É que, se o PS tiver uma maioria absoluta, eles passam a ser descartáveis. Não contam para a governação.
- Ora, a verdade é que o PS nunca esteve tão próximo da maioria absoluta. O que prova, além do mais, que a estratégia do desgaste do Governo ensaiada pelo PCP e BE não está a resultar.
- Terceira conclusão: um pesadelo para Rui Rio.
- Apesar de o PSD subir um ponto e meio, a diferença para o PS é enorme – 13 pontos;
- Na preferência para PM, a diferença a favor de António Costa é brutal – 73% contra 17%. Rui Rio está a queimar-se em lume brando.
- Finalmente, com o PS próximo da maioria absoluta e o PSD a ficar sem hipóteses de ganhar eleições, Rui Rio corre o risco de muitos eleitores moderados que habitualmente votam no PSD fugirem para o PS. Porque preferem um Governo só de António Costa a um Governo do PS com o Bloco. Basta ver as opiniões de alguns empresários da área do PSD que já começam a elogiar António Costa.
- Rio deve perceber que tem de mudar – enquanto não tiver causas terá casos; enquanto não fizer oposição, terá polemicas. E com casos e polémicas perderá sempre para Costa, que assiste de palanque a todo este desastre.
- Quarta conclusão: uma bênção para António Costa. Nunca esteve tão perto de uma maioria absoluta. Porquê?
- Primeiro – Pelos bons resultados da economia e do emprego.
- Segundo – Porque não tem oposição. A oposição deixa o Governo à solta.
- Terceiro – Porque faz uma governação ao centro e tem uma imagem moderada. E é ao centro que se ganham eleições.
O ESTADO DA EUROPA
- Esta semana que vai começar devia ser uma semana decisiva para a Europa. A Cimeira Europeia de 22 e 23 devia aprovar a agenda para as reformas da Zona Euro. Mas tudo vai ser adiado para Junho. Será uma cimeira sem história.
- A Europa esta economicamente em alta. Mas, politicamente, está numa situação difícil. Por razões internas e externas:
a) Razões internas (a situação da Europa é muito volátil):
- Merkel formou governo ao fim de 6 meses mas não está tão forte como estava. Teve que fazer grandes concessões.
- Macron tem séria contestação interna (dos pensionistas e dos sindicatos) e precisa de reformas na zona euro para justificar reformas internas.
- A Itália, num impasse político, é uma dor de cabeça.
- E até, noutro plano, esta semana tivemos as demissões de dois primeiros-ministros – da Eslováquia e da Eslovénia.
b) Razões externas (estamos a viver um período de agravamento de tensões no mundo – o pior período desde a Guerra Fria):
- A ameaça russa – Putin continua a explorar a sério as fragilidades ocidentais e a fazer provocações (as divisões entre europeus e britânicos por cauda do Brexit; as fragilidades da administração Trump; a diminuição do empenho dos EUA na NATO; o envenenamento do espião no Reino Unido).
- Depois, o espectro de uma Guerra Comercial na sequência das decisões de Trump de criar novas tarifas aduaneiras. São decisões que prejudicam, entre outros, a União Europeia. E que angustiam a Alemanha, com o receio de tarifas sobre importações de automóveis.
- Em conclusão: em vez de resolver os seus problemas internos (Brexit e reforma da Zona Euro), os líderes europeus vão estar ocupados a decidir como retaliam, quer em relação a Putin, quer em relação a Trump.
- No entretanto, o PM português falou esta semana no PE. Duas notas:
- Um bom discurso;
- Um discurso próximo das teses de Merkel e Passos Coelho.