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23 de Julho de 2017 às 21:21

Notas da semana de Marques Mendes

Luís Marques Mendes, no habitual comentário ao domingo na SIC, fala dos casos da semana. O Negócios publica o excerto desses comentários.

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O ESTADO DO GOVERNO

 

Ao fim de quase 2 anos de mandato, tem-se a sensação de que o Governo está a ganhar na economia e está a perder na política.

 

  1.       A ganhar na economiaOs resultados são bons.
  •          O desemprego em Abril ficou nos 9,5% e a previsão para Maio é de 9,4%;
  •          O investimento em Abril e Maio cresceu 13,3%;
  •          As exportações de Janeiro a Maio cresceram 13,4%;
  •          O PIB pode ficar este ano próximo dos 3%. Um grande resultado!

 

  1.       A perder politicamente – Para além dos sinais de arrogância em relação a algumas entidades independentes; e de ciúmes em relação ao PR, o facto novo é que a relação entre o Governo e os seus parceiros (PCP e BE) degradou-se. Já teve melhores dias. Há forte tensão entre o PS e os seus parceiros.
  •          Viu-se esta semana no Parlamento. A negociação da reforma da floresta foi muito difícil entre Governo, PCP e BE. O Governo teve que fazer várias cedências e o PCP chumbou mesmo uma lei do Governo. Isto é inédito.
  •          E a negociação do OE para 2018 j vai ser mais difícil do que se imaginava. O Governo até já a queria ter fechado. Nem pensar. Vai ser uma tarefa difícil até ao dia 15 de Outubro.
  •          Nada disto quer dizer que o Governo vai cair ou que vamos ter uma crise política. Nada disso. O que quer dizer é que pioraram as condições de governabilidade. O Governo está politicamente mais fraco. PCP e BE tornaram-se mais fortes e batem o pé.
  •          Tudo porque com tudo o que sucedeu nos últimos tempos (Pedrógão, Tancos e demissões de Secretários de Estado) o Governo ficou fragilizado.

 

LEI DA ROLHA NO INQUÉRITO À CGD?

 

  1.       A actual Administração da Caixa Geral de Depósitos tem um trabalho ciclópico de recuperação a realizar por causa do "buraco" criado no passado. Muitas agências têm de fechar e muitos trabalhadores da CGD têm de rescindir contratos por causa do "buraco" do passado. O Estado português tem de meter na Caixa uma "pipa de massa" por causa do "buraco" do passado. E, apesar de tudo isto, a Comissão de Inquérito à caixa acabou como começou – sem concluir nada e sem descobrir coisa nenhuma.

a)      Houve empréstimos mal concedidos? Quais? Quantos? Porquê?

b)      Houve pressões políticas dos governos? De quem?

c)      Houve ilegalidades? Ou foi tudo legal?

d)      Nem uma resposta.

 

  1.       Isto é uma vergonha. Porque tudo isto é querer esconder a verdade.
  •          Responsabilidade do PS que quis encerrar a Comissão sem investigar tudo o que havia a investigar.
  •          Responsabilidade do Parlamento e dos deputados que dão ao país uma imagem desgraçada. Não se dão ao respeito.

 

  1.       Não se queixem mais tarde da Justiça, se a Justiça, através do Ministério Público, resolver investigar o que o Parlamento não investigou. E é muito provável que o faça.

 

  1.       É como no caso de Tancos: é o desnorte total. Já se demitiram comandantes e já se nomearam de novo os comandantes. Depois, o assalto era grave e depois deixou de ser. A seguir, era preciso videovigilância nos paióis de Tancos e agora, aprovada a videovigilância, muda-se o local dos paióis. Só não há ainda responsabilidades e responsáveis. Com tanto desnorte não se queixem se as pessoas desconfiarem das Forças Armadas.

 

 

LEI DA ROLHA NOS INCÊNDIOS?

 

  1.       Este caso é grave em si mesmo? Claro que é. As coisas não têm corrido bem nos incêndios. Não correram bem em Pedrógão e não correram bem em Alijó. Então, em vez de se corrigirem as falhas, limita-se a informação. Se não houver notícias ou houver poucas notícias, até parece que está tudo bem. É um truque antigo e uma forma de controlar a informação.

 

  1.       Agora, há uma realidade ainda mais grave. Há uma mudança no comportamento do Governo depois das 3 semanas fatídicas (Pedrógão, Tancos e demissão dos Secretários de Estado).
  •          O Governo ficou muito afectado com os casos dessas três semanas. E resolveu reagir com uma certa arrogância.
  •          Em vez de ter a humildade de reconhecer erros e falhas, resolveu encontrar uns culpados, uns bodes expiatórios.
  •          E quais são? Os suspeitos do costume: os malandros da comunicação social; e os malandros do Ministério Público. Tal como antes, na economia, foi o Conselho das Finanças Públicas e Teodora Cardoso.
  •          Assim, as coisas correm mal com os incêndios, limita-se a informação; três Secretários de Estado são arguidos, ataca-se o Ministério Público. Deve ser já a começar a preparar a não recondução da actual Procuradora Geral da República, como fez Sócrates com Souto Moura.
  •          Só falta culpar o Presidente da República por ter protagonismo a mais. Os ciúmes, esses, já se notam!!

 

  1.       Agora, nada disto é inteligente.

a)      Primeiro: porque é a cópia de um filme já visto e que deu sempre maus resultados. Foi assim na parte final do cavaquismo (as forças de bloqueio) e foi assim com Sócrates, ao fim de três anos de Governo. Num caso e noutro deu asneira.

b)      Depois, porque é António Costa a ficar mais parecido com Sócrates. Andou tanto tempo a afastar-se de Sócrates para agora ficar, de repente, com tiques socráticos.

c)      Finalmente, porque desta forma – radicalizando o discurso e o comportamento – afasta-se do centro e fica mais difícil obter uma maioria absoluta.

 

OPERAÇÃO AUTÁRQUICAS

 

  1.       COIMBRA

a)      É a única capital de distrito onde pode haver mudança de presidência. Porquê? Porque o Presidente da Câmara, apesar de estar em primeiro mandato, tem a sua imagem algo desgastada.

b)      Em circunstâncias normais, a coligação PSD/CDS tinha aqui uma grande oportunidade de vitória.

c)      Só que surgiu a candidatura do ex-bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, a qual baralhou tudo. E que até tem o apoio do ex-Presidente da Câmara do PSD, Carlos Encarnação.

d)      Conclusão: o resultado de 1 de Outubro é um autêntico totobola. 1x2. Qualquer um dos três pode vencer.

 

  1.       LOURES

a)      Enquanto eleição, a Câmara de Loures passou a ser um dos casos mais mediáticos destas autárquicas. Por causa da polémica com o candidato do PSD.

b)      Quanto a resultados, julgo que haverá apenas uma dúvida: é com a CDU.

  •          A Câmara é liderada de há 4 anos para cá por Bernardino Soares, do PCP. Ganhou mas sem maioria absoluta.
  •          Um mandato depois, será que Bernardino Soares vai ganhar a maioria absoluta?
  •          Julgo que é muito provável. E esta é a única dúvida da eleição em Loures. Tudo o resto é bastante irrelevante.

 

APELO AO RACISMO?

 

  1.       André Ventura, o candidato do PSD a Loures, conseguiu esta semana o que desejava – notoriedade e visibilidade. Era pouco conhecido, estava mal nas sondagens, arranjou uma polémica e passou a ser falado. É uma táctica muito conhecida. É a tradução daquela ideia – não interessa se falam bem ou mal de mim, preciso é que falem!

 

  1.       Sobre o fundo da questão, o que há de certo e de errado nas declarações do candidato?

a)      Está certo quando diz que há problemas com comunidades ciganas. Isso é verdade. Em Loures e noutros concelhos. Já o antigo Presidente da Câmara de Loures (PS), em 2008, o tinha dito. E convém não desvalorizar.

b)      O que é errado é a generalização. Dizer que os ciganos não cumprem as leis – só porque alguns prevaricam – é um disparate tão grande quanto dizer que o PSD é um partido de desonestos só porque um ou outro militante esteve envolvido no BPN. Não se pode generalizar.

c)      Depois: a falha do Estado. Se algumas famílias ciganas não cumprem as leis do país (e isso é verdade) a falha é do Estado. Das polícias, dos tribunais, das autarquias. Estas instituições do Estado é que têm de aplicar as leis.

d)      Pior é o populismo. O candidato não usou este tema para ajudar a resolver um problema. Mas sim para ganhar votos à custa de um preconceito. Isto não é aceitável. A política não é a arte do vale tudo. Tem que haver regras. Nem todos os meios são legítimos para atingir os fins que se pretendem.

 

  1.       Pergunta-se: mas ele devia ter saído das listas? Eu responderia que nunca deveria ter entrado, até por uma outra razão: separação entre política e futebol.
  •          Ele é candidato em grande medida porque é comentador de futebol. Se não fosse, provavelmente nunca seria candidato.
  •          E isto é um retrocesso no PSD. No tempo do cavaquismo houve muito o recurso a candidatos do mundo do futebol. Mais tarde cortou-se com isso. Agora volta-se ao passado.
  •          Eu, por mim, continuo favorável a uma completa separação entre política e futebol.

 

 

NOTAS FINAIS

 

  1.       Saudação a Hugo Soares – Novo líder parlamentar do PSD.

 

  1.       Saudação a Alberto Martins – Abandona o Parlamento.

 

  1.       Saudação ao Príncipe Aga Khan – Doutoramento na Nova

 

  1.       Saudação a Cavaco Silva – Condecoração na Galiza

 

  1.       Saudação a Frederico Morais – Sucesso no surf

 

 

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