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Opinião
01 de Janeiro de 2017 às 21:05

Notas da semana de Marques Mendes

A análise de Luís Marques Mendes ao que marcou a última semana da vida nacional e internacional. Os principais excertos da sua intervenção na SIC.

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PREVISÕES

  1.      Autárquicas Quem vai ganhar mais câmaras?
  •          O mapa autárquico vai ficar muito igual ao que é hoje. Haverá poucas alterações.
  •          Assim, o PS deve voltar a ganhar o maior número de Câmaras, porque tem uma vantagem de 43;  o PSD deve ficar em segundo lugar, com uma pequena subida; o PCP vai manter o que tem; o CDS a mesma coisa; e o BE confirmará a irrelevância que é no plano autárquico.
  •          Conclusão: Tudo como dantes! O que é mau para a oposição e bom para o Governo. Mostra que a geringonça não teve desgaste com o exercício do poder. E que a oposição não conseguiu ainda afirmar-se como alternativa.

 

 

  1.      O PSD pode ganhar Lisboa, Porto e Coimbra?
  •          Vencer nas principais cidades é o grande calcanhar de Aquiles do PSD.
  •          CoimbraÉ o caso teoricamente mais fácil. Mas para ganhar o PSD precisa de um bom candidato. Álvaro Amaro é o melhor. Mas não é seguro que troque a Guarda por Coimbra. Bem pelo contrário.
  •          Porto É muito difícil bater Rui Moreira. Mesmo assim, o PSD também não ajuda. O candidato pré-escolhido é um desconhecido (Álvaro Almeida). Pode ser competente mas ninguém o conhece. É uma confissão de derrota. Um candidato para cumprir calendário. É atirar com a toalha ao chão. O PSD tinha obrigação de escolher melhor.
  •          LisboaÉ um enigma. Ainda ninguém percebeu o que quer o PSD. Anunciou há 2 semanas que queria fazer negociações com o CDS. Ao mesmo tempo, Passos continua à procura de um candidato próprio. Um dos seus vice-presidentes até sondou recentemente Paulo Rangel para candidato a Lisboa. O PSD parece o hesitante no meio da ponte. Nem para cá, nem para lá.
  •          Conclusão: o PSD corre o risco de não recuperar nenhum grande município. E isso tem um problema: sem ganhar algumas grandes cidades, torna-se muito mais difícil ganhar eleições legislativas.

  1.      Se perder as autárquicas, Passos Coelho aguenta-se como líder?

 

  •          Em relação a Passos Coelho, os eleitores do PSD têm sentimentos contraditórios: por um lado, têm uma dívida de gratidão por aquilo que ele fez no Governo; por outro lado, têm a sensação de que neste novo ciclo o PSD não volta a ganhar eleições com Passos Coelho na liderança.
  •          No momento da verdade, quem ganha? A gratidão ou o pragmatismo? Tenho para mim que o decisivo serão as sondagens.
  •          Imaginemos uma disputa Passos – Rio. Se as sondagens disserem que Rio é o melhor para vencer Costa, os militantes tenderão a escolher Rui Rio. Se as sondagens forem favoráveis a Passos, o líder actual ganhará. É sempre assim. É o pragmatismo e o desejo de ganhar.
  •          Mas isso só será em 2018. Rui Rio já veio dizer que não quer Congresso este ano, para não prejudicar as autárquicas e Passos, se o fizesse, corria riscos enormes.

 

  1.      Vamos ter crise política provocada por PCP e BE?

 

  •          Não vamos ter qualquer crise política em 2017. De resto, o mais provável é o Governo cumprir o mandato de 4 anos.
  •          Claro que PCP e BE vão subir as suas críticas e as suas divergências em relação ao Governo (exemplos – leis laborais e aumento dos dias de férias). Mas sem consequências. Eles sabem que se provocassem uma crise davam uma maioria absoluta a António Costa.
  •          Ou seja, o grande trunfo de António Costa é a sua popularidade muito alta. Isto dá-lhe um grande espaço de manobra. Condiciona os seus parceiros de coligação. A vai lançá-lo para o objectivo de ter em 2019 uma maioria absoluta.
  1.      Marcelo vai manter uma alta popularidade?

 

  •          Marcelo deve manter em 2017 o mesmo registo de 2016. Uma política de proximidade com as pessoas; uma presidência interventiva; uma boa cooperação institucional com o Governo; e seguramente uma alta popularidade.
  •          A grande força de Marcelo é mesmo essa: a sua ligação ao povo. Dá-lhe poder e está-lhe na massa do sangue. Ele é autêntico nesta relação com as pessoas.
  •          Tem vantagem, porém, no segundo ano do seu mandato, em ser mais selectivo e mais contido do que tem sido até agora. Escolher bem os momentos em que fala e os assuntos de que fala. Primeiro, para não cansar. Depois, par não banalizar.

 

  1.      A economia vai crescer mais do que em 2016?

 

  •          Vai crescer um pouco mais, fruto da conjuntura externa ligeiramente manos adversa e da aplicação dos fundos estruturais.
  •          Mas continuará a ser um crescimento anémico (1,4% ou 1,5%).
  •          É certo que António Costa em 2017 vai virar-se a sério para a economia; para as empresas; para a diplomacia económica (vai agora fazer uma viagem de 10 dias à Índia, aos Emiratos e à Arábia Saudita, à procura de investimento).
  •          Mas os resultados não serão nem fáceis nem imediatos. Falta confiança e faltam reformas. A habilidade política não chega para atrair investimento.
  •          Os grandes problemas do Governo vão ser: a dívida, que não pára de crescer; o BCE que vai começar a fechar a torneira; e o excesso de consumo, que vai criar desequilíbrios externos.

 

  1.      A extrema-direita vai crescer nas eleições de França e Alemanha?

 

  •          Em França, o mais provável é que Marine Le Pen passe à 2ª volta das presidenciais mas perca na 2ª volta.
  •          Na Alemanha, apesar do desgaste, Merkel deverá voltar a ganhar. Mas a extrema-direita (o partido Alternativa para a Alemanha), pela primeira vez, poderá eleger Deputados para o Parlamento alemão.
  •          O caso mais sério é na Holanda. O partido de extrema-direita está à frente nas sondagens e pode ganhar as eleições legislativas.
  •          E ainda podemos ter eleições em Itália. Com o risco de um antigo palhaço (Beppe Grilo) poder ganhar eleições.
  •          Em conclusão: hoje em dia, cada eleição na Europa é um susto, uma angústia e um pavor. O susto da extrema-direita e o medo do populismo. É o estado a que chegou a Europa.

 

  1.      Como vai ser a Europa com o Brexit já em curso?

 

  •          Em 2017 a Europa faz 60 anos. Mesmo assim não haverá muito para festejar e a Europa será em 2017 igual a 2016. Nada de importante mudará.
  •          Vai haver maior coordenação económica? Não. Vai haver flexibilidade do Pacto de Estabilidade? Não. Vai haver alguma mutualização da dívida? Não. Vai haver reforço do orçamento da Zona Euro? Não.
  •          É certo que haverá já em Fevereiro, no Conselho de Malta, o Livro Branco sobre o Futuro da Europa. E em Março uma declaração solene sobre o futuro da União. Mas até às eleições na Alemanha não haverá nada de novo. Novidades só em 2018 e 2019. Mais um ano perdido.

 

  1.      A Administração Trump vai agravar os problemas mundiais?

 

  •          As grandes novidades em 2017 não virão da Europa. Virão, sim, dos EUA. E temo bem que as novidades não sejam positivas.
  •          Todos os sinais apontam nesse sentido. A composição da nova Administração; a proximidade à Rússia; o desprezo pela China; o afastamento da Europa; as políticas proteccionistas. Tudo maus sinais.
  •          E, sobretudo, o sinal da imprevisibilidade e incerteza de um Presidente errático e impreparado.
  •          O mundo e os Estados Unidos mereciam melhor.

 

 

  1.                        Portugal poderá ganhar a Taça das Confederações?

 

No futebol, Portugal tem dois grandes desafios em 2017:

  •          Primeiro, apurar-se para o Mundial de 2018 na Rússia. Julgo que está ao nosso alcance. Não podemos falhar.
  •          Segundo, ter uma boa actuação na Taça das Confederações (que se realiza na Rússia em Junho deste ano). Estamos num grupo relativamente acessível (com o México, a Rússia e a Nova Zelândia) e podemos passar à final. Aí o adversário mais provável é a Alemanha. Julgo que podemos voltar a surpreender.

 

  1.                        Jorge Jesus fica em Alvalade se o Sporting perder o campeonato?

 

  •          Este é um ano decisivo para Jorge Jesus. Quando entrou em Alvalade as expectativas subiram exponencialmente. Chegada para ser o Salvador da Pátria Sportinguista.
  •          O ano passado perdeu o campeonato. Se este ano voltar a perder, vai ser muito difícil manter-se em Alvalade.
  •          Não deixará de ser um grande treinador. Mas a estrelinha de técnico vencedor vai empalidecer. É a vida!...

Em conclusão:

  1.       Um ano sem grandes novidades e sem grandes mudanças em Portugal e na Europa. 2017 muito igual a 2016.
  2.       As grandes novidades e surpresas virão sobretudo dos EUA. Aí estará o epicentro político em 2017. Trump será o centro das atenções.

 

NOTAS FINAIS

 

  1.       Uma boa decisãoA decisão do Governo de aprovar um plano de reabilitação do património cultural, concessionando dezenas de edifícios de valia cultural ao sector privado.
  •          Surpresa por ser um Governo de esquerda a fazer concessões ao sector privado.
  •          Surpresa porque significa que alguém se lembra da importância de recuperar o nosso património cultural, às vezes tão abandonado.
  •          Parabéns ao Ministro da Cultura.

 

  1.       Uma má decisãoA concessão de subsídios extraordinários a várias Câmaras socialistas em ano pré-eleitoral.
  •          Cheira a frete eleitoral.
  •          Todos os governos têm pecados e pecadilhos em matéria eleitoral.
  •          Mas este prometeu ser diferente. E afinal está a seguir um mau caminho. O caminho da politiquice eleitoral.

 

  1.       Novo Banco – Duas informações importantes:

a)      A primeira é que será nesta primeira semana de janeiro que o Banco de Portugal vai tomar a sua decisão, que depois remeterá ao Governo para o veredicto final;

b)     A segunda é que há uma pequena reviravolta no processo:

  •          Os chineses, que tinham a proposta melhor, não vão ganhar. Afinal, não conseguiram apresentar as garantias necessárias;
  •          Assim sendo, a proposta do Banco de Portugal apresentará certamente como vencedor o candidato seguinte – os americanos da Lone Star.
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