Opinião
Notas da semana de Marques Mendes
A análise de Luís Marques Mendes ao que marcou a última semana da vida nacional e internacional. Os principais excertos da sua intervenção na SIC.
PREVISÕES
- Autárquicas – Quem vai ganhar mais câmaras?
- O mapa autárquico vai ficar muito igual ao que é hoje. Haverá poucas alterações.
- Assim, o PS deve voltar a ganhar o maior número de Câmaras, porque tem uma vantagem de 43; o PSD deve ficar em segundo lugar, com uma pequena subida; o PCP vai manter o que tem; o CDS a mesma coisa; e o BE confirmará a irrelevância que é no plano autárquico.
- Conclusão: Tudo como dantes! O que é mau para a oposição e bom para o Governo. Mostra que a geringonça não teve desgaste com o exercício do poder. E que a oposição não conseguiu ainda afirmar-se como alternativa.
- O PSD pode ganhar Lisboa, Porto e Coimbra?
- Vencer nas principais cidades é o grande calcanhar de Aquiles do PSD.
- Coimbra – É o caso teoricamente mais fácil. Mas para ganhar o PSD precisa de um bom candidato. Álvaro Amaro é o melhor. Mas não é seguro que troque a Guarda por Coimbra. Bem pelo contrário.
- Porto – É muito difícil bater Rui Moreira. Mesmo assim, o PSD também não ajuda. O candidato pré-escolhido é um desconhecido (Álvaro Almeida). Pode ser competente mas ninguém o conhece. É uma confissão de derrota. Um candidato para cumprir calendário. É atirar com a toalha ao chão. O PSD tinha obrigação de escolher melhor.
- Lisboa – É um enigma. Ainda ninguém percebeu o que quer o PSD. Anunciou há 2 semanas que queria fazer negociações com o CDS. Ao mesmo tempo, Passos continua à procura de um candidato próprio. Um dos seus vice-presidentes até sondou recentemente Paulo Rangel para candidato a Lisboa. O PSD parece o hesitante no meio da ponte. Nem para cá, nem para lá.
- Conclusão: o PSD corre o risco de não recuperar nenhum grande município. E isso tem um problema: sem ganhar algumas grandes cidades, torna-se muito mais difícil ganhar eleições legislativas.
- Se perder as autárquicas, Passos Coelho aguenta-se como líder?
- Em relação a Passos Coelho, os eleitores do PSD têm sentimentos contraditórios: por um lado, têm uma dívida de gratidão por aquilo que ele fez no Governo; por outro lado, têm a sensação de que neste novo ciclo o PSD não volta a ganhar eleições com Passos Coelho na liderança.
- No momento da verdade, quem ganha? A gratidão ou o pragmatismo? Tenho para mim que o decisivo serão as sondagens.
- Imaginemos uma disputa Passos – Rio. Se as sondagens disserem que Rio é o melhor para vencer Costa, os militantes tenderão a escolher Rui Rio. Se as sondagens forem favoráveis a Passos, o líder actual ganhará. É sempre assim. É o pragmatismo e o desejo de ganhar.
- Mas isso só será em 2018. Rui Rio já veio dizer que não quer Congresso este ano, para não prejudicar as autárquicas e Passos, se o fizesse, corria riscos enormes.
- Vamos ter crise política provocada por PCP e BE?
- Não vamos ter qualquer crise política em 2017. De resto, o mais provável é o Governo cumprir o mandato de 4 anos.
- Claro que PCP e BE vão subir as suas críticas e as suas divergências em relação ao Governo (exemplos – leis laborais e aumento dos dias de férias). Mas sem consequências. Eles sabem que se provocassem uma crise davam uma maioria absoluta a António Costa.
- Ou seja, o grande trunfo de António Costa é a sua popularidade muito alta. Isto dá-lhe um grande espaço de manobra. Condiciona os seus parceiros de coligação. A vai lançá-lo para o objectivo de ter em 2019 uma maioria absoluta.
- Marcelo vai manter uma alta popularidade?
- Marcelo deve manter em 2017 o mesmo registo de 2016. Uma política de proximidade com as pessoas; uma presidência interventiva; uma boa cooperação institucional com o Governo; e seguramente uma alta popularidade.
- A grande força de Marcelo é mesmo essa: a sua ligação ao povo. Dá-lhe poder e está-lhe na massa do sangue. Ele é autêntico nesta relação com as pessoas.
- Tem vantagem, porém, no segundo ano do seu mandato, em ser mais selectivo e mais contido do que tem sido até agora. Escolher bem os momentos em que fala e os assuntos de que fala. Primeiro, para não cansar. Depois, par não banalizar.
- A economia vai crescer mais do que em 2016?
- Vai crescer um pouco mais, fruto da conjuntura externa ligeiramente manos adversa e da aplicação dos fundos estruturais.
- Mas continuará a ser um crescimento anémico (1,4% ou 1,5%).
- É certo que António Costa em 2017 vai virar-se a sério para a economia; para as empresas; para a diplomacia económica (vai agora fazer uma viagem de 10 dias à Índia, aos Emiratos e à Arábia Saudita, à procura de investimento).
- Mas os resultados não serão nem fáceis nem imediatos. Falta confiança e faltam reformas. A habilidade política não chega para atrair investimento.
- Os grandes problemas do Governo vão ser: a dívida, que não pára de crescer; o BCE que vai começar a fechar a torneira; e o excesso de consumo, que vai criar desequilíbrios externos.
- A extrema-direita vai crescer nas eleições de França e Alemanha?
- Em França, o mais provável é que Marine Le Pen passe à 2ª volta das presidenciais mas perca na 2ª volta.
- Na Alemanha, apesar do desgaste, Merkel deverá voltar a ganhar. Mas a extrema-direita (o partido Alternativa para a Alemanha), pela primeira vez, poderá eleger Deputados para o Parlamento alemão.
- O caso mais sério é na Holanda. O partido de extrema-direita está à frente nas sondagens e pode ganhar as eleições legislativas.
- E ainda podemos ter eleições em Itália. Com o risco de um antigo palhaço (Beppe Grilo) poder ganhar eleições.
- Em conclusão: hoje em dia, cada eleição na Europa é um susto, uma angústia e um pavor. O susto da extrema-direita e o medo do populismo. É o estado a que chegou a Europa.
- Como vai ser a Europa com o Brexit já em curso?
- Em 2017 a Europa faz 60 anos. Mesmo assim não haverá muito para festejar e a Europa será em 2017 igual a 2016. Nada de importante mudará.
- Vai haver maior coordenação económica? Não. Vai haver flexibilidade do Pacto de Estabilidade? Não. Vai haver alguma mutualização da dívida? Não. Vai haver reforço do orçamento da Zona Euro? Não.
- É certo que haverá já em Fevereiro, no Conselho de Malta, o Livro Branco sobre o Futuro da Europa. E em Março uma declaração solene sobre o futuro da União. Mas até às eleições na Alemanha não haverá nada de novo. Novidades só em 2018 e 2019. Mais um ano perdido.
- A Administração Trump vai agravar os problemas mundiais?
- As grandes novidades em 2017 não virão da Europa. Virão, sim, dos EUA. E temo bem que as novidades não sejam positivas.
- Todos os sinais apontam nesse sentido. A composição da nova Administração; a proximidade à Rússia; o desprezo pela China; o afastamento da Europa; as políticas proteccionistas. Tudo maus sinais.
- E, sobretudo, o sinal da imprevisibilidade e incerteza de um Presidente errático e impreparado.
- O mundo e os Estados Unidos mereciam melhor.
- Portugal poderá ganhar a Taça das Confederações?
No futebol, Portugal tem dois grandes desafios em 2017:
- Primeiro, apurar-se para o Mundial de 2018 na Rússia. Julgo que está ao nosso alcance. Não podemos falhar.
- Segundo, ter uma boa actuação na Taça das Confederações (que se realiza na Rússia em Junho deste ano). Estamos num grupo relativamente acessível (com o México, a Rússia e a Nova Zelândia) e podemos passar à final. Aí o adversário mais provável é a Alemanha. Julgo que podemos voltar a surpreender.
- Jorge Jesus fica em Alvalade se o Sporting perder o campeonato?
- Este é um ano decisivo para Jorge Jesus. Quando entrou em Alvalade as expectativas subiram exponencialmente. Chegada para ser o Salvador da Pátria Sportinguista.
- O ano passado perdeu o campeonato. Se este ano voltar a perder, vai ser muito difícil manter-se em Alvalade.
- Não deixará de ser um grande treinador. Mas a estrelinha de técnico vencedor vai empalidecer. É a vida!...
Em conclusão:
- Um ano sem grandes novidades e sem grandes mudanças em Portugal e na Europa. 2017 muito igual a 2016.
- As grandes novidades e surpresas virão sobretudo dos EUA. Aí estará o epicentro político em 2017. Trump será o centro das atenções.
NOTAS FINAIS
- Uma boa decisão – A decisão do Governo de aprovar um plano de reabilitação do património cultural, concessionando dezenas de edifícios de valia cultural ao sector privado.
- Surpresa por ser um Governo de esquerda a fazer concessões ao sector privado.
- Surpresa porque significa que alguém se lembra da importância de recuperar o nosso património cultural, às vezes tão abandonado.
- Parabéns ao Ministro da Cultura.
- Uma má decisão – A concessão de subsídios extraordinários a várias Câmaras socialistas em ano pré-eleitoral.
- Cheira a frete eleitoral.
- Todos os governos têm pecados e pecadilhos em matéria eleitoral.
- Mas este prometeu ser diferente. E afinal está a seguir um mau caminho. O caminho da politiquice eleitoral.
- Novo Banco – Duas informações importantes:
a) A primeira é que será nesta primeira semana de janeiro que o Banco de Portugal vai tomar a sua decisão, que depois remeterá ao Governo para o veredicto final;
b) A segunda é que há uma pequena reviravolta no processo:
- Os chineses, que tinham a proposta melhor, não vão ganhar. Afinal, não conseguiram apresentar as garantias necessárias;
- Assim sendo, a proposta do Banco de Portugal apresentará certamente como vencedor o candidato seguinte – os americanos da Lone Star.