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Opinião
22 de Maio de 2017 às 21:03

Quem e como

A habilidade de quem governa não substitui a justificação racional, programática e estratégica, de como governa.

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A FRASE...

 

"Não que eu perceba, ou que alguém perceba, porquê e como, mas a verdade é que os resultados são bons."

 

Olivier Blanchard, Público, 20 de Maio de 2017

A ANÁLISE...

 

Não interessa quem governa, mas sim como se governa. Há quem tenha a habilidade para ocupar o poder ajustando as suas políticas ao que for a variação das circunstâncias e das oportunidades, navegando ao sabor das correntes e dos ventos. Para quem governa assim, a cor do gato é indiferente, desde que cace ratos.

 

Exercer o poder não é o mesmo que ocupar o poder. O exercício do poder é a concretização de um sistema de objectivos, é o desenho de uma trajectória que estabelece um ponto de partida e apresenta os passos necessários para se atingir o ponto de chegada anunciado, é a mobilização da sociedade para que a rota prevista possa ser uma construção colectiva e para que as correcções de rota sejam referenciadas ao sistema de objectivos. É por isso que a habilidade de quem governa não substitui a justificação racional, programática e estratégica, de como governa.

 

Quando observadores qualificados da trajectória da economia portuguesa reconhecem que os resultados são bons, mas não percebem porquê e como (acrescentando que consideram que ninguém percebe), estão a identificar uma questão que exige reflexão.

 

Quem está a governar apoia-se numa aliança parlamentar que resulta da combinação de programas políticos que não são congruentes. Esta composição da base de apoio do poder sugeriu a designação de que quem governa é uma "geringonça", como assemblagem de partes desconformes. Todavia, o modo como governa sugere a designação diferente de "caranguejola", porque a cabeça aponta numa direcção, mas o corpo movimenta-se numa direcção diferente. O que diz não é o que faz, mas com o que faz obtém resultados superiores aos que teria se tivesse feito o que dizia - mas se não tivesse dito o que disse, não teria conseguido a aliança parlamentar entre programas incongruentes.

 

Quem governa não pode dizer como governa - é natural que os observadores não percebam.

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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