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04 de Novembro de 2015 às 19:50

Índice de Miséria

Draghi sabe que a inflação é fundamental para evitar a implosão financeira que se seguiria a uma segunda vaga de falências, como sabe que a arquitetura da UE já não aguenta outro abalo sísmico de proporções significativas.

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A FRASE...

 

"A queda do preço do petróleo deverá suportar o rendimento disponível real das famílias e a rendibilidade das empresas e, por conseguinte, o consumo privado e o investimento. Contudo, a retoma da procura doméstica na área do euro continua a ser constrangida pelo necessário ajustamento [financeiro] (…) e pelo lento ritmo de implementação das reformas estruturais."

 

Mario Draghi, 22 de outubro de 2015

 

A ANÁLISE...

 

O Índice de Miséria, criado por Arthur Okun, que adiciona a taxa de desemprego à taxa de inflação, consiste numa forma rápida e simples de avaliar, na perspetiva dos cidadãos comuns, a situação macroeconómica de um país ou território. Na área do euro, após cinco anos (2009-2013) de grande "miséria", o índice tem vindo a convergir para o patamar em torno do qual flutuava antes da crise.

 

Com o desemprego elevado e a reduzir-se a passo de caracol, são os baixos níveis de inflação que têm conferido algum alívio no dia a dia das pessoas, sobretudo as mais desfavorecidas. Neste sentido, por que razão está o BCE tão preocupado em fazer subir a inflação dos atuais -0,1% para valores perto de 2%, empurrando o índice de miséria para perto dos máximos de 2013? No excerto acima, Mario Draghi dá as pistas. Se a baixa inflação é um lenitivo para as pessoas, também é verdade que torna mais difícil a situação das entidades sobreendividadas, como o Estado e muitas empresas, por elevar o peso real das suas dívidas.

 

Draghi sabe que a inflação é fundamental para evitar a implosão financeira que se seguiria a uma segunda vaga de falências, como sabe que a arquitetura da UE já não aguenta outro abalo sísmico de proporções significativas. O problema é que a solução do BCE - como, aliás, dos demais principais bancos centrais - é um convite à acumulação de endividamento, fenómeno que nos levou aos níveis extremos de "miséria" de que agora estamos a recuperar. Mas qual a alternativa que preserve a moeda única e o projeto de unidade europeia?

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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