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29 de Abril de 2020 às 20:01

Aos bancos o que é dos bancos... ao Estado o que é do Estado

Para que a política monetária produza os efeitos desejados é imprescindível reintroduzir “confiança”, mesmo que artificialmente. E aqui, arrisco o tema do costume: as garantias de Estado e, se necessário, o controlo administrativo do preço das operações.

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A FRASE...

 

"Na anterior crise era parte do problema, mas agora é parte da solução."

Valdis Dombrovskis, Público, 28 de Abril de 2020

 

A ANÁLISE...

 

Confuso! Os responsáveis europeus comportam-se como se não soubessem como se processa o canal de transmissão da política monetária e que a exigência que estão a colocar aos bancos comerciais é desproporcional e despropositada. De memória curta, esquecem a lição da última crise financeira e descuram que a atividade bancária, por definição, se exerce no fio da navalha. Os bancos têm uma função social que não cabe na imaginação do comum dos mortais.

 

Como provedores de liquidez os bancos não podem, nunca, ignorar o risco de crédito. Esta é, aliás, a primeira lição de qualquer banqueiro central: raramente uma crise de liquidez tem outra origem que não seja uma crise de crédito. E, a propósito, recorde-se que o crédito é uma relação de confiança. Não acredita? veja no dicionário: "Crença, confiança, reputação de verdadeiro, de bom, de probo, de solvabilidade" (in Priberam).

 

Transparece a ideia de que o conhecimento das autoridades não vai além do multiplicador da base monetária, em que aumentando a oferta de moeda - leia-se, a compra massiva de dívida pública pelo BCE - e reduzindo o coeficiente de reservas - isto é, o alívio regulatório, além do mais, temporário - tudo se propaga facilmente à economia real, e a liquidez vai chegar ao caixa das empresas e aos bolsos dos cidadãos num ápice.

 

Não! Não é assim que se passa aquando de uma crise de crédito, ou seja, a confiança do que se vai receber no futuro se reduz à pequena parte do que se vai emprestar. No rescaldo da última crise financeira, cidadãos eleitores e contribuintes - da esquerda à direita - exigiram aos bancos peso e medida na concessão de crédito, para não ter de voltar a expiar os seus pecados: "Evitem o incumprimento."

 

Pedir aos bancos - numa injustificada obrigação moral - o alargamento do crivo dos empréstimos é arriscar outra crise de crédito, seguida de uma nova de liquidez. Para que a política monetária produza os efeitos desejados é imprescindível reintroduzir "confiança", mesmo que artificialmente. E aqui, arrisco o tema do costume: as garantias de Estado e, se necessário, o controlo administrativo do preço das operações. 

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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