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Luís Bettencourt Moniz 26 de Abril de 2016 às 20:40

Rembrandt, algoritmos e interacções 

O próximo quadro de Rembrandt foi apresentado no início deste mês. 347 anos depois da sua morte, dados, tecnologia, software e algoritmos "criaram" uma nova pintura do mestre. Ao observarmos não deixa dúvida de que o estilo é Rembrandt.

Não é uma cópia nem se pode considerar arte. Os seus criadores são algoritmos, produto da mente humana. O pincel, impressoras 3D.

 

A informação foi recolhida de 346 quadros do mestre através de digitalizações 3D. Variáveis como a cor, traço, proporções do corpo, do rosto, profundidade, texturas, modelos e composição geraram um volume maciço de dados. Milhões de padrões foram analisados e comparados. Centenas de variáveis foram correlacionadas para produzir a pintura, com um padrão reconhecível. Técnicas de "machine learning" para reconhecimento de padrões visuais, de cor e texturas, e de análise avançada de dados para a correlação de variáveis foram usadas por "data scientists" e curadores.

 

Um trabalho não muito diferente do que se faz no marketing para conhecimento de clientes, segmentação, padrões de comportamento e previsão. Por exemplo, técnicas como NBO ("Next Best Offer" - Próxima melhor oferta) e NBA ("Next Best Action" - Próxima melhor acção) utilizam algoritmos semelhantes aos utilizados no quadro Rembrandt, só que desta vez para decidir qual a melhor oferta ou a melhor campanha com o máximo retorno.

 

Os mesmos princípios são aplicados para o reconhecimento de anomalias dos nossos sinais vitais. Captura e registo de sinais dos electrocardiogramas para determinar padrões no apoio ao diagnóstico. Na prevenção de lesões da pele, dois dermatologistas desenvolveram a aplicação Skin Scan para telemóveis.

 

O reconhecimento de voz associada a "machine learning" permite ajudar os clientes nos serviços de assistência. Um exemplo nas nossas mãos é a aplicação Siri nos iPhone. Basta uns minutos com o Siri para perceber o quanto a tecnologia evoluiu desde o ELIZA, o célebre e primeiro programa de computador para interacção homem-máquina, desenvolvido em 1964 por Joseph Weizenbaum, no laboratório de inteligência artificial do MIT.

 

Há qualquer coisa que falta no próximo quadro de Rembrandt, um pequeno toque de brilho na íris, ou aquela pincelada fora do padrão que dá alma ao quadro. A criação artística é exclusivamente humana. Nas nossas interacções e transacções precisamos de alma. Saint-Exupéry escreveu que a tecnologia não nos isola dos problemas da natureza, apenas insere-nos mais profundamente neles.

 

Recursos: Projecto Next Rembrandt - www.nextrembrandt.com

 

Nota: O autor não aderiu por vontade própria ao convencionalismo do recente acordo ortográfico.

 

Responsável de Marketing no SAS Portugal

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