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15 de Janeiro de 2020 às 09:20

Porque apoio João Almeida no CDS

O CDS terá meio século de história no fim desta legislatura. É um partido nacional, solidamente das direitas democráticas, que nasceu com o regime e governou Portugal por quatro vezes.

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Segundo uma tese que por aí circula, o CDS encontra-se num beco sem saída. Tal como eu vejo a situação, à luz do que os candidatos à liderança dizem na campanha em curso, o partido tem duas saídas possíveis: ou o CDS quer corrigir os seus erros continuando a ser aquilo para que foi fundado ou acha que os seus problemas só se resolvem se se transformar noutro partido que não este; ou pressupõe que tem uma estratégia para definir ou acredita que - bem mais do que isso - tem uma questão existencial por resolver.

 

A escolha é simples: ou o CDS continua a ter as ambições de um partido grande, aberto a todas as sensibilidades da direita democrática, preocupado em contribuir para a formação de maiorias de governo, ou decide que só lhe é possível sobreviver como partido proclamatório, pequeno e homogéneo, que represente apenas uma fatia do seu eleitorado potencial.

 

Como é que o CDS quer ver o pluralismo da sua militância? Como um factor de robustez intelectual e alargamento da base eleitoral? Ou como um sinal de ambiguidade e indefinição?

 

Quem preferir as primeiras opções deste dilema, pode votar em João Almeida. É com ele que eu estou. Se preferir as segundas, tem outros candidatos. 

 

O contraste entre João Almeida e os seus adversários está bem sublinhado nas respostas de cada um às perguntas sobre a suposta ameaça e os acordos com o Chega. Só Almeida se tem recusado a dar importância ao tema. E com razão. Aceitar fazê-lo é assumir o subentendido jornalístico de que o Chega é igual ou sucedâneo do CDS. O que não é verdade.

 

O CDS terá meio século de história no fim desta legislatura. É um partido nacional, solidamente das direitas democráticas, que nasceu com o regime e governou Portugal por quatro vezes.

 

O Chega, com toda a capacidade de crescimento que possa ter, ainda é só um partido de um deputado, infiltrado por algumas figuras da direita autoritária, feito à pressão como veículo da ambição de uma celebridade pícara dos debates trauliteiros sobre futebol, que quer purificar a política mas em tão pouco tempo já acumulou um número de trapalhadas suficiente para fazer as delícias dos Andrés Venturas desta vida (incluindo uma mudança de programa só porque Fernanda Câncio escreveu uma notícia e Daniel Oliveira um artigo de opinião).

 

Além disso, nas legislativas, Ventura não teve força no país mais conservador: aí, onde o CDS é mais forte, o Chega causou um abalo que nem o sismógrafo mais sofisticado registaria. O Chega é um partido de protesto; não é um partido conservador.

 

De qualquer modo, a atracção fatal que alguns putativos líderes do CDS sentem pela conversa em torno do Chega é relevante porque é consentânea com a ideia que têm de que o desastre de Outubro é culpa dos militantes "moderados" ou "liberais". E é por isso que querem encostar o CDS o mais possível à direita.

 

É uma intenção que, de resto, vem ilustrada em público por discursos que são típicos de um pequeno partido radical e sectário. Carlos Meira fala em "desinfectar" o CDS com "baldes de lixívia". Abel Matos Santos quer "cortar com os últimos vinte e cinco anos do CDS". Francisco Rodrigues dos Santos assume-se da "nova direita" e contra os "desvios de identidade" dos últimos anos. Ou seja, quer "reposicionar" (palavra do próprio) o partido ao lado da "nova direita" - assim precisamente chamada - de Trump, Bolsonaro, Salvini, Abascal ou Orbán. E presume que há militantes matriciais e desviantes, legítimos e contaminados (isto num partido que já foi liderado por personalidades intelectualmente tão distintas como Freitas e Portas, Adriano e Lucas Pires). 

 

Conheço e aprendo há vinte anos com as qualidades de João Almeida: a inteligência, a sensatez, a cultura política, o espírito convicto mas nunca dogmático. Mas a razão fundamental do meu apoio é outra: de todos os candidatos, é ele o que quer com mais clareza um CDS alinhado com a sua vocação de abrangência. Um partido que quer agregar e não afastar, que quer falar para fora e para o futuro, não para dentro e para o passado.

 

Outros terão as suas razões. Esta é a minha. Mas uma coisa é certa: para João Almeida, todos temos lugar no CDS. Quanto aos seus adversários, nem sempre os sinais são tão encorajadores.

 

Advogado

 

Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico

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