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27 de Novembro de 2016 às 18:45

Atirar a mochila por cima do muro

Demorou um pouco, mas em Janeiro próximo Ronaldo deverá ganhar a sua quarta Bola de Ouro, aproximando-se de Messi, o seu eterno rival no Barcelona

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Nota: Este artigo está acessível, nas primeiras horas, apenas para assinantes do Negócios Primeiro.

 

Em Janeiro de 2015, no discurso do seu terceiro troféu, Ronaldo atravessou-se: "E agora espero apanhar o Messi já na próxima época." Não apanhou; ganhou Messi, outra vez. Mas o desafio ficou lançado. Ronaldo fez bem? O que ganhou ou perdeu com isso?

 

Deixem-me colocar uma questão. Suponha que numa manhã de sábado, de mochilas às costas vai de fim-de-semana, passear pelo campo. É uma estada e uma caminhada há muito pensadas. Um dia lindo, entre os montes, ar puro e vai andando. Vai-se cansando, mas está a valer a pena. Ficará numa estalagem que lhe foi recomendada por amigos. A noite cai e finalmente chega, mas depara-se com um muro; um muro alto, uns dois metros. A estalagem está toda ela rodeada pelo muro… e então lembra-se… são uns cinco quilómetros de muro… e você chegou ao lado contrário ao do portão… Vai ser mais uma hora e meia a pé. E a noite está a ficar fria e você está cansado. Que fazer?

 

Eis a resposta: atirar a mochila por cima do muro! Depois disso, salta seguramente o muro; sem a mochila às costas, vai ficar mais leve e vai ser mais fácil saltar o muro; e se não o fizer, vai apanhar mais frio, cansar-se mais e ainda perde a mochila... Atirando a mochila por cima do muro, em poucos minutos estará na estalagem.

 

Foi o que Ronaldo fez. Disse que ia apanhar o Messi já para o ano - atirou a mochila por cima do muro. Motivou-se, expôs-se, atravessou-se. E tem trabalhado para isso. Não ganhou logo, mas deve ganhar agora. É o que cada um pode fazer para ir mais e mais longe - comprometer-se, desequilibrar-se, atravessar-se, como se costuma dizer.

 

Foi o que Mourinho fez quando chegou ao Porto em 2002: "Tenho a certeza de que para o ano vamos ser campeões." Expôs-se e comprometeu-se perante os seus jogadores, o público e, mais importante, ele próprio. A partir daí tinha de dar o melhor, que progredir para vencer o desafio. Quando chegou a Londres, em 2004, o "special one" foi de novo atirar a mochila por cima do muro.

 

Fernando Santos, o treinador da nossa selecção de futebol, ganhou o campeonato da Europa sem a mochila às costas desde o primeiro dia. Disse, várias vezes, que só se vinha embora de França com a taça na mão. Sem mochila, mais leve, comprometido, com esforço, inteligência e com a equipa a comungar da mesma crença, aconteceu. Atirar a mochila não garante, evidentemente; mas ajuda.

 

Kennedy, o Presidente americano, quando nos anos 60 disse que até ao fim da década os Estados Unidos punham um homem na Lua, também atirou a mochila por cima do muro.

 

Naquela altura ainda nem se sabia de que materiais teria de ser uma nave espacial para chegar à Lua… Mas aconteceu, em 1969 a Apollo 11 chegou à Lua. Kennedy atirou a mochila por cima do muro. E Trump, o Presidente eleito dos EUA, também o fez. E ganhou.

 

Professor na Universidade Católica Portuguesa
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