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29 de Junho de 2016 às 20:20

A União Europeia: resgatar a nossa melhor criação

Ser europeísta tem significado. É ser democrata, tolerante face às diferenças e um defensor intransigente da convergência económica e social. Na linha da frente do combate por uma Europa para todos.

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A Europa viveu sempre em guerra. A paz dos vencedores sempre gerou novos conflitos. Ao reler Keynes, e as suas críticas ao resultado das negociações pós-Tratado de Versalhes, percebe-se como o esbulho dos vencedores pode alimentar rancores, ódios e desconfiança que na pobreza encontram o lastro único para proliferar. A CECA, a CEE e a União Europeia foram criações numa nova arquitetura política do pós-guerra, onde a vida - a experiência de vida - mostrou que o caminho se faz de partilha, convergência e segurança comum. Que o conhecimento e a interação castram os preconceitos e que o desenvolvimento alimenta a harmonia e a paz.

 

Hoje, perante a globalização das comunicações e das trocas, a Europa continua a ser o espaço político onde mais se defende o direito do trabalho, da participação cívica e política, da defesa do ambiente e da sustentabilidade. A força política das sociedades civis da União Europeia continua a ser o motor de melhor legislação e de um escrutínio democrático único no globo. Não encontramos outra sociedade no mundo onde um tratado de investimento e comércio, como é o caso do TTIP, seja tão escrutinado ou mesmo questionado como na União Europeia.

 

A União Europeia é a melhor criação que a política alguma vez concretizou na Europa. A União Europeia é um património político único. Tem a genética certa: paz e tolerância em democracia. Querer abandonar não resolve problemas. Cria mais problemas, reacende velhas questiúnculas autárquicas e faz do preconceito um alimentador da demagogia. Quem combateu a União Europeia nunca - sublinho nunca - esteve do lado certo da democracia e da prosperidade dos povos europeus. Quem esteve contra a União Europeia combateu sempre o socialismo democrático e a democracia-cristã. Foi isso que sempre combateu a extrema-direita nacionalista, tradicionalista, conservadora e fascista; e foi isso que sempre combateu a extrema-esquerda antissistema, anticapitalista e antiglobalização.

 

Ser europeísta tem significado. É ser democrata, tolerante face às diferenças e um defensor intransigente da convergência económica e social. Na linha da frente do combate por uma Europa para todos.

 

Mas ser europeísta hoje não é ser, ao mesmo tempo, acrítico face às iniciativas políticas que geram divergência, que alimentam preconceitos, e aplicam "castigos moralizadores" aos países do Sul, dando voz e secundando, por mero interesse de circunstância, os argumentos mais xenófobos e etnocêntricos. Cameron quis ganhar eleições, não combateu os argumentos anti-Europa, e ofereceu a "cabeça" da participação no projeto europeu numa "bandeja". Não é caso único.

 

No PPE - Partido Popular Europeu, dos outrora democratas-cristãos - surgem antieuropeístas, xenófobos, com discursos capturados por argumentos de extrema-direita, que há 20 anos estavam nas margens da sociedade não representada nos parlamentos. E o S&D, o grupo socialista, vive uma rutura profunda por não conseguir que a sua agenda seja vencedora encostando-se ora mais à direita, ora mais esquerda; mas quase sempre "colonizado" ideologicamente e sem iniciativa própria. É urgente regressar à política europeia para os europeus. É preciso resgatar a nossa agenda - dos socialistas e democratas-cristãos - da economia social de mercado. É agora ou (talvez) nunca.

 

Deputado do Partido Socialista

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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