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Viceroy Creative, Sagmeister & Walsh: nudez de publicitários

Uma agência de publicidade norte-americana decidiu mudar de nome e de "identidade". Para isso, os seus líderes fizeram dieta rigorosa e exercício físico durante cinco meses, com o objectivo de, no final, se fotografarem despidos. E, pronto!, já está! Temos nova "identidade"!

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O Mode Design Group passou a Viceroy Creative: conseguiu assim aparecer em media de todo mundo à borla: escreveram-se artigos e reproduziram-se as fotos dos modelos publicitários, modelos de si mesmos. Cá estou eu, também, escrevendo sobre o momentoso assunto.

 

As fotografias mostram os quatro nas instalações da agência. Um deles não se despiu. Pelo contrário, aperaltou-se de fato cinzento e gravata. Diz que foi por  ser "conservador". Pode ser. Mas a ideia de ficar vestido serve igualmente para não deixar fugir eventuais clientes que torçam o nariz à "modernice" dos colegas, que se puseram em pêlo, besuntaram-se e posaram para as fotos.

 

Pôr-se a nu não é novidade na publicidade. Os franceses já andam nessa há décadas, incluindo nu masculino integral. Os americanos, mais pudicos na comunicação pública, por herança puritana, chegaram mais tarde a esta forma de chamar a atenção, que é o objectivo primordial. O publicitário Stefan Sagmeister fotografou-se nu há 19 anos, mas apenas para um postal que enviou aos clientes. Agora fez o mesmo com a sua nova sócia, de novo em nudez total. Os de Viceroy reconheceram ter plagiado a ideia de Sagmeister.

 

A campanha de Viceroy, mais as que se fazem com outros modelos despidos, têm um traço comum: a nudez nunca é total: mostra rabiosques e maminhas, mas não vaginas e pénis (excepto um anúncio de Yves Saint Laurent, de 1971, ou os postais de Sagmeister). Acontece o mesmo com as fotos "ousadas" e "sensuais" de celebridades e modelos: a nudez nunca é total, amiúde as meninas até as maminhas tapam. Acontece também no "portfolio" de Viceroy: ou escondem a genitália com as mãos, pernas, braços, livros, telemóveis, ou sobrepõem uma barra preta tapando as partes pudibundas. Este elemento é revelador de que o interdito da nudez ainda não foi verdadeiramente ultrapassado.

 

Os fotografados estão de facto nus quando são fotografados, mas a nudez total não é mostrada pelas fotografias (o que também sucede no caso do futebolista Ricardo Quaresma na recente capa da revista "Cristina"). Extraordinário é que observadores, jornalistas e comentadores confundam a nudez mostrada - incompleta - com nudez total. Confunde-se a realidade com a imagem da realidade. Todas as notícias que li sobre este caso ou sobre todos os anteriores falam em "nudez total" por uma segunda razão: isso serve a ideia de "ousadia" e de "polémica".

 

O outro aspecto relevante da campanha de Viceroy, bem como da de Sagmeister & Walsh, é o exibicionismo dos publicitários, que os leva a exibirem-se no seu marketing, em vez de mostrarem as suas criações, como fazem todas as marcas. Este exibicionismo, aumentado pela nudez, está muito em linha com o que sucede na sociedade contemporânea. A expressão "não caber em si" é muito verdadeira: quando uma pessoa não cabe em si, por excitação e alegria no meio da multidão, ou por se achar "enorme" por dentro e/ou por fora, sente que as roupas estão a mais. É ver os que se despem nos estádios, nas festas da bola no Marquês  ou até aqueles cromos que saltam nus para o relvado. É ver, também, o número crescente de turistas que se fotografam nus em monumentos e sítios patrimoniais em todo o mundo. É ver os "protestos" com manifestantes seminus. O que é esse fotografar-se nu senão o "não caber em si" reunido ao crescente exibicionismo do indivíduo empoderado da sociedade do espectáculo? 

 

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