Opinião
A abelha atarefada
Pau que bate em Chico bate em Francisco. Se nos dias de hoje quem tem 38 pode se portar como se tivesse 18, qual o mal de afirmar que os 50 são os novos 30?
As cronologias das idades mudaram. Fruto do aumento da longevidade de vida, do incremento das ofertas e demandas de lazer e do advento dessa coisa maravilhosa, tão fim do século passado e mesmo assim ainda tão em moda, que é a procura da felicidade, quem é cinquentão (ou, melhor dizendo, cinquentinha) pode (e deve) ter a cabeça de jovem. Até porque é.
Com um pouquinho de sorte, vamos todos chegar fácil aos 80. Aos 90, para aí quase a metade de nós. Aos 100, os não fumadores de boa genética e consumo de álcool moderado, residentes de países salubres e nada violentos como o nosso (leitores brasileiros, não tomem isto como uma ironia).
Daí que quando há exatos cinco anos convidaram-me para sair da minha reforma na praia e regressar a Portugal para recomeçar a minha história profissional, apesar da necessária ponderação, rapidamente conclui que ninguém deve dar a sua vida profissional por encerrada antes dos 50, mesmo que possa.
Há aqui um choque de narrativas e de gerações.
Espécimes como eu, borderlines da Geração X, quase baby boomers, têm a tendência a valorizar coisas fora de moda como trabalho árduo, meritocracia, produtividade e até mesmo, vejam só, cidadania (no sentido que cada um deve continuar a ter um papel ativo na sociedade enquanto puder).
Essa conversa não colhe com quem tem menos de 40. Inventado que foi um novo escalão sociodemográfico, a pós-adolescência (período que começa aos 19 e vai até onde a pessoa decidir), trabalhar tornou-se algo a se evitar.
Muito já se escreveu sobre o trabalho. Voltaire dizia "O trabalho poupa-nos de três grandes males: tédio, vício e necessidade". Já Henry Ford afirmou: "Pensar é o trabalho mais difícil que existe. Talvez por isso tão poucos se dedicam a ele." E o que dizer desta frase atribuída a Leonardo da Vinci: "Que o teu trabalho seja perfeito para que, mesmo depois da sua morte, ele permaneça."
Não quero ficar para a posteridade. Ter prazer no meu trabalho do dia a dia já está de bom tamanho. Acho que é o que todos deveriam querer.
Ou como diria o meu Tio Olavo: "A abelha atarefada não tem tempo para a tristeza."
Publicitário e Storyteller