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24 de Agosto de 2017 às 20:45

Terrorismo - a estratégia

Já hoje convivemos com terramotos, tsunamis, derrocadas, inundações, grandes incêndios, grandes acidentes, tudo imprevisível como os atos terroristas e não muito diferente nos efeitos.

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Como em Israel, alteraremos a maneira de estar, adaptando-nos. Nem o Hamas imagina que o terrorismo fará os judeus abandonarem Israel, nem o Daesh cogita subordinar os governos europeus às suas exigências de domínio cultural e espiritual. O terrorismo é uma estratégia de longo prazo e que, não o entendendo nós, receio que saia vencedora.

 

O porquê do terrorismo do Hamas em Israel é muito claro: impedir a convivência dos dois povos em causa. Se está perto um acordo, recrudescem os atentados. Cruéis, para obter impacto.

 

Um autocarro com crianças queimadas no seu interior, ou uma família inteira dizimada numa festa de casamento são dois de que me lembro. As consequências em Israel são ressentimento, repressão, violência e injustiças que atingem inocentes palestinos e alimentam nestes o sentimento de revolta. Resultam novos atentados, originando mais vingança, mais injustiças.

 

Como disse Sadat, os palestinos nos campos de refugiados (700 mil, que os países árabes não receberam) seriam a arma secreta dos países árabes, incapazes de vencer Israel nas quatro guerras de 1948 a 1967. Hoje, 50 anos mais tarde, são três milhões. Ressentidos em relação aos ocupantes de terras que eram suas, foi fácil mobilizá-los.

 

Umas poucas armas que lhes forneceram, bombas fabricadas localmente, o equipamento de um terrorista não é sofisticado. Começou assim. Hoje já têm mísseis.

 

Os judeus, tal como os árabes da Palestina, ao lutar por um território, lutam pela sua identidade. A dos judeus, formatada pelo mito fundador da religião judaica: o êxodo, a fuga do Egito, conduzidos por um deus que os escolheu e ofereceu a Palestina para aí se instalarem. Como está na Torah e no Corão.

 

Expulsos pelos romanos no ano 70 e dispersos pelo mundo preservaram surpreendentemente a sua identidade. E não esqueceram o regresso, exprimindo o voto "no ano que vem em Jerusalém", com que durante 2.000 anos, os judeus da diáspora terminam a refeição de Páscoa.

 

Voltemos à estratégia. Dois povos que não podem deixar de se odiar como resultado de muitos anos de atentados, por um lado, e repressão, injustiças e opressão por outro. Que não vão parar. O objetivo é não deixar esquecer, preservando a identidade e confiando na demografia.

 

Os atentados islamitas na Europa obtêm um efeito similar de separação, com a reação das populações visadas pelos atentados e de outras onde há uma presença de muçulmanos, isolando as comunidades islâmicas. Que assim se distanciam da cultura (sobretudo dos costumes) e preservam a identidade, um objetivo claro da estratégia.

 

O Islão radical encontra essas comunidades nos países ricos da Europa, com uma vivência muitas vezes miserável, num processo difícil de integração, vítimas de rejeição, que sentem como uma profunda injustiça. Refugiam-se na religião que, sendo o Islão, lhes dá o conforto de um guia completo de vida e uma identidade.

 

Alvos fáceis para o radicalismo que exige o rigor e a severidade com que interpretam o Islão vivenciado pelos muçulmanos nas comunidades que formaram, e imunes à degradação evidenciada, a seu juízo, pelos costumes ocidentais. Sem perder de vista o poder. Já é lei a "sharia" em algumas áreas de cidades europeias…

 

A prática democrática dos países ocidentais não proporciona meios de evitar a pregação de discursos de ódio visando marcar os destinatários como antagonistas das populações dos países em que vivem - a separá-los.

 

Os mais desadaptados acabam sublimando as suas frustrações em ódio contra a civilização diferente, terreno para recrutar combatentes, que executarão novos atentados. Logo, mais discriminação e mais injustiças, que alimentarão ressentimentos, a dar razão ao radicalismo da pregação.

 

As organizações das comunidades já integradas são apoiadas como forma de tentar o enquadramento dos muçulmanos a quem repugna a integração e acabam ganhando influência política. Sendo muçulmanos, não deixarão de refletir isso no que propõem.

 

Não é preciso ir tão longe como Michel-Houellebecq na "Submissão", obra simultaneamente visionária e realista, para perceber que as sociedades ocidentais iniciarão o caminho das concessões nos princípios e nos costumes.

 

Já hoje o estão fazendo, localmente. Sem cedências mútuas porque em confronto estão, por um lado, o Islão, que não tem margem de cedência; e, por outro, o Ocidente, que perdeu todas as referências, onde tudo é posto em causa sem resistência, com o fundamento das liberdades individuais.

 

Pode é o processo não ser completamente pacífico. Há fundamentalismos nacionalistas identitários que estão aflorando com um potencial de violência perigoso.

 

Economista

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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