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06 de Janeiro de 2017 às 13:00

Recapitalização à portuguesa

Análise após análise, governo após governo, as conclusões permanecem semelhantes sobre a necessidade premente de recapitalizar a Caixa Geral de Depósitos (CGD). Os valores, esses, diferem, mas sempre crescentes e extremamente preocupantes para um país frágil como Portugal.

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Como se a existência do problema já não bastasse, a União Europeia (UE) não facilita nas soluções. Em vez de estar sensível à necessidade de recapitalizar bem a banca europeia, para que esta possa estar preparada para cumprir o seu papel no financiamento à economia, à criação de condições para catalisar o investimento e poder lidar com problemas no futuro numa UE com crescimento ténue, eis que esta centra as suas energias no apertado controlo dos rácios públicos e no cego cumprimento dos tratados e regras europeias, como se de uma verdade absoluta se tratasse.

 

A grande diferença da UE para os Estados Unidos da América (EUA) é que estes cedo, entre 2008 e 2011, exigiram aos seus bancos que procedessem a fortes recapitalizações dos seus capitais que, percentualmente, muitas vezes foram 300%, 500% e até 1.000% superiores às verificadas na Europa nesse período e em anos subsequentes. Quer isto dizer que, enquanto a banca europeia se recapitaliza numa mentalidade do estritamente necessário e se debate com reguladores europeus que dificultam esse trabalho, nos EUA estes prepararam-se para o pior cenário, assim como asseguraram o futuro e o financiamento à economia.

 

Estes factos justificam parcialmente a forma lenta como a UE tem vindo a recuperar versus a recuperação económica a que se assiste nos EUA, mas também exibem o seu "modus operandi" que do ponto de vista de quem observa de fora da Europa, aparenta ser pouco definitivo e porque não, por vezes, pouco claro e equitativo. Observe-se, por exemplo, as informações que têm vindo a público sobre alguns dos maiores bancos alemães, que a serem confirmadas, poderão por em causa novamente a estabilidade de todo o sistema financeiro europeu e mundial.

 

Está na altura de Portugal e a UE se capacitarem que os problemas estruturais se resolvem com medidas de fundo e que, nestas alturas, algumas das regras "teóricas" criadas noutros tempos e noutra conjuntura terão de ser colocadas em segundo plano por um período de tempo razoável ou mesmo de ser revistas, face à nova realidade económico-financeira da Europa e do mundo.

 

Recapitalizem-se os bancos como deve ser, pois estes são a base da economia capitalista na qual todos vivemos, quer se queira quer não. Não andemos com soluções intermédias e parciais a cada meia dúzia de meses, desgastando o povo português e a imagem de Portugal no exterior, através de meias-medidas populistas, mas pouco eficientes. Tratando-se a CGD de um banco que é uma referência a nível nacional, e em que o Estado é o principal acionista, faz sentido que este esgrime e esgote todos os argumentos junto da UE e reguladores para que a recapitalização seja feita de forma eficiente e definitiva. Fala-se agora em várias fases de recapitalização e em valores inferiores aos já conhecidos de todos. Isto não ajuda à credibilização externa, especialmente quando existem agências de notação de "rating", como a DBRS, que, isoladamente, sustentam Portugal no último nível de investimento. Este facto permite ao país continuar a beneficiar das facilidades e ferramentas de política do BCE, mas também permite à referida agência de "rating" perpetuar-se neste papel por um período alargado, dada a notoriedade e o protagonismo que, de outra forma, não teria.

 

Os problemas existem e têm de ser resolvidos, haja a coragem política de os reconhecer, mas também de os expor de forma séria e direta à UE, procurando zelar pelos interesses dos cidadãos portugueses e não pelos índices de popularidade junto destes, já que desta forma historicamente está demonstrado, nos sairá, sempre, mais caro.

 

Economista

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico 

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