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17 de Julho de 2016 às 19:00

O "after" Brexit

Como se de um terremoto se tratasse, os resultados do referendo no Reino Unido (RU) fizeram-se sentir nos mais diversos domínios da sociedade e da própria economia.

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Réplica atrás de réplica, até os mais acérrimos defensores da saída do RU da União Europeia (UE) têm agora muitas dúvidas e muitos receios que, aparentemente, não detinham alguns dias antes do referendo. Falta de informação, puro desconhecimento ou mesmo emoção poderão ter estado na mente dos britânicos que pensaram que o simples facto de serem a 5.ª maior economia do mundo seria suficiente para que os impactos de uma eventual saída não se fizessem sentir.

 

Na verdade, desfazer uma ligação com mais de 43 anos de existência não aparenta ser tão simples quanto alguns faziam crer.

 

Desde a queda acentuada e abrupta da libra, à fuga de capitais da capital londrina para outros destinos, à suspensão de negociação de alguns dos maiores fundos de investimento imobiliários com ativos no RU, decisões de investimento suspensas indefinidamente, projetos cancelados… Este é o cenário de absoluta incerteza em que se encontra um país que, com esta decisão, "acordou" alguns eurocéticos e deu novo alento a discussões públicas sobre "permanência" nos restantes países-membros.

 

Teoricamente parecem existir duas formas desta separação se processar: a primeira, baseada na replicação de alguns acordos já existentes com países parceiros da UE, tal como por exemplo, Suíça, Noruega, Islândia e, replicá-los em certa medida, facilitando as negociações para ambas as partes, dada a existência prévia de situações semelhantes com a UE, que aparentemente, funcionam. A segunda possibilidade, que na verdade aparenta ser aquela que o rumo dos acontecimentos está a tomar, assenta na premissa de fazer da saída do RU um exemplo, evitando que outros Estados-membros equacionem um comportamento similar, adotando medidas que dificultam ou penalizam quem está de saída.

 

Exemplos do que se pode chamar "retaliação" da UE, estão à vista de todos, como França que se assumiu, publicamente, como uma alternativa para a sediação do setor financeiro ou a Alemanha que prepara um conjunto de medidas para atrair as start-ups, entre outras empresas inglesas. A par deste cenário, o RU enfrenta já uma eventual crise imobiliária, com uma quebra de procura e de preços e, uma previsível nova retração no consumo. Empresas de dimensão global dos mais diversos setores equacionam a mudança de sede, contando com o apoio das maiores empresas de consultoria do mundo, que dispõem já, de oferta específica nesse sentido.

 

A par de tudo isto, o RU terá de dinamizar acordos bilaterais com os seus denominados mercados naturais (EUA, Índia, África do Sul e alguns países asiáticos), como forma de estimular a sua economia.

 

Apesar de estarmos a assistir a taxas de juros historicamente baixas, facto muito favorável para muitos analistas britânicos, poderá não ser suficiente para contrapor o aumento do prémio de risco do RU e as incertezas sobre os custos da saída da UE, isto é, a descida do "rating" do RU poderá consumir todo e qualquer "benefício" que exista com as taxas de juro baixas.

 

Estamos perante um cenário de elevado grau de incerteza, num ambiente de crispação, onde nos esperam provavelmente anos de negociações que poderemos, certamente, denominar como as mais complexas da história económica da UE e do RU.


Economista

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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